Eventos adversos e eventos adversos evitáveis em crianças

Contexto: A segurança do paciente vem sendo reconhecida como um problema importante na área da saúde. Entretanto, o que se conhece dos eventos adversos e dos eventos adversos evitáveis nas crianças é relativamente pouco.

Objetivo: Descrever os tipos e a incidência de eventos adversos e de eventos adversos evitáveis nas crianças.

Desenho: Análise das internações pediátricas do “Utah Medical Practice Study” (Estudo da Prática Médica no Colorado e em Utah), que envolveu a revisão retrospectiva em 2 níveis (enfermeiros e médicos) de prontuários de uma amostra de base populacional representativa de todas as altas pediátricas.

Principais medidas: Evento adverso foi definido como lesão que resultou em incapacidade ou prolongamento do tempo de permanência como consequência do cuidado prestado e não do resultado do processo da doença. Evento adverso evitável foi definido como um evento adverso que se pode evitar com base no conhecimento disponível no momento e nas boas práticas.

Pacientes: 3.719 pacientes de 0 a 20 anos de idade e 7.528 pacientes adultos não idosos (de 21 a 65 anos de idade), que tiveram alta no Colorado e em Utah.

Centros: Todos os hospitais do Colorado e de Utah.

Resultados: Ocorreram eventos adversos em 1% das internações em pediatria no Colorado e em Utah. Destes, 0,6% eram evitáveis. As taxas de eventos adversos evitáveis foram de 0,53% para recém-nascidos e lactentes (0-0,99 ano), 0,22% em crianças de 1 a 12 anos de idade e 0,95% em adolescentes de 13 a 20 anos de idade, em comparação com uma taxa de 1,50% em adultos não idosos. Dos tipos de eventos adversos que poderiam ter sido evitados, aqueles relacionados a parto (32,2%) e a diagnóstico (30,4%) foram os mais comuns, sendo significativamente mais comuns do que aqueles relacionados à cirurgia (3,5%).

Conclusões: Estes dados sugerem que aproximadamente 70.000 crianças internadas nos Estados Unidos sofrem eventos adversos todo ano, sendo que 60% desses eventos podem ser evitados. A epidemiologia dos eventos adversos e dos eventos adversos evitáveis em crianças é diferente do que é em adultos. Para reduzir os eventos adversos que ocorrem em crianças internadas, as pesquisas devem se concentrar nos pacientes adolescentes internados, no cuidado relacionado com o parto e no diagnóstico pediátrico.

Context: Patient safety has been recognized as an important problem in health care. However, knowledge about adverse events and preventable adverse events in children is relatively limited.

Objective: To describe the incidence and types of adverse events and preventable adverse events in children.

Design: Analysis of pediatric hospitalizations in the Colorado and Utah Medical Practice Study, which involved a retrospective, 2-level (nurse and physician) medical record review of a population-based, representative sample of all pediatric hospital discharges.

Main Measures: Adverse events were defined as an injury caused by medical management rather than disease processes that resulted in either prolonged hospitalization or disability at discharge. A preventable adverse event was defined as an avoidable adverse event based on currently available knowledge and accepted practices.

Patients: 3719 discharged hospital patients, 0–20 years old, and 7528 nonelderly (21–65 years old) discharged adult patients in Colorado and Utah.

Setting: All hospitals in Colorado and Utah.

Results: Adverse events occurred in 1% of pediatric hospitalizations in Colorado and Utah; 0.6% were preventable. Preventable adverse events rates were 0.53% in neonates and infants (0–0.99 years), 0.22% in children 1–12 years of age, and 0.95% in adolescents 13–20 years of age, compared with a rate of 1.50% in nonelderly adults. Of preventable adverse event types, birth related (32.2%) and diagnostic related (30.4%) events were the most common and were significantly more common than surgically related preventable adverse events (3.5%).

Conclusions: These data suggest that ?70 000 children hospitalized in the United States experience an adverse event each year; 60% of these events may be preventable. The epidemiology of adverse events and preventable adverse events in children is different than in adults. To reduce the adverse events that occur in hospitalized children, research should focus on adolescent hospitalized patients, birth-related medical care, and diagnostics in pediatric medicine.