Abandonados com a carga emocional — um estudo qualitativo das experiências de obstetras e parteiras com eventos graves na atenção ao parto
CONTEXTO: O trabalho na atenção ao parto envolve a responsabilidade por eventos graves durante os quais uma mãe ou bebê podem sofrer danos ou morrer. Tais eventos podem afetar a tomada de decisões, o trabalho em equipe, a capacidade de empatia e a segurança do paciente. OBJETIVO: Explorar as experiências de obstetras e parteiras, suas reações e interpretações ao se envolverem na ocorrência de um evento grave na atenção ao parto. DESENHO: Estudo qualitativo baseado na análise de conteúdo de entrevistas aprofundadas. PARTICIPANTES: Um total de 14 profissionais da saúde suecos: 7 obstetras e 7 parteiras. MÉTODOS: Usamos a análise de conteúdo qualitativa para descrever e interpretar o significado manifesto e latente do texto das entrevistas, mantendo-nos próximos às experiências vividas pelos participantes. RESULTADOS: O tema global “abandonados com a carga emocional” foi desenvolvido em torno de três subtemas, apoiados por categorias e subcategorias. Os profissionais identificaram fatores que contribuíram para o curso dos eventos que os fizeram perceber que haviam estado “atuando num sistema ilusório de controle e segurança”. Quando a gravidade da situação ficou clara, os profissionais “vivenciaram discordância cognitiva e emocional” e, posteriormente, descreveram uma “busca por redenção interna e externa” relacionada às fortes emoções de terem se sentido abandonados. CONCLUSÕES: A participação em eventos obstétricos graves envolve a exposição a situações emocionalmente difíceis e, portanto, expõe a vulnerabilidade conjunta. Parteiras e obstetras descreveram uma sensação de solidão e percepções de insegurança em relação ao sistema organizacional, aos administradores e aos colegas após a ocorrência de um evento complexo e grave com uma mulher ou seu bebê durante o parto.
BACKGROUND: Working on the labour ward entails being responsible for severe events during which a mother or baby may be injured or may die. Such events might affect decision-making, teamMATERNIT-working, capacity for empathy, and patient safety. AIM: To explore midwives' and obstetricians' experiences, reactions and interpretations of being part of a severe event on the labour ward. DESIGN: A qualitative study using content analysis of in-depth interviews. PARTICIPANTS: Fourteen Swedish healthcare providers: seven midwives, and seven obstetricians. METHODS: Qualitative content analysis was used to describe and interpret the manifest and latent meaning of the interview text, while remaining close to participants' lived experiences. RESULTS: The overarching theme "Left alone with the emotional surge" was developed around three subthemes, supported by categories and subcategories. Professionals identified factors that had contributed to the course of events that made them perceive that they had been "acting within an illusory system of control and safety". When the severity of the situation became clear, "cognitive and emotional discordance was experienced", and, in the aftermath, the professionals described a "search for internal and external redemption" related to strong emotions of being left alone. CONCLUSIONS: Facing severe obstetric events entails exposure to emotionally demanding situations and hence joint vulnerability. Midwives and obstetricians described a sense of loneliness and perceptions of insecurity regarding the organisational system, managers and colleagues, following a complex, severe event with a woman or her baby during childbirth.