Aspectos pessoais, situacionais e organizacionais que influenciam o impacto de incidentes relacionados ao cuidado de saúde: um estudo qualitativo

VAN GERVEN, E. ; DEWEER, D. ; SCOTT, S. D. ; PANELLA, M. ; EUWEMA, M. ; SERMEUS, W. ; VANHAECHT, K.
Título original:
Personal, situational and organizational aspects that influence the impact of patient safety incidents: a qualitative study
Resumo:

Objetivos: Quando ocorre um incidente relacionado ao cuidado de saúde (sigla em inglês, PSI), tanto o paciente como o profissional de saúde envolvido podem sofrer. Este estudo concentrou-se nessa chamada "segunda vítima" de um incidente relacionado ao cuidado de saúde e teve como objetivo examinar: (1) os sintomas vivenciados após a ocorrência de um incidente, (2) as estratégias usadas para lidar com a situação, (3) o apoio recebido em comparação com o necessário e (4) os aspectos que influenciam uma pessoa a se tornar uma segunda vítima. 

Materiais e métodos: Realizamos 31 entrevistas aprofundadas com médicos, enfermeiros e parteiras que estiveram envolvidos em um incidente relacionado ao cuidado de saúde. 

Resultados: Os sintomas foram classificados de acordo com o impacto pessoal e profissional. Foram utilizadas estratégias centradas no problema e centradas nas emoções para lidar com a ocorrência de um PSI. As estratégias centradas no problema, como a realização de uma análise de causa raiz e a oportunidade de aprender com o que aconteceu, foram as mais apreciadas; porém, foi comum a ocorrência de respostas emocionais negativas, como a repressão e a fuga. O apoio por parte de colegas e supervisores envolvidos no mesmo evento, por pares ou por especialistas profissionais foram os mais necessários. Poucas pessoas descreveram o apoio emocional por parte da instituição de saúde como algo indesejado. O apoio oferecido dependeu, em grande parte, da cultura organizacional; ainda existe um estigma entre os profissionais de saúde em discutir abertamente os incidentes relacionados ao cuidado. Foram observados três aspectos que influenciam em que medida um profissional de saúde se torna uma segunda vítima: aspectos pessoais, situacionais e organizacionais. 

Conclusão: Os resultados indicaram ser fundamental uma abordagem multifatorial que inclua o apoio individual e emocional às segundas vítimas.

Resumo Original:

Objectives: When a patient safety incident (PSI) occurs, not only the patient, but also the involved health professional can suffer. This study focused on this so-called "second victim" of a patient safety incident and aimed to examine: (1) experienced symptoms in the aftermath of a patient safety incident; (2) applied coping strategies; (3) the received versus needed support and (4) the aspects that influenced whether one becomes a second victim. 

Materials and methods: Thirty-one in-depth interviews were performed with physicians, nurses and midwives who have been involved in a patient safety incident. 

Results: The symptoms were categorized under personal and professional impact. Both problem focused and emotion focused coping strategies were used in the aftermath of a PSI. Problem focused strategies such as performing a root cause analysis and the opportunity to learn from what happened were the most appreciated, but negative emotional responses such as repression and flight were common. Support from colleagues and supervisors who were involved in the same event, peer supporters or professional experts were the most needed. A few individuals described emotional support from the healthcare institution as unwanted. Rendered support was largely dependent on the organizational culture, a stigma remained among healthcare professionals to openly discuss patient safety incidents. Three aspects influenced the extent to which a healthcare professional became a second victim: personal, situational and organizational aspects. 

Conclusion: These findings indicated that a multifactorial approach including individual and emotional support to second victims is crucial.

Fonte:
Revista de Calidad Asistencial : Organo de la Sociedad Española de Calidad Asistencial ; 31(supl.2): 34-46; 2016. DOI: 10.1016/j.cali.2016.02.003.