Esquema de abertura de informações diante da ocorrência de incidentes: a importância do diálogo

Contexto: A abertura de informações aos pacientes e seus familiares diante da ocorrência de incidentes no cuidado de saúde, por ser um imperativo ético, está se tornando cada vez mais prevalente. As experiências de uma mulher cujo marido morreu formam a base de um estudo de caso sobre como ela, sua família e amigos conseguiram renegociar a compreensão dos profissionais envolvidos no cuidado de saúde sobre o que havia ocorrido de forma errada e influenciar seus pontos de vista sobre o que precisava ser feito em resposta.

Métodos: O caso foi construído ao final de 2010 usando a abordagem de replicação de caso único, que envolveu a verificação repetida e a correção de detalhes de uma entrevista com a esposa do paciente. Seu marido, diagnosticado com mieloma múltiplo em 2006, foi internado em janeiro de 2009 para uma cirurgia de substituição do quadril. Enquanto estava internado, ele recebeu uma sobredose de vasopressina. O paciente morreu em fevereiro de 2009.

O processo de abertura das informações:  A base do processo de abertura de informações foi o erro de medicação; entretanto, a esposa do paciente informou ao autor do telefonema (o chefe da UTI) de que "Vocês têm um problema maior do que um erro de medicação... vocês têm um grande, um enorme problema de comunicação". O processo de abertura de informações, que se desdobrou em uma série de telefonemas e reuniões, permitiu que a esposa do paciente e sua família não só fizessem perguntas, mas também apresentassem seus conhecimentos, pontos de vista e preocupações. Assim, a questão passou do ato de "revelar um incidente" (a sobredose de vasopressina) para a de abordar a questão das repetidas falhas de comunicação e comportamentos inadequados. Graças a isso, o processo de abertura das informações tornou-se um verdadeiro diálogo, que serviu para informar tanto os profissionais como a família.

Conclusões: Este estudo de caso expande a nossa compreensão sobre o que pode ser feito como parte do processo de abertura de informações. Os pacientes e familiares podem e devem desempenhar um papel crucial na melhoria da qualidade e na segurança do paciente, tendo em vista seus conhecimentos e dúvidas sobre a trajetória do cuidado e seu desejo de assegurar que incidentes semelhantes não tornem a ocorrer, ocasionando danos a outras pessoas.

Background: Disclosure of health care incidents to patients and family members, as an ethical imperative, is becoming increasingly prevalent. The experiences of a woman whose husband died forms the basis for a case study of how she and her family and friends were able to renegotiate clinicians' understandings of what had gone wrong and influence their views of what needed to be done in response.

Methods: The case was constructed in late 2010 using the replicated single-case approach, which involved repeated checking and correcting details of an interview with the patient's wife. Her husband, diagnosed with multiple myeloma in 2006, was hospitalized in January 2009 following a hip replacement. While in the hospital, he received a vasopressin overdose. He died in February 2009. THE DISCLOSURE PROCESS: The basis of the disclosure was the drug error, yet the patient's wife informed the caller (the head of the ICU), "You've got a greater problem than a drug error... you've got a massive, big communication problem here." The disclosure process, which unfolded in a series of phone calls and meetings, enabled the patient's wife and her family not only to ask questions but to put forward their knowledge, views, and concerns, and it moved from "disclosing an incident" (the vasopressin overdose) to addressing repeated communication failures and inappropriate behaviors. As a result, the disclosure process became a genuine dialogue that informed the clinicians as much as the family.

Conclusions: This case study expands our understanding of what is possible as part of disclosure communication. Patients and family members can and should play a critical role in quality improvement and patient safety, given their knowledge and questions about the trajectory of care and their passion for ensuring that similar incidents do not recur to harm others.