Taxa de complicações relacionadas à anestesia

Fonte:
Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ); Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD); Safety Improvement for Patients in Europe (SIMPATIE).
Definição:

Casos de efeitos adversos anestésicos, ou intoxicação anestésica (registrados nos diagnósticos secundários) por 1.000 altas cirúrgicas de pacientes com 18 anos ou mais de idade, ou internações obstétricos.

Nível de Informação:

Resultado

Dimensão da Qualidade:

Segurança

Numerador:

Altas com diagnósticos da Classificação Internacional de Doenças(CID) de efeitos adversos anestésicos, ou intoxicação anestésica, registrados nos diagnósticos secundários, dentre os casos que preencham os critérios de inclusão e exclusão do denominador.

Códigos da CID-10:

Y48.0 Efeitos adversos de anestésicos por inalação

Y48.1 Efeitos adversos de anestésicos por via parenteral

Y48.2 Efeitos adversos de outros anestésicos gerais e os não especificados

Y48.3 Efeitos adversos de anestésicos locais

Y48.4 Efeitos adversos de anestésico, não especificado

Y48.5 Efeitos adversos de gases terapêuticos

Y65.3 Cânula endotraqueal mal posicionada durante procedimento anestésico

Obs.: Em países onde os códigos de efeitos adversos não são comumente registrados, pode ser utilizado o código T88.4 Entubação falha ou difícil. Entretanto, é importante observar que poderão ser encontradas taxas mais altas.

T41.0 Intoxicação por anestésicos inalatórios

T41.1 Intoxicação por anestésicos intravenosos

T41.2 Intoxicação por outros anestésicos gerais e os não especificados

T41.3 Intoxicação por anestésicos locais

T41.4 Intoxicação por anestésico não especificado

Denominador:

 Todas as altas cirúrgicas, de pacientes com 18 anos ou mais, ou internações obstétricos.

Exclusões:

1. Casos de altas com códigos da CID para efeitos adversos anestésicos como diagnóstico principal, ou como diagnóstico secundário, se presente na admissão;

2. Casos de altas com códigos da CID para intoxicação anestésica como diagnóstico principal, ou como diagnóstico secundário, se presente na admissão;

3. Casos de altas com códigos da CID para intoxicação anestésica como diagnóstico secundário, e qualquer código da CID de lesão auto infligida;

4. Casos de altas com códigos da CID para intoxicação anestésica como diagnóstico secundário, e qualquer código da CID de dependência de droga ativa;

5. Casos de altas com códigos da CID para intoxicação anestésica como diagnóstico secundário, e qualquer código da CID de abuso de drogas não dependente;

6. Casos de altas com sexo, idade, data ou diagnóstico principal ignorados.

Racionalidade:

A morte em virtude da anestesia se tornou rara (tornando-se comparável aos índices de segurança atingidos em outras indústrias de alto risco, como a aviação). Por outro lado, eventos mórbidos, isto é, complicações relacionadas aos cuidados anestésicos, são muito mais prevalentes, variando desde náusea pós-operatória até falha de equipamentos (levando, por exemplo, à hiperventilação com morbidade potencialmente grave, tal como AVE ou IAM). Muitos desses eventos (além dos eventos óbvios apresentados acima) podem ser difíceis de classificar como evitáveis. Os painelistas da AHRQ, que participaram do desenvolvimento deste indicador, apresentaram preocupações quanto à frequência de codificação dessas complicações, especialmente porque o uso de códigos de causas externas é considerado voluntário e parece variar amplamente entre os profissionais. É plausível pensar que a descrição de uma “reação” talvez não a atribua ao uso de um anestésico. Outra preocupação é que alguns desses casos podem estar presentes no momento da internação (por exemplo, devido ao uso de drogas recreativas). Idealmente, este indicador deveria ser usado com uma designação de código que distinguisse as condições presentes na internação daquelas que ocorressem dentro do hospital. Entretanto, a distinção não está, geralmente, disponível nos dados administrativos usados para definir o indicador (inclusive no Brasil); portanto, essa preocupação foi abordada eliminando-se os códigos de drogas habitualmente utilizadas como drogas recreativas. Embora isto não elimine a possibilidade de que esses códigos representem a superdosagem intencional ou acidental por parte do paciente, deveria eliminar muitos desses casos.

Os painelistas da AHRQ também expressaram preocupações sobre os eventos que receberiam o código de colocação incorreta de tubo endotraqueal. Eles observaram que a má colocação verdadeira não representa um erro, mas mostraram incerteza sobre se esse código se limitaria a tais situações.

A revisão da literatura feita pela equipe da AHRQ se concentrou na validade dos indicadores de complicações baseados em códigos de diagnósticos ou procedimentos da CID-9-MC. Os resultados daquela revisão da literatura não indicam evidências publicadas sobre a sensibilidade ou o valor preditivo deste indicador com base na revisão detalhada de prontuários ou na coleta prospectiva de dados.

As evidências compiladas pela AHRQ para corroborar o indicador indicam que diversos aprimoramentos procedimentais, como as listas de verificação pré-anestésicas, são capazes de reduzir a ocorrência de erros. Outras, no entanto, como o monitoramento intraoperatório intenso, não se mostraram capazes de produzir melhores desfechos. Além disso, os estudos revistos para corroborar este indicador foram principalmente observacionais, sem grupos-controle, reduzindo a validade dos indicadores.

O principal problema neste caso parece ser a dificuldade de se classificar a maior parte dos eventos adversos como evitáveis. Não parece haver critérios adequados. Também pode haver subnotificação nos dados administrativos.

Rosen et al. (2005) analisaram dados administrativos dos hospitais do Veterans Affairs (VA) para identificar as taxas de ocorrência de 16 indicadores de segurança do paciente da AHRQ. A taxa observada do indicador complicações da anestesia foi de 0,56 por 1.000 altas hospitalares. Este indicador de segurança do paciente esteve associado significativamente a outro indicador da AHRQ - “Dificuldade Técnica durante Procedimento” (atualmente renomeado para “Puncionamento ou laceração acidental”). Não foram encontradas diferenças significativas entre as internações com ou sem eventos deste indicador no que diz respeito à duração da internação, mortalidade e custos (Rosen et al., 2005).

Dados administrativos de hospitais comunitários em 16 estados dos EUA foram analisados para analisar se as diferenças raciais e étnicas em eventos de segurança do paciente desaparecem quando a renda (um substituto para o estado socioeconômico) é levada em consideração (Coffey et al., 2005). As complicações anestésicas ocorreram com frequência significativamente maior em pacientes negros e hispânicos que em pacientes brancos.

Existem preocupações com a validade deste indicador; portanto, ele deve ser usado com cautela. Não está claro se o indicador se relaciona consistentemente a desfechos adversos. Em dados obtidos nos EUA (Zhan and Miller, 2003), ele esteve associado a maiores custos, mas não a uma maior mortalidade ou maior tempo de internação.

Atualmente, a AHRQ não recomenda o uso deste indicador para relatórios comparativos, mas ele pode ser usado para a melhoria interna de qualidade (AHRQ, 2009). É considerado como "Indicador Experimental" pela AHRQ, ou seja, um indicador que ainda precisa de aprimoramentos (AHRQ, 2011).

Os óbitos por intoxicação com medicamentos são considerados, atualmente, um dos agravos de saúde pública. Recente estudo brasileiro que descreve o perfil epidemiológico da mortalidade por intoxicação com medicamentos na população do Brasil, a intoxicação por anestésicos e gases terapêuticos está presente (MOTA et al, 2012).

Em recente estudo nacional com pacientes submetidos a uma das técnicas de anestesia do neuroeixo foram observadas: hipotensão arterial, bradicardia sinusal, taquicardia sinusal, hipertensão arterial. De acordo com os resultados do estudo taquicardia e hipertensão arterial podem não ter sido diretamente relacionadas aos bloqueios do neuroeixo.

Fica evidente que a segurança do paciente é questão cada vez mais discutida. Estudos demonstram que a avaliação pré-anestésica traz grandes benefícios para o paciente quando comparadas àquelas realizadas no pré-operatório imediato, pois “pode reduzir as intercorrências intra e pós-operatórias e evitar desfechos desfavoráveis” (PRIETO et al, 2011).

 

Ajuste de Risco:

Idade, sexo, morbidades.

Interpretação:

Este indicador tem o objetivo de captar casos sinalizados por códigos de causas externas e códigos de complicações por efeitos adversos da administração de drogas terapêuticas, além de superdosagem de drogas anestésicas usadas principalmente em ambientes terapêuticos.

Fonte de Dados:

Banco de dados administrativos hospitalares

Bibliografia:

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4.AHRQ Quality Indicators. Patient Safety Indicators: Technical Specifications. March 2003 [Internet]. Version 3.2 (March 10, 2008). [capturado 15 dez. 2008]. Disponível em: http://www.qualityindicators.ahrq.gov/downloads/modules/psi/v32/psi_technical_specs_v32.pdf

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15.PEREIRA, Ivan Dias Fernandes et al.Análise Retrospectiva de Fatores de Risco e Preditores de Complicações ntraoperatórias dos Bloqueios do Neuroeixo Realizados na Faculdade de Medicina de Botucatu- UNESPRevista Brasileira de Anestesiologia. Vol. 61, No 5, Setembro-Outubro, 2011.

16.Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Projeto Diretrizes. Segurança em Anestesia Regional. AMIB, 2012. 32p. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/diretrizes11/seguranca_em_anestesia_.... Acesso em 12 jan.2014.

Ano da Publicação:
2014