Implementação de intervenções para reduzir o uso de antibióticos: um estudo qualitativo em consultórios com altas taxas de prescrição

Anthony Staines ; Isabelle Amherdt ; Bernard Burnand ; Murielle Rotzetter ; Philippe Currat ; Stéphane Roux ; Estelle Lécureux
Título original:
Implementing interventions to reduce antibiotic use: a qualitative study in high-prescribing practices
Resumo:

CONTEXTO: Foi demonstrado que a prescrição tardia de antibióticos (PTA) e o exame de proteína C reativa (PCR) no ponto de prestação do cuidado são eficazes para reduzir o uso de antibióticos na atenção primária, mas estas práticas geralmente não são implementadas em consultórios com altas taxas de prescrição. Procuramos explorar as opiniões dos profissionais de consultórios com altas taxas de prescrição sobre a adoção e implementação das práticas de PTA e PCR para reduzir o uso de antibióticos. MÉTODOS: Este foi um estudo qualitativo com grupos focais em consultórios gerais ingleses. Os consultórios com as maiores taxas de prescrição de antibióticos na região de West Midlands foram convidados a participar. Profissionais clínicos e não clínicos participaram de grupos focais facilitados por dois pesquisadores. Os grupos focais foram gravados em áudio, transcritos de forma literal e submetidos a uma análise temática. RESULTADOS: Nove consultórios (50 profissionais) participaram do estudo. Foram identificados quatro temas principais. 1) Compatibilidade das estratégias com os papéis clínicos e experiência: os participantes consideraram que as estratégias tinham valor limitado como “ferramentas clínicas”, percebendo-as como úteis apenas em casos “raros” de incerteza clínica e/ou para profissionais menos experientes. 2) Estratégias como “ferramentas sociais”: os participantes consideraram as estratégias como úteis para negociar as decisões de tratamento e educar os pacientes, particularmente aqueles que têm a expectativa de uma prescrição de antibióticos. 3) Ambiguidades: os participantes enxergaram ambiguidades em relação ao momento em que as estratégias devem ser usadas e seu impacto sobre a utilização de antibióticos. 4) Influência do contexto: os participantes levantaram diversas outras questões situacionais e práticas relacionadas à implementação das estratégias. CONCLUSÕES: Os profissionais de consultórios com altas taxas de prescrição não consideram que as práticas de PTA e PCR sejam “ferramentas clínicas” suficientemente úteis de modo a justificar a sua utilização conforme proposto pelas políticas atuais, que defendem o seu uso para reduzir a incerteza clínica e melhorar a gestão do uso de antimicrobianos. Em vez disso, as políticas deveriam se concentrar em como utilizar estas estratégias como “ferramentas sociais” para reduzir o uso desnecessário de antibióticos. Também é preciso dar atenção às diversas ambiguidades (preocupações e dúvidas) e às barreiras contextuais para o uso das estratégias, que precisam ser abordadas para promover uma implementação mais ampla e consistente.

Resumo Original:

BACKGROUND: Trials have shown that delayed antibiotic prescriptions (DPs) and point-of-care C-Reactive Protein testing (POC-CRPT) are effective in reducing antibiotic use in general practice, but these were not typically implemented in high-prescribing practices. We aimed to explore views of professionals from high-prescribing practices about uptake and implementation of DPs and POC-CRPT to reduce antibiotic use. METHODS: This was a qualitative focus group study in English general practices. The highest antibiotic prescribing practices in the West Midlands were invited to participate. Clinical and non-clinical professionals attended focus groups co-facilitated by two researchers. Focus groups were audio-recorded, transcribed verbatim and analysed thematically. RESULTS: Nine practices (50 professionals) participated. Four main themes were identified. Compatibility of strategies with clinical roles and experience - participants viewed the strategies as having limited value as 'clinical tools', perceiving them as useful only in 'rare' instances of clinical uncertainty and/or for those less experienced. Strategies as 'social tools' - participants perceived the strategies as helpful for negotiating treatment decisions and educating patients, particularly those expecting antibiotics. Ambiguities - participants perceived ambiguities around when they should be used, and about their impact on antibiotic use. Influence of context - various other situational and practical issues were raised with implementing the strategies. CONCLUSIONS: High-prescribing practices do not view DPs and POC-CRPT as sufficiently useful 'clinical tools' in a way which corresponds to the current policy approach advocating their use to reduce clinical uncertainty and improve antimicrobial stewardship. Instead, policy attention should focus on how these strategies may instead be used as 'social tools' to reduce unnecessary antibiotic use. Attention should also focus on the many ambiguities (concerns and questions) about, and contextual barriers to, using these strategies that need addressing to support wider and more consistent implementation.

Fonte:
Journal of Evaluation in Clinical Practice ; 27(5): 1143-1153; 2022. DOI: 10.1111/jep.13529.