Armadilhas da reconciliação de medicamentos

WEBER, R. J.
Título original:
Medication Reconciliation Pitfalls
Resumo:

Comentário de Robert J. Weber, PharmD, MS

Caso clínico

Uma mulher de 90 anos de idade, que vivia sozinha, sofreu uma queda da própria altura, fraturou o quadril e foi levada ao serviço de emergência (SE) por sua filha. A paciente tinha uma história patológica pregressa de hipotireoidismo, osteoartrite e hipertensão. Seus frascos de medicamentos foram dados à enfermeira de triagem do SE, sendo usados para escrever uma lista dos medicamentos tomados em casa pela paciente. Entre outros, a lista continha “Metoprolol 75 mg – 1 cp VO diariamente". Um cirurgião ortopédico internou a paciente no hospital e prescreveu a manutenção de todos os medicamentos tomados por ela em casa, nas mesmas doses. O cirurgião também solicitou uma consulta no setor de medicina interna para a avaliação do “risco cirúrgico”. A paciente negou ter história de arritmia, síncope, pré-síncope, demência ou quedas anteriores. Seus medicamentos foram colocados numa bolsa opaca para pertences pessoais, juntamente com suas roupas, e ela foi transferida para o andar ortopédico.

Várias horas depois, um clínico do próprio hospital realizou uma avaliação e confirmou os medicamentos tomados em casa pela paciente e suas doses. Excluindo o traumatismo no membro inferior e um déficit auditivo leve, o exame da paciente estava normal. Ela não informou ao médico que seus medicamentos estavam na bolsa. Na realidade, talvez nem sequer tenha percebido que a filha os deixara ali. O médico registrou uma frequência cardíaca de 75 batimentos por minuto com uma pressão arterial sistólica de 170 mmHg. A pressão arterial da paciente estivera alta desde a internação. Foi escrita uma prescrição para aumentar o Metoprolol de 75 para 100 mg por dia.

Enquanto era preparada na mesa da sala de operação, várias horas mais tarde, a paciente apresentou assistolia, foi submetida a uma reanimação bem-sucedida e, posteriormente, foi transferida para a UTI. Durante a transferência, uma enfermeira da UTI entregou o saco plástico com os medicamentos ao cardiologista, que observou que a dose de Metoprolol tomada em casa pela paciente era de 25 mg/dia. O erro foi notificado à farmácia hospitalar. O médico hospitalista que havia aumentado a dose do Metoprolol só soube do erro por coincidência. Ele se desculpou com a paciente e sua família e assegurou que o caso seria examinado cuidadosamente para garantir que esse tipo de erro não voltasse a acontecer.

A paciente teve uma recuperação completa e não apresentou instabilidade recorrente dos sinais vitais. Foi descartado o infarto do miocárdio e a ecocardiografia foi normal. Após observação na UTI por vários dias, foi realizado o reparo da fratura de quadril e a paciente recebeu alta hospitalar sem outras complicações.

Leia o comentário completo no PDF disponível ao lado.

Fonte:
Proqualis - Centro Colaborador para a Qualidade do Cuidado e a Segurança do Paciente ; 2016.
DECS:
efeitos colaterais e reações adversas relacionados a medicamentos, cooperação do paciente, idoso de 80 anos ou mais, idoso
Nota Geral:

Este texto foi originalmente escrito em inglês com o título Medication Reconciliation Pitfalls e publicado pela AHRQ/PSNET que permitiu a tradução deste artigo e cedeu os direitos de publicação ao Proqualis/Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde/Fiocruz, único responsável pela edição em português.

Publicado pela AHRQ WebM&M: Weber RJ. Medication reconciliation pitfalls. AHRQ WebM&M [serial online]. Fevereiro 2010. Original disponível em: https://psnet.ahrq.gov/webmm/case/213

Autor institucional: 
Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ)
Patient Safety Network