Qual é o papel da responsabilidade individual na segurança do paciente? Um estudo etnográfico multicêntrico

AVELING, E. L. ; PARKER, M. ; DIXON-WOODS, M.
Título original:
What is the role of individual accountability in patient safety? A multi-site ethnographic study
Resumo:

Existe um longo debate sobre a forma como a responsabilidade pela segurança do paciente deve ser distribuída entre os sistemas organizacionais e entre cada profissional. Embora as abordagens mais matemáticas, baseadas em regras e destinadas a promover uma «cultura justa», tenham se tornado populares, elas perpetuam uma narrativa associal e atomizada. Neste artigo, utilizamos noções da teoria da prática — que considera que os fenômenos organizacionais se realizam nas ações cotidianas, com ações individuais e condições estruturais formamdo uma dualidade dinâmica, mutuamente constitutiva — juntamente com contribuições da ciência política e da literatura sobre ética como um ponto de partida para a análise. Apresentando dados etnográficos de cinco hospitais, três deles de um país de alta renda e dois de países de baixa renda, oferecemos uma reflexão normativa e baseada em dados empíricos sobre o papel da responsabilidade pessoal, identificando a natureza coletiva do cuidado de saúde e em que medida a segurança do paciente depende das contribuições de muitas mãos. Mostramos que a responsabilidade moral sobre as ações e comportamentos é um elemento irredutível da prática profissional, mas que os indivíduos não estão, de forma alguma, "fora" e separados dos "sistemas": eles criam, modificam e estão sujeitos às forças sociais que representam uma característica inevitável de qualquer sistema organizacional; cada elemento age sobre o outro. Nosso trabalho ilustra claramente os efeitos estruturantes do contexto institucional e socioeconômico mais amplo sobre as oportunidades que uma pessoa tem de "ser boa". Esses resultados implicam que uma das principais responsabilidades das organizações e das instituições como um todo em relação à segurança do paciente é fomentar as condições da moral comum.

Resumo Original:

An enduring debate concerns how responsibility for patient safety should be distributed between organisational systems and individual professionals. Though rule-based, calculus-like approaches intended to support a 'just culture' have become popular, they perpetuate an asocial and atomised account. In this article, we use insights from practice theory - which sees organisational phenomena as accomplished in everyday actions, with individual agency and structural conditions as a mutually constitutive, dynamic duality - along with contributions from the political science and ethics literature as a starting point for analysis. Presenting ethnographic data from five hospitals, three in one high-income country and two in low-income countries, we offer an empirically informed, normative rethinking of the role of personal accountability, identifying the collective nature of the healthcare enterprise and the extent to which patient safety depends on contributions from many hands. We show that moral responsibility for actions and behaviours is an irreducible element of professional practice, but that individuals are not somehow 'outside' and separate from 'systems': they create, modify and are subject to the social forces that are an inescapable feature of any organisational system; each element acts on the other. Our work illustrates starkly the structuring effects of the broader institutional and socioeconomic context on opportunities to 'be good'. These findings imply that one of the key responsibilities of organisations and wider institutions in relation to patient safety is the fostering of the conditions of moral community.

Fonte:
Sociology of health & illness ; 38(2): 216-232; 2015. DOI: 10.1111/1467-9566.12370.
Nota Geral:

Crédito foto de Destaque: Mining Global