Estudo qualitativo comparando experiências com a lista de verificação de segurança cirúrgica em hospitais de países de alta e de baixa renda

AVELING, E. L. ; McCULLOCH, P. ; DIXON-WOODS, M.
Título original:
A qualitative study comparing experiences of the surgical safety checklist in hospitals in high-income and low-income countries
Resumo:

Objetivo: Foram feitas alegações ousadas quanto à capacidade de a lista de verificação de segurança cirúrgica da OMS reduzir a morbidade e a mortalidade operatória e melhorar a segurança do paciente, independentemente do local. Pouco se sabe sobre qualquer semelhança ou diferença entre os desafios enfrentados por países de baixa renda e os enfrentados por países de alta renda. Tentamos identificar e comparar as influências sobre a implementação da lista de verificação e a adesão a esta no Reino Unido e na África.

Desenho: Estudo etnográfico envolvendo observações, entrevistas e coleta de documentos. Análise temática dos dados.

Ambiente: Centros cirúrgicos num hospital universitário da África e em dois hospitais universitários do Reino Unido.

Participantes: Foram feitas 112 horas de observações. Foram conduzidas 39 entrevistas com profissionais do centro cirúrgico e  do setor administrativo.

Resultados: Muitos profissionais dos hospitais do Reino Unido e da África acharam que a lista de verificação agregava valor. Houve algum ressentimento em todos os  locais, ligado a conflitos entre a filosofia subjacente à lista de verificação e a realidade dos contextos local, cultural, social e econômico. A adesão – envolvendo o uso, a completude e a acurácia – foi maior, embora não tenha sido perfeita, nos locais analisados no Reino Unido. Nesses hospitais, a adesão foi respaldada por estruturas e sistemas estabelecidos, e não foi abalada de maneira significativa por maior escassez de recursos; o mesmo não se deu nos contextos de baixa renda. Os relacionamentos hierárquicos representaram uma barreira considerável à implementação em todos os locais analisados, sendo mais marcante, porém, nos local de baixa renda. A introdução de uma lista de verificação  em um ambiente profissional caracterizado por falta de responsabilização e de transparência pode levar os profissionais a se sentirem  jurídica, profissional e pessoalmente ameaçados, o que os encorajaria a registrar de forma enganosa aquilo que de fato foi feito.

Conclusões: A implementação da lista de verificação de segurança cirúrgica será provavelmente otimizada, independentemente do local, se for usada como uma ferramenta em programas culturais e organizacionais multifacetados, de forma a fortalecer a segurança do paciente. Não se pode assumir que a introdução de uma lista de verificação leve automaticamente a uma melhoria da comunicação e dos processos clínicos.

Resumo Original:

Objective: Bold claims have been made for the ability of the WHO surgical checklist to reduce surgical morbidity and mortality and improve patient safety regardless of the setting. Little is known about how far the challenges faced by low-income countries are the same as those in high-income countries or different. We aimed to identify and compare the influences on checklist implementation and compliance in the UK and Africa.

Design: Ethnographic study involving observations, interviews and collection of documents. Thematic analysis of the data.

Setting: Operating theatres in one African university hospital and two UK university hospitals.

Participants: 112 h of observations were undertaken. Interviews with 39 theatre and administrative staff were conducted.

Results: Many staff saw value in the checklist in the UK and African hospitals. Some resentment was present in all settings, linked to conflicts between the philosophy behind the checklist and the realities of local cultural, social and economic contexts. Compliance-involving use, completeness and fidelity-was considerably higher, though not perfect, in the UK settings. In these hospitals, compliance was supported by established structures and systems, and was not significantly undermined by major resource constraints; the same was not true of the low-income context. Hierarchical relationships were a major barrier to implementation in all settings, but were more marked in the low-income setting. Introducing a checklist in a professional environment characterised by a lack of accountability and transparency could make the staff feel jeopardised legally, professionally, and personally, and it encouraged them to make misleading records of what had actually been done.

Conclusions: Surgical checklist implementation is likely to be optimised, regardless of the setting, when used as a tool in multifaceted cultural and organisational programmes to strengthen patient safety. It cannot be assumed that the introduction of a checklist will automatically lead to improved communication and clinical processes.

Fonte:
BMJ Open ; 3(8): e003039; 2014. DOI: 10.1136/bmjopen-2013-003039.