Estimando a incidência de eventos adversos em hospitais portugueses: uma contribuição para a melhoria da qualidade e segurança do paciente
Este estudo recorreu à metodologia utilizada noutros países, incluindo o Brasil (sistema de screening utilizando triggers previamente definidos, tendo por base a análise de informação contida nos processos clínicos). Tal fato, para além de ser uma garantia de rigor e de sistematização metodológica, permitirá fazer, salvo alguns pressupostos, benchmarking dos resultados.
Os resultados obtidos no presente estudo identificam uma realidade, não muito diferente da que foi descrita em estudos similares, realizados em vários países da Europa (Inglaterra, França, Espanha, Dinamarca, Suécia e Países Baixos, para mencionar apenas alguns), nos Estados Unidos da América, na Austrália, no Canadá, na Nova Zelândia e no Brasil. De entre os resultados encontrados destacam-se: i) a taxa de incidência de eventos adversos (EA) foi de 11,1%; ii) desses, cerca de 53,2% foram considerados evitáveis; iii) a maioria dos EA (60,3%) não causaram dano, ou resultaram em dano mínimo; iv) em 58,2% dos EA houve prolongamento do período de internação, sendo apurado um valor medio de 10,7 dias; v) a consistência interna, relativamente a presença de critérios de EA (1º screening) foi considerada boa com valor de (k = 0.63; IC 0.43;0.79 e p < 0.001; 83.5% concordância); vi) no 2º screening a consistência interna, no que respeita a confirmação de EA e a caracterização quanto a evitabilidade foi, igualmente, considerada boa com valores de k = 0.78; IC 0.49; 1 e p < 0.001;86% concordância) e (k = 0.58; IC 0.23; 0.94 e p = 0.009; 79% concordância), respectivamente; vii) a maioria dos doentes que sofreu um EA, 109/186 (58.6%) prolongou o tempo de estadia no hospital (um total de 1,166 dias a mais, em média 10.7 dias por caso), com custos estimados em €470,380.00. Importa referir que a frequência, tipologia e consequências dos eventos adversos relacionados com os cuidados de saúde constitui, por si só, um importante problema de Saúde Pública que necessita de respostas efetivas e imediatas, no sentido de se conhecerem as circunstâncias em que ocorrem e se definirem estratégias que visem a sua redução ou a sua eliminação.