Sabedoria na medicina: o que ajuda os médicos depois de cometerem um erro?
Objetivo: A capacidade de confrontar abertamente a ocorrência de erros no cuidado de saúde é fundamental para a aprendizagem organizacional; porém, sabe-se pouco sobre os fatores que auxiliam um profissional a se adaptar positivamente depois de cometer um erro que resulta em danos a um paciente. Compreender que fatores ajudam os médicos a adquirir sabedoria pode servir para embasar programas educativos e de apoio entre pares, além de facilitar o desenvolvimento de ferramentas específicas de apoio aos médicos após a ocorrência de erros que resultam em danos.
Métodos: Utilizando o crescimento pós-traumático como modelo, os autores realizaram entrevistas semiestruturadas (de 2009 a 2011) com 61 médicos que haviam cometido erros graves. As entrevistas foram gravadas, transcritas profissionalmente e codificadas por dois pesquisadores (kappa 0,8), utilizando os princípios da teoria fundamentada e o software NVivo. Os codificadores também classificaram os entrevistados como exemplos de sabedoria ou não, com base no modelo tridimensional de sabedoria de Ardelt.
Resultados: Dos 61 médicos entrevistados, 33 (54%) eram homens. Em média, haviam se passado 8 anos desde a ocorrência do erro. Os participantes classificados como exemplos de sabedoria foram mais propensos a informar a ocorrência do erro ao paciente ou seus familiares (69%) do que os outros participantes (38%), p<0,03. Menos de 10% de todos os participantes disseram ter recebido treinamento para a abertura de informação diante da ocorrência de erros. Os pesquisadores identificaram oito aspectos que refletem os fatores que ajudaram os médicos considerados exemplos de sabedoria a lidar positivamente com a ocorrência de erros: falar sobre o assunto, informar a ocorrência do erro e pedir desculpas, ser perdoado, um contexto moral, saber lidar com as imperfeições, aprender/tornar-se especialista no assunto, evitar recorrências/melhorar o trabalho em equipe e ajudar/ensinar os outros.
Conclusões: O caminho trilhado por médicos que lidaram bem com a ocorrência de erros no cuidado de saúde ilustra maneiras específicas de ajudar os profissionais a passarem por essa experiência difícil, de modo a evitarem desfechos profissionais devastadores e a terem a melhor chance possível não apenas de se recuperarem, mas também de crescerem positivamente.
Purpose: Confronting medical error openly is critical to organizational learning, but less is known about what helps individual clinicians learn and adapt positively after making a harmful mistake. Understanding what factors help doctors gain wisdom can inform educational and peer support programs, and may facilitate the development of specific tools to assist doctors after harmful errors occur.
Method: Using "posttraumatic growth" as a model, the authors conducted semistructured interviews (2009-2011) with 61 physicians who had made a serious medical error. Interviews were recorded, professionally transcribed, and coded by two study team members (kappa 0.8) using principles of grounded theory and NVivo software. Coders also scored interviewees as wisdom exemplars or nonexemplars based on Ardelt's three-dimensional wisdom model.
Results: Of the 61 physicians interviewed, 33 (54%) were male, and on average, eight years had elapsed since the error. Wisdom exemplars were more likely to report disclosing the error to the patient/family (69%) than nonexemplars (38%); P < .03. Fewer than 10% of all participants reported receiving disclosure training. Investigators identified eight themes reflecting what helped physician wisdom exemplars cope positively: talking about it, disclosure and apology, forgiveness, a moral context, dealing with imperfection, learning/becoming an expert, preventing recurrences/improving teamwork, and helping others/teaching.
Conclusions: The path forged by doctors who coped well with medical error highlights specific ways to help clinicians move through this difficult experience so that they avoid devastating professional outcomes and have the best chance of not just recovery but positive growth.
