Incidência, causas-raiz e resultados de eventos adversos em unidades cirúrgicas: implicações para possíveis estratégicas de prevenção

ZEGERS, M. ; BRUIJNE, M. C. de ; KEIZER, B. de ; MERTEN, H. ; GROENEWEGEN, P. P. ; VAN DER WAL, G. ; WAGNER, C.
Título original:
The incidence, root-causes, and outcomes of adverse events in surgical units: implication for potential prevention strategies
Resumo:

Contexto: Para melhorar a segurança do cuidado em unidades cirúrgicas, é preciso conhecer a escala e as causas subjacentes dos eventos adversos (EAs). Entretanto, são poucos os dados recentes sobre o tema. Os estudos de revisão prévios que avaliaram de forma detalhada a ocorrência de EAs cirúrgicos já têm mais de 10 anos. Desde então, a tecnologia cirúrgica e o controle de qualidade mudaram rapidamente. O objetivo desse estudo foi apresentar dados mais recentes sobre a incidência, as consequências, a evitabilidade, as causas e as possíveis estratégias de prevenção de EAs entre pacientes internados em unidades cirúrgicas.

Métodos: Fizemos um estudo baseado na revisão estruturada de 7.926 prontuários de pacientes em 21 hospitais holandeses. A revisão foi feita por enfermeiros treinados e por revisores médicos especializados. O objetivo foi determinar a ocorrência de EAs durante internações no ano de 2004 e considerar em que medida eles poderiam ter sido evitados. Para cada EA, identificamos as consequências, a especialidade médica responsável, as causas e as possíveis estratégias de prevenção. Os EAs cirúrgicos foram definidos como EAs atribuíveis ao tratamento e aos processos de cuidado cirúrgico e foram selecionados para uma análise detalhada.

Resultados: Os EAs cirúrgicos ocorreram em 3,6% das internações hospitalares e representaram 65% de todos os EAs. Ao todo, 41% dos EAs cirúrgicos foram considerados evitáveis. As consequências dos EAs cirúrgicos foram mais graves do que as de outros tipos de EAs, resultando em mais incapacidades permanentes, tratamentos adicionais, prolongamento da internação, reinternações não planejadas e consultas adicionais em serviços ambulatoriais. Quase 40% dos EAs cirúrgicos foram infecções, 23% foram sangramentos e 22% foram lesões por causas mecânicas, físicas ou químicas. Em 65% dos EAs cirúrgicos foi verificada a presença de fatores humanos considerados evitáveis por meio de sistemas de controle de qualidade e de treinamento.

Conclusões: Os EAs cirúrgicos ocorrem com muito mais frequência do que outros tipos de EAs, são mais evitáveis e as suas consequências são mais graves; portanto, têm um maior impacto sobre a carga de EAs durante internações. Estes resultados corroboram os de estudos anteriores. Entretanto, existem cada vez mais soluções baseadas em evidência para reduzir a ocorrência de EAs cirúrgicos. Recomenda-se o uso de intervenções direcionadas aos fatores humanos para melhorar a segurança do cuidado cirúrgico. Alguns exemplos dessas intervenções são o treinamento de equipes e o uso de listas de verificação para a segurança cirúrgica. Além disso, são necessárias estratégicas específicas para promover o uso adequado da profilaxia antibiótica e a implementação sustentável de protocolos de higiene para reduzir a incidência de infecções.

Resumo Original:

Background: We need to know the scale and underlying causes of surgical adverse events (AEs) in order to improve the safety of care in surgical units. However, there is little recent data. Previous record review studies that reported on surgical AEs in detail are now more than ten years old. Since then surgical technology and quality assurance have changed rapidly. The objective of this study was to provide more recent data on the incidence, consequences, preventability, causes and potential strategies to prevent AEs among hospitalized patients in surgical units.

Methods: A structured record review study of 7,926 patient records was carried out by trained nurses and medical specialist reviewers in 21 Dutch hospitals. The aim was to determine the presence of AEs during hospitalizations in 2004 and to consider how far they could be prevented. Of all AEs, the consequences, responsible medical specialty, causes and potential prevention strategies were identified. Surgical AEs were defined as AEs attributable to surgical treatment and care processes and were selected for analysis in detail.

Results: Surgical AEs occurred in 3.6% of hospital admissions and represented 65% of all AEs. Forty-one percent of the surgical AEs was considered to be preventable. The consequences of surgical AEs were more severe than for other types of AEs, resulting in more permanent disability, extra treatment, prolonged hospital stay, unplanned readmissions and extra outpatient visits. Almost 40% of the surgical AEs were infections, 23% bleeding, and 22% injury by mechanical, physical or chemical cause. Human factors were involved in the causation of 65% of surgical AEs and were considered to be preventable through quality assurance and training.

Conclusions: Surgical AEs occur more often than other types of AEs, are more often preventable and their consequences are more severe. Therefore, surgical AEs have a major impact on the burden of AEs during hospitalizations. These findings concur with the results from previous studies. However, evidence-based solutions to reduce surgical AEs are increasingly available. Interventions directed at human causes are recommended to improve the safety of surgical care. Examples are team training and the surgical safety checklist. In addition, specific strategies are needed to improve appropriate use of antibiotic prophylaxis and sustainable implementation of hygiene guidelines to reduce infections.

Fonte:
Patient Safety in Surgery ; 5(13): 1-11; 2011. DOI: 10.1186/1754-9493-5-13.
DECS:
dano ao paciente, Centros Cirúrgicos, Pacientes Internados, segurança do paciente