Incidência e natureza dos eventos adversos cirúrgicos no Colorado e em Utah em 1992

GAWANDE, A. A. ; THOMAS, E. J. ; ZINNER, M. J. ; BRENNAN, T. A.
Título original:
The incidence and nature of surgical adverse events in Colorado and Utah in 1992
Resumo:

Contexto: Apesar de mais de três décadas de pesquisa sobre iatrogenia, os eventos adversos cirúrgicos não foram submetidos a um estudo detalhado para identificar suas características. No entanto, tais informações seriam inestimáveis para guiar o controle de qualidade e os esforços de pesquisas destinados a reduzir a ocorrência de eventos adversos cirúrgicos. Dessa forma, realizamos uma revisão retrospectiva de prontuários médicos de 15.000 internações selecionadas aleatoriamente em hospitais do Colorado e de Utah, no ano de 1992, com o objetivo de identificar e analisar tais eventos.

Métodos: Selecionamos uma amostra representativa de hospitais de Utah e do Colorado e, em seguida, fizemos uma amostragem aleatória de 15.000 altas hospitalares não-psiquiátricas, ocorridas em 1992. Utilizando um processo de revisão de prontuários em duas etapas, baseado em estudos prévios sobre eventos adversos, estimamos a incidência, a morbidade e a evitabilidade dos eventos adversos cirúrgicos que causaram óbito, incapacidade no momento da alta ou prolongamento da internação hospitalar. Caracterizamos sua distribuição segundo o tipo de lesão e a especialidade médica, e determinamos as taxas de incidência por procedimento.

Resultados: Os eventos adversos não foram mais frequentes no cuidado cirúrgico que no não-cirúrgico. Ainda assim, 66% de todos os eventos adversos foram cirúrgicos, e a incidência anual entre pacientes internados submetidos a uma cirurgia ou entre parturientes foi de 3,0% (intervalo de confiança, 2,7% a 3,4%). Entre os eventos adversos cirúrgicos, 54% (intervalo de confiança, 48,9% a 58,9%) foram evitáveis. Identificamos 12 cirurgias comuns cujas taxas de incidência de eventos adversos foram significativamente elevadas, variando desde 4,4% para a histerectomia (intervalo de confiança, 2,9% a 6,8%) até 18,9% para o reparo de aneurisma de aorta abdominal (intervalo de confiança, 8,3% a 37,5%). Oito tipos de cirurgia também apresentaram um risco significativamente mais alto de ocorrência de eventos adversos evitáveis: revascularização de membros inferiores (11,0%), reparo de aneurisma de aorta abdominal (8,1%), ressecção de cólon (5,9%), revascularização de artéria coronária/cirurgia valvar (4.7%), ressecção transuretral da próstata ou de tumor de bexiga (3,9%), colecistectomia (3,0%), histerectomia (2,8%) e apendicectomia (1,5%). Dentre todos os eventos adversos cirúrgicos, 5,6% (intervalo de confiança, 3,7% a 8,3%) resultaram em óbito, o que representou 12,2% (intervalo de confiança, 6,9% a 21,4%) de todos os óbitos hospitalares em Utah e no Colorado. Complicações relacionadas à técnica, infecções de ferida e sangramento pós-operatório geraram quase a metade de todos os eventos adversos cirúrgicos.

Conclusão: Estes resultados servem para guiar pesquisa destinada a identificar as causas de eventos adversos cirúrgicos e iniciativas para a melhoria da qualidade

Resumo Original:

Background: Despite more than three decades of research on iatrogenesis, surgical adverse events have not been subjected to detailed study to identify their characteristics. This information could be invaluable, however, for guiding quality assurance and research efforts aimed at reducing the occurrence of surgical adverse events. Thus we conducted a retrospective chart review of 15,000 randomly selected admissions to Colorado and Utah hospitals during 1992 to identify and analyze these events.

Methods: We selected a representative sample of hospitals from Utah and Colorado and then randomly sampled 15,000 nonpsychiatric discharges from 1992. With use of a 2-stage record-review process modeled on previous adverse event studies, we estimated the incidence, morbidity, and preventability of surgical adverse events that caused death, disability at the time of discharge, or prolonged hospital stay. We characterized their distribution by type of injury and by physician specialty and determined incidence rates by procedure.

Results: Adverse events were no more likely in surgical care than in nonsurgical care. Nonetheless, 66% of all adverse events were surgical, and the annual incidence among hospitalized patients who underwent an operation or child delivery was 3.0% (confidence interval 2.7% to 3.4%). Among surgical adverse events 54% (confidence interval 48.9% to 58.9%) were preventable. We identified 12 common operations with significantly elevated adverse event incidence rates that ranged from 4.4% for hysterectomy (confidence interval 2.9% to 6.8%) to 18.9% for abdominal aortic aneurysm repair (confidence interval 8.3% to 37.5%). Eight operations also carried a significantly higher risk of a preventable adverse event: lower extremity bypass graft (11.0%), abdominal aortic aneurysm repair (8.1%), colon resection (5.9%), coronary artery bypass graft/cardiac valve surgery (4.7%), transurethral resection of the prostate or of a bladder tumor (3.9%), cholecystectomy (3.0%), hysterectomy (2.8%), and appendectomy (1.5%). Among all surgical adverse events, 5.6% (confidence interval 3.7% to 8.3%) resulted in death, accounting for 12.2% (confidence interval 6.9% to 21.4%) of all hospital deaths in Utah and Colorado. Technique-related complications, wound infections, and postoperative bleeding produced nearly half of all surgical adverse events.

Conclusion: These findings provide direction for research to identify the causes of surgical adverse events and for targeted quality improvement efforts.

Fonte:
Surgery ; 126(1): 66-75; 1999. DOI: 10.1067/msy.1999.98664.
DECS:
Dano ao paciente, infecção da ferida operatoria, hemorragia, Utah