Percepções e experiências de residentes de cirurgia em relação à melhoria da segurança do paciente e à notificação de incidentes: entrevistas estruturadas com 612 residentes

Hamish Jeffrey ; Thomas Samuel ; Edward Hayter ; Jonas Schwenck ; Oliver T Clough ; Raymond E Anakwe
Título original:
The Perceptions and Experience of Surgical Trainees Related to Patient Safety Improvement and Incident Reporting: Structured Interviews With 612 Surgical Trainees
Resumo:

Contexto: Realizamos um estudo qualitativo prospectivo com residentes nos dois primeiros anos de formação em cirurgia para examinar as suas percepções e experiências em relação à melhoria da segurança do paciente e à notificação de incidentes. Procuramos explorar suas crenças, conhecimentos e opiniões sobre a melhoria da segurança do paciente, sua compreensão das iniciativas existentes e suas experiências e atitudes em relação à notificação de incidentes. Métodos: Identificamos 1.133 médicos que estavam recebendo formação em cirurgia no Reino Unido e os convidamos a participar do estudo. Recebemos respostas de 687 (60,6%) dos médicos convidados, e 612 (54%) concordaram em participar. Os participantes do estudo foram submetidos a entrevistas com perguntas estruturadas feitas por avaliadores treinados, com a oportunidade de explorar em mais detalhes qualquer tema específico identificado pelos entrevistados. Coletamos dados qualitativos relacionados aos seus conhecimentos, experiências e percepções sobre a melhoria da segurança e a notificação de incidentes. Resultados: Ao todo, 163 residentes de cirurgia (26,6%) consideraram que poderiam ter um impacto positivo na segurança do paciente. Além disso, 222 participantes (36,3%) estiveram envolvidos ou testemunharam um evento adverso de segurança do paciente, enquanto 509 (83,2%) afirmaram ter testemunhado um near miss. Só 81 participantes (13,2%) já haviam notificado um incidente de segurança do paciente em algum momento de sua carreira. Além disso, 536 participantes (87,6%) consideraram que a notificação de incidentes de segurança do paciente era um processo "negativo" ou "muito negativo" e se sentiriam desencorajados em fazê-lo em razão dessas conotações negativas. Dos 81 participantes que já haviam notificado um incidente de segurança do paciente, só 9 (11,1%) disseram ter recebido uma resposta significativa e informações sobre o seguimento dado ao evento. Vários temas foram identificados durante as entrevistas em resposta às perguntas abertas. Estes incluíram a percepção de que a melhoria da segurança do paciente é uma responsabilidade dos cirurgiões e administradores-chefe e que os residentes de cirurgia não estariam capacitados para influenciar a melhoria da segurança. Os participantes expressaram a opinião de que a notificação de incidentes prejudicava a imagem dos profissionais clínicos e do padrão do cuidado prestado, e houve relatos de uma cultura de culpabilidade e de medo de processos judiciais ou reclamações. Os participantes não consideraram que a notificação de incidentes fosse uma ferramenta eficaz para a melhoria da segurança do paciente, e aqueles que já haviam notificado eventos de segurança consideraram que estes não resultaram em mudanças e afirmaram que muitas vezes não haviam recebido nenhum retorno. Conclusões: Os residentes de cirurgia afirmam que não estão muito envolvidos na melhoria da segurança do paciente, e as suas percepções e experiências com a notificação de incidentes não são positivas. Isto representa uma oportunidade perdida. Sugerimos que, no recrutamento de profissionais cirúrgicos para o trabalho de melhoria e aprendizado associado à segurança do paciente, são necessárias oportunidades de educação, treinamento e mudança cultural postas em prática desde os primeiros anos da formação em cirurgia. Além disso, são necessárias melhorias nos processos e sistemas que permitem que os residentes participem da melhoria da segurança, tornando-os mais simples e acessíveis.

Fonte:
Cureus ; 13(12): e20371.; 2023. DOI: 10.7759/cureus.20371.