Óbito hospitalar e eventos adversos no Brasil

Contexto: Eventos adversos são considerados um importante problema internacional relacionado ao desempenho dos sistemas de saúde. A avaliação da ocorrência de eventos adversos exige, como no caso de qualquer outra medida de resultado, que se observe até que ponto as diferenças encontradas podem ser atribuídas aos fatores de risco do paciente ou a variações no processo de tratamento, o que, por sua vez, ressalta a importância de medir as diferenças na gravidade dos casos. Este estudo objetiva avaliar a associação entre óbitos e eventos adversos ajustada por fatores de risco do paciente.

Métodos: O estudo baseou-se em uma amostra aleatória de 1.103 prontuários de pacientes internados em 2003 em 3 hospitais de ensino no estado do Rio de Janeiro, Brasil. A metodologia consistiu em revisão retrospectiva de prontuários, realizada em duas etapas: uma fase de rastreamento e uma fase de avaliação. A regressão logística foi utilizada para avaliar a relação entre óbitos hospitalares e eventos adversos.

Resultados: A taxa de mortalidade hospitalar foi de 8,5%, enquanto a taxa relacionada à ocorrência de um evento adverso foi de 2,9% (32/1103) e a taxa relacionada a eventos adversos evitáveis foi de 2,3% (25/1103). Entre as 94 mortes analisadas, 34% estiveram relacionadas a casos que envolveram eventos adversos e 26,6% ocorreram em casos cujos eventos adversos foram considerados evitáveis. Os modelos testados mostraram boa capacidade discriminatória. O odds ratio não ajustado (OR, 11,43) e o odds ratio ajustado para os fatores de risco do paciente (OR, 8,23) entre o óbito e o evento adverso evitável foram altos.

Conclusões: Apesar das discussões na literatura sobre as limitações da avaliação de eventos adversos evitáveis com base na revisão por pares, os resultados aqui apresentados enfatizam o fato de que os eventos adversos, além de serem prevalentes, estão associados a danos graves e até ao óbito. Os resultados também ressaltam a importância do ajuste de risco e dos modelos multivariados no estudo dos eventos adversos.

Background: Adverse events are considered a major international problem related to the performance of health systems. Evaluating the occurrence of adverse events involves, as any other outcome measure, determining the extent to which the observed differences can be attributed to the patient's risk factors or to variations in the treatment process, and this in turn highlights the importance of measuring differences in the severity of the cases. The current study aims to evaluate the association between deaths and adverse events, adjusted according to patient risk factors.

Methods: The study is based on a random sample of 1103 patient charts from hospitalizations in the year 2003 in 3 teaching hospitals in the state of Rio de Janeiro, Brazil. The methodology involved a retrospective review of patient charts in two stages - screening phase and evaluation phase. Logistic regression was used to evaluate the relationship between hospital deaths and adverse events.

Results: The overall mortality rate was 8.5%, while the rate related to the occurrence of an adverse event was 2.9% (32/1103) and that related to preventable adverse events was 2.3% (25/1103). Among the 94 deaths analyzed, 34% were related to cases involving adverse events, and 26.6% of deaths occurred in cases whose adverse events were considered preventable. The models tested showed good discriminatory capacity. The unadjusted odds ratio (OR 11.43) and the odds ratio adjusted for patient risk factors (OR 8.23) between death and preventable adverse event were high.

Conclusions: Despite discussions in the literature regarding the limitations of evaluating preventable adverse events based on peer review, the results presented here emphasize that adverse events are not only prevalent, but are associated with serious harm and even death. These results also highlight the importance of risk adjustment and multivariate models in the study of adverse events.