Infecções neonatais relacionadas à assistência à saúde no Brasil: revisão sistemática e metanálise

Felipe Teixeira de Mello Freitas ; Anna Paula Bise Viegas ; Gustavo Adolfo Sierra Romero
Título original:
Neonatal healthcare-associated infections in Brazil: systematic review and meta-analysis
Resumo:

Contexto: As infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) são causas importantes de morbidade e mortalidade neonatal nos países em desenvolvimento. Fizemos uma revisão da incidência e dos patógenos envolvidos nas IRAS em bebês internados em unidades de terapia intensiva neonatal (UTINs) no Brasil.
Métodos: Fizemos pesquisas nas bases de dados MEDLINE, LILACS e SciELO de janeiro de 1995 a outubro de 2019. Dois autores examinaram os artigos potenciais de forma independente, depois que um autor os selecionou a partir da triagem de resumos de todos os artigos assinalados como relacionados a IRAS neonatais. Em seguida, foram incluídos na revisão se atendessem aos nossos critérios de inclusão. Os estudos foram avaliados com base em uma pontuação de qualidade proposta pelos autores, classificada de 0 a 1, em que 1 ponto era a melhor taxa de qualidade. Calculamos estimativas agregadas e intervalos de confiança de 95% (IC 95%) da incidência acumulada e da densidade de incidência de IRAS, nos casos em que os mesmos denominadores estavam disponíveis, utilizando a metanálise. Um efeito de qualidade foi aplicado aos modelos utilizando o software MetaXL. A heterogeneidade foi avaliada pelas estatísticas I2 e o teste Q de Cochran.
Resultados: De um total de 5596 citações identificadas, 15 estudos atenderam aos critérios de inclusão para esta revisão, que incluiu 24.408 pacientes e 312.744 pacientes-dias. A qualidade dos estudos variou entre 0,36 e 1 de acordo com a pontuação adotada, e seis (40,0%) estudos apresentaram um escore de 1. A incidência agrupada de IRAS foi de 36,1 infecções (IC 95% 22,8-50,7) e 26,3 pacientes infectados (IC 95% 18,4-35,0) por 100 pacientes. A densidade de incidência agrupada de IRAS foi de 23,5 (IC 95% 16,3-33,9) por 1000 pacientes-dias. As taxas agrupadas de densidade de incidência de infecção da corrente sanguínea e pneumonia associada à ventilação mecânica foram de 13,1 por 1000 cateteres-dias (IC 95% 4,3-40,1) e 7,9 por 1000 ventiladores-dias (IC 95% 1,1-55,5), respectivamente. Observou-se alto grau de heterogeneidade em todos os modelos (I2>98% e teste Q de Cochran com p<0,05). Estafilococos coagulase negativos (32,1%), Staphylococcus aureus (13,8%) e Klebsiella spp. (12,4%) foram os patógenos bacterianos mais prevalentes.
Conclusões: Os resultados mostram a alta incidência de IRAS neonatais em UTINs brasileiras; portanto, são necessários esforços para padronizar a coleta de dados e a notificação de IRAS, a fim de fortalecer a vigilância no país e implementar medidas de prevenção, avaliação de rotina e monitoramento atento de recém-nascidos.

Resumo Original:

Abstract
Background: Healthcare-associated infections (HAI) are important causes of neonatal morbidity and mortality in developing countries. We reviewed the incidence and the pathogens involved in HAI among infants admitted to neonatal intensive care units (NICU) in Brazil.
Methods: A search was conducted in the MEDLINE, LILACS and SciELO databases from January 1995 to October 2019. Two authors scrutinized potential articles independently, after one author selected them from screening abstracts from every article flagged as related to neonatal HAI. Then, they were included in the review if they met our inclusion criteria. The studies were evaluated based on a quality score proposed by the authors, rated 0 to 1, with 1 point as the best quality rate. Pooled estimates and 95% confidence intervals (95% CI) for HAI cumulative incidence and incidence density were calculated, when the same denominators were available, using meta-analysis. A quality effect was applied to the models using the MetaXL software. Heterogeneity was assessed using I2 statistics and the Cochran's Q test.
Results: Of a total of 5596 citations identified, 15 studies met the inclusion criteria for this review, which comprised 24,408 patients and 312,744 patient-days. Quality of the studies varied between 0.36 and 1 according to the adopted score, and six (40.0%) studies presented a score of 1. Pooled HAI incidence was 36.1 (95% CI 22.8-50.7) infections and 26.3 (95% CI 18.4-35.0) infected patients per 100 patients. Pooled HAI incidence density was 23.5 (95% CI 16.3-33.9) per 1000 patient-days. Pooled incidence density rates of bloodstream infection and ventilator-associated pneumonia were 13.1 per 1000 catheter-days (95% CI 4.3-40.1) and 7.9 per 1000 ventilator-days (95% CI 1.1-55.5), respectively. A high degree of heterogeneity was observed in all models (I2 > 98% and Cochran's Q test with p < 0.05). Coagulase-negative Staphylococci (32.1%), Staphylococcus aureus (13.8%) and Klebsiella spp. (12.4%) were the most prevalent causative bacterial pathogens.
Conclusions: The findings show high incidence of neonatal HAI in Brazilian NICU; therefore, efforts to standardize the collection and notification of HAI are needed in order to strengthen surveillance in the country and implement preventive measures, routine assessment, and close monitoring of neonates.

Fonte:
Archives of Public Health ; 1(79): 89; 2022. DOI: 10.1186/s13690-021-00611-6..