Incidência de eventos adversos em um hospital italiano de cuidado agudo: resultados de um método de coorte retrospectivo em duas fases

SOMMELLA, L. ; WAURE, C. ; FERRIERO, A. M. ; BIASCO, A. ; MAINELLI, M. T. ; PINNARELLI, L. ; RICCIARDI, W.
Título original:
The incidence of adverse events in an Italian acute care hospital: findings of a two-stage method in a retrospective cohort study
Resumo:

Contexto: A promoção de intervenções de saúde mais seguras em hospitais é um importante tema de saúde pública. Este estudo teve por objetivo investigar preditores de eventos adversos (EAs), levando em consideração o Índice de Charlson, a fim de controlar os vieses de confundimento relacionados às comorbidades.

Métodos: Estudo de coorte retrospectivo baseado numa ferramenta de avaliação em duas fases, utilizada para identificar EAs. Na fase 1, dois médicos revisaram uma amostra aleatória de prontuários de 2008 pacientes que receberam alta hospitalar. Na fase 2, os revisores avaliaram de forma independente cada prontuário selecionado na fase 1 para confirmar a presença dos EAs. Análises univariadas e multivariadas foram conduzidas para identificar fatores prognósticos dos EAs. As variáveis sociodemográficas e algumas variáveis organizacionais importantes foram consideradas na análise.  O Índice Charlson para comorbidades foi calculado com base no algoritmo desenvolvido por Quan et al.

Resultados: No total, foram revisados 1501 prontuários de pacientes. A idade média dos pacientes foi de 60 anos (DP: 19) e 1415 (94,3%) pacientes eram italianos. Foram identificados 46 (3,3%) EAs. A maior parte destes ocorreu em enfermarias clínicas (33; 71,7%), seguidas das enfermarias cirúrgicas (9; 19,6%) e da unidade de terapia intensiva (UTI) (4; 8,7%). De acordo com o modelo de regressão logística e fazendo o controle para o Índice Charlson, as seguintes variáveis estiveram associadas aos EAs: tipo de internação (emergência vs. eletiva: OR 3,47; IC 95%: 1,60-7,53), enfermaria da qual o paciente recebeu alta (enfermarias cirúrgicas e UTI vs. enfermarias clínicas: OR 2,29; IC 95%: 1,00-5,21 e OR 4,80; IC 95%: 1,47-15,66, respectivamente) e tempo de internação (OR 1,03; IC 95% 1,01-1,04). Dentre os pacientes que sofreram EAs, observou-se uma maior frequência de pacientes idosos (?65 anos) (58,7% vs. 49,3% entre pacientes sem EAs), mas essa diferença não foi estatisticamente significativa. É interessante notar que, entre os pacientes que sofreram EAs, foi encontrado um maior percentual de pacientes internados pelo serviço de emergência (69,7%, vs. 55,1% entre os pacientes sem EAs).

Conclusões: A incidência de EAs esteve associada ao tempo de internação, ao tipo de internação e à unidade da qual o paciente teve alta, independentemente das comorbidades. Com base nesses resultados, observa-se que características organizacionais, fazendo-se o ajuste para comorbidades, parecem ser os principais fatores responsáveis pela ocorrência de EAs, enquanto a vulnerabilidade dos pacientes desempenha um papel secundário.

Palavras-chave: risco clínico, hospital, internação comum, Índice Charlson, comorbidade

Resumo Original:

Background: The promotion of safer healthcare interventions in hospitals is a relevant public health topic. This study is aimed to investigate predictors of Adverse Events (AEs) taking into consideration the Charlson Index in order to control for confounding biases related to comorbidity.

Methods: The study was a retrospective cohort study based on a two-stage assessment tool which was used to identify AEs. In stage 1, two physicians reviewed a random sample of patient records from 2008 discharges. In stage 2, reviewers independently assessed each screened record to confirm the presence of AEs. A univariable and multivariable analysis was conducted to identify prognostic factors of AEs; socio-demographic and some main organizational variables were taken into consideration. Charlson comorbidity Index was calculated using the algorithm developed by Quan et al.

Results: A total of 1501 records were reviewed; mean patients age was 60 (SD: 19) and 1415 (94.3%) patients were Italian. Forty-six (3.3%) AEs were registered; they most took place in medical wards (33, 71.7%), followed by surgical ones (9, 19.6%) and intensive care unit (ICU) (4, 8.7%). According to the logistic regression model and controlling for Charlson Index, the following variables were associated to AEs: type of admission (emergency vs elective: OR 3.47,

95% CI: 1.60-7.53), discharge ward (surgical and ICU vs medical wards: OR 2.29, 95% CI: 1.00-5.21 and OR 4.80, 95% CI: 1.47-15.66 respectively) and length of stay (OR 1.03, 95% CI 1.01-1.04). Among patients experiencing AEs a higher frequency of elderly (?65 years) was shown (58.7% vs 49.3% among patients without AEs) but this difference was not statistically significant. Interestingly, a higher percentage of patients admitted through emergency department was found among patients experiencing AEs (69.7% vs 55.1% among patients without AEs).

Conclusions: The incidence of AEs was associated with length of stay, type of admission and unit of discharge, independently by comorbidity. On the basis of our results, it appears that organizational characteristics, taking into account the adjustment for comorbidity, are the main factors responsible for AEs while patient vulnerability played a minor role.

Keywords: Clinical risk, Hospital, Ordinary admission, Charlson index, Comorbidity

Fonte:
BMC Health Services Research ; 14(358): 2014. DOI: 10.1186/1472-6963-14-358.
DECS:
comorbidade, serviço hospitalar de emergência, auditoria médica, erros médicos, segurança do paciente, estudos retrospectivos