“A pessoa que conduz o debriefing deve ser neutra” e outros mitos relacionados: um estudo qualitativo sistêmico baseado em questionários sobre as crenças ligadas ao debriefing clínico após a ocorrência de eventos

Julia Carolin Seelandt ; Katie Walker ; Michaela Kolbe
Título original:
"A debriefer must be neutral" and other debriefing myths: a systemic inquiry-based qualitative study of taken-for-granted beliefs about clinical post-event debriefing
Resumo:

CONTEXTO: O objetivo deste estudo foi identificar as crenças e pressupostos relacionados ao uso, os custos e a facilitação de reuniões de debriefing após a ocorrência de eventos. Estes mitos limitam a utilização rotineira de reuniões de debriefing após a ocorrência de eventos em unidades clínicas e, com isso, a identificação de ameaças relacionadas aos processos, ao trabalho em equipe e à segurança latente que levam aos erros no cuidado de saúde. Os autores acreditam que, se essas falsas barreiras e suposições forem citadas claramente, o debriefing de eventos clínicos poderá ser implementado de forma mais ampla. MÉTODOS: Entrevistamos uma amostra internacional de 37 profissionais clínicos, educadores, acadêmicos, pesquisadores e administradores de saúde em hospitais, universidades e organizações de saúde da Europa Ocidental e dos EUA, que tinham grande experiência com reuniões de debriefing. Adotamos uma abordagem sistêmico-construtivista destinada a explorar as suposições arraigadas sobre o debriefing para além de limitações óbvias, tais como tempo e logística, centrando-nos nas relações interpessoais dentro das organizações. Usando perguntas circulares, procuramos identificar conhecimentos novos e tácitos sobre as barreiras e fatores facilitadores para a realização de debriefings clínicos regulares. Todas as entrevistas foram transcritas e analisadas seguindo um processo abrangente de codificação aberta indutiva. RESULTADOS: Analisamos um total de 1508,62 min de entrevistas (25h, 9min e 2s), categorizando todas as 1.591 respostas. Muitas teorias implícitas sobre o debriefing refletiam as evidências científicas atuais, particularmente com relação ao valor do debriefing e aos tópicos a serem incluídos nas reuniões, a complexidade e dificuldade da facilitação e a importância de estruturar os debriefings e de promover práticas reflexivas para fomentar as competências relacionadas ao debriefing. Também identificamos quatro mitos que podem impedir a implementação de debriefings após a ocorrência de eventos em unidades clínicas. CONCLUSÃO: Os mitos relacionados ao debriefing incluem: (1) o debriefing só deve ser realizado quando ocorre um desastre, (2) o debriefing é um luxo, (3) os médicos sêniores devem determinar o conteúdo do debriefing e (4) os responsáveis por conduzir o debriefing devem ser neutros e não fazer juízos de valor. Estes mitos permitem compreender melhor por que as práticas atuais de debriefing são aplicadas ad hoc, não sendo incorporadas nas práticas diárias das unidades. Esperamos que esta compreensão dê novo impulso à implementação de debriefings após a ocorrência de eventos em ambientes clínicos.
 

Resumo Original:

BACKGROUND: The goal of this study was to identify taken-for-granted beliefs and assumptions about use, costs, and facilitation of post-event debriefing. These myths prevent the ubiquitous uptake of post-event debriefing in clinical units, and therefore the identification of process, teamwork, and latent safety threats that lead to medical error. By naming these false barriers and assumptions, the authors believe that clinical event debriefing can be implemented more broadly. METHODS: We interviewed an international sample of 37 clinicians, educators, scholars, researchers, and healthcare administrators from hospitals, universities, and healthcare organizations in Western Europe and the USA, who had a broad range of debriefing experience. We adopted a systemic-constructivist approach that aimed at exploring in-depth assumptions about debriefing beyond obvious constraints such as time and logistics and focused on interpersonal relationships within organizations. Using circular questions, we intended to uncover new and tacit knowledge about barriers and facilitators of regular clinical debriefings. All interviews were transcribed and analyzed following a comprehensive process of inductive open coding. RESULTS: In total, 1508.62 min of interviews (25 h, 9 min, and 2 s) were analyzed, and 1591 answers were categorized. Many implicit debriefing theories reflected current scientific evidence, particularly with respect to debriefing value and topics, the complexity and difficulty of facilitation, the importance of structuring the debriefing and engaging in reflective practice to advance debriefing skills. We also identified four debriefing myths which may prevent post-event debriefing from being implemented in clinical units. CONCLUSION: The debriefing myths include (1) debriefing only when disaster strikes, (2) debriefing is a luxury, (3) senior clinicians should determine debriefing content, and (4) debriefers must be neutral and nonjudgmental. These myths offer valuable insights into why current debriefing practices are ad hoc and not embedded into daily unit practices. They may help ignite a renewed momentum into the implementation of post-event debriefing in clinical settings.
 

Fonte:
Advances in Simulation ; 6(1): 7; 2021. DOI: 10.1186/s41077-021-00161-5.