Um estudo da prevalência de eventos adversos em atenção primária em saúde na Espanha
Contexto: As práticas de saúde envolvem riscos para os pacientes; entretanto, até o presente, foram feitos poucos estudos sobre a ocorrência de eventos adversos (EAs) na atenção primária. Este estudo analisou a frequência de EAs na atenção primária na Espanha, os fatores que contribuem para sua ocorrência, sua gravidade e evitabilidade.
Métodos: Estudo transversal observacional realizado em 48 centros de atenção primária de 16 regiões da Espanha. Pedimos aos profissionais da atenção primária que avaliassem se o EA havia sido causado pelo cuidado de saúde ou se era uma consequência esperada da doença do paciente. O estudo envolveu um total de 452 profissionais da saúde que realizaram 96.047 consultas.
Resultados: Identificamos um total de 773 EAs, portanto, a prevalência pontual de EAs foi de 0,8% (intervalo de confiança [IC] de 95%, 0,76-0,85). A maior parte dos EAs (64,3%) foi considerada evitável, e apenas 5,9% foram considerados graves; estes geralmente estiveram relacionados ao uso de medicamentos (odds ratio [OR]= 4,6; IC 95%, 2,1-10,3). O fator causal mais frequente dos EAs esteve associado ao uso de medicamentos (reações adversas e erros relacionados ao uso de medicamentos); contudo, problemas na comunicação e administração estiveram na raiz de muitos EAs. Os enfermeiros notificaram mais EAs evitáveis (OR=1,9; IC 95%, 1,2-2,8).
Conclusões: Embora os EAs causem menos danos na atenção primária, um grande número de pacientes e profissionais sofrem suas consequências a cada ano. A conscientização sobre a magnitude e o impacto dos EAs é o primeiro passo no caminho para a mudança cultural necessária para atingirmos um cuidado de saúde mais seguro.
Background: Healthcare practices involve risks for patients, but there has been little research to date on the occurrence of adverse events (AE) in primary care (PC). The frequency of AE in PC in Spain, the factors that contribute to their occurrence, their severity and their preventability, were analysed.
Methods: Observational cross-sectional study was carried out in 48 PC centres in 16 regions of Spain. PC professionals were asked to assess whether the AE was caused by the healthcare or if it was an expectable consequence of the patient's underlying condition. A total of 452 healthcare professionals who attended 96 047 consultations were involved. Results: A total of 773 AE were identified, so that the point prevalence of AE was 0.8% [95% confidence interval (CI) 0.76-0.85]. A majority of AE (64.3%) were considered preventable and only 5.9% were severe, usually related to medication [odds ratio (OR)= 4.6; 95% CI 2.1-10.3]. The most frequent causal factor of the AE was associated with medication (adverse drug reactions and medication errors), but problems in communication and management were at the root of many of the AE. Nurses reported more preventable AE (OR=1.9; 95% CI 1.2-2.8).
Conclusions: In spite of an AE being less damaging in PC, large numbers of patients and professionals suffer their consequences each year. An awareness of the magnitude and impact of AE is the first step on the road to the cultural change necessary for achieving safer healthcare.
