Identificação de médicos sob risco de queixas recorrentes: um estudo nacional sobre as queixas no cuidado de saúde australiano
Objetivos: (1) Determinar a distribuição das queixas formais de pacientes contra médicos na Austrália e (2) identificar as características dos médicos sob maior risco de receber queixas recorrentes.
Métodos: Reunimos uma amostra nacional de todas as 18.907 queixas formais de pacientes feitas contra médicos através das ouvidorias (“Comissões”) dos serviços de saúde australianos ao longo de um período de 11 anos. Analisamos a distribuição das queixas entre os médicos que exercem a profissão. A seguir, utilizamos a análise de sobrevida de eventos recorrentes (recurrent-event survival analysis) para identificar as características dos médicos sob maior risco de queixas recorrentes e para estimar o risco individual de cada médico de receber queixas futuras.
Resultados: A distribuição das queixas entre os médicos foi extremamente desigual: 3% dos médicos da Austrália receberam 49% das queixas, e 1% recebeu um quarto das queixas. O risco de recorrência a curto prazo variou consideravelmente entre os médicos: houve uma forte relação dose-resposta em relação ao número de queixas prévias, além de diferenças significativas segundo a especialidade e o sexo do médico. No âmbito individual do profissional, os riscos variaram amplamente: enquanto alguns médicos apresentaram um risco <10% de receber novas queixas num período de 2 anos, outros tiveram um risco >80%.
Conclusões: Um pequeno grupo de médicos foi responsável pela metade de todas as queixas apresentadas por pacientes junto às Comissões australianas. É possível prever quais médicos apresentam maior risco de receber queixas no futuro próximo. O uso disseminado desta abordagem para identificar médicos sob risco mais elevado e para direcionar as iniciativas de melhoria da qualidade, associado à implementação de intervenções efetivas, poderia ajudar a reduzir a ocorrência de eventos adversos e a insatisfação dos pacientes nos sistemas de saúde.
Objectives: (1) To determine the distribution of formal patient complaints across Australia's medical workforce and (2) to identify characteristics of doctors at high risk of incurring recurrent complaints.
Methods: We assembled a national sample of all 18?907 formal patient complaints filed against doctors with health service ombudsmen (‘Commissions’) in Australia over an 11-year period. We analysed the distribution of complaints among practicing doctors. We then used recurrent-event survival analysis to identify characteristics of doctors at high risk of recurrent complaints, and to estimate each individual doctor's risk of incurring future complaints.
Results: The distribution of complaints among doctors was highly skewed: 3% of Australia's medical workforce accounted for 49% of complaints and 1% accounted for a quarter of complaints. Short-term risks of recurrence varied significantly among doctors: there was a strong dose-response relationship with number of previous complaints and significant differences by doctor specialty and sex. At the practitioner level, risks varied widely, from doctors with <10% risk of further complaints within 2?years to doctors with >80% risk.
Conclusions: A small group of doctors accounts for half of all patient complaints lodged with Australian Commissions. It is feasible to predict which doctors are at high risk of incurring more complaints in the near future. Widespread use of this approach to identify high-risk doctors and target quality improvement efforts coupled with effective interventions, could help reduce adverse events and patient dissatisfaction in health systems.
