Baixas taxas de adesão à higienização das mãos antes do uso de luvas

Autor pessoal: 
HAKKO, E.; RASA, K.; KARAMAN, I. D.; ENUNLU, T.; CAKMAKCI, M.;
Título original: 
Low rate of compliance with hand hygiene before glove use
Resumo: 

Prezado editor, A principal causa de infecções hospitalares é a transmissão de microrganismos pelas mãos de profissionais da saúde (PSs).1 Embora este fato já seja conhecido há muitos anos, a adesão aos procedimentos de higienização das mãos continua a apresentar taxas inaceitavelmente baixas. As taxas de adesão diferem entre as instituições, chegando a 20% nos piores casos.2 Em 2009, realizamos um estudo observacional no Centro Médico de Anadolu, em Kocaeli, Turquia, um hospital privado sem fins lucrativos com 209 leitos e 870 funcionários. Dez enfermeiros treinados que trabalhavam em enfermarias clínicas, unidades de terapia intensiva e laboratórios realizaram observações de oportunidades de higienização das mãos durante um período de três meses. Os PSs dessas áreas não foram informados da observação. Neste estudo, as oportunidades de higienização das mãos foram definidas como: antes e depois de procedimentos invasivos, após o contato com sangue e líquidos corporais, antes e depois do uso de luvas, antes da preparação de medicamentos, entre dois pacientes, após o exame físico e antes e depois do cuidado de feridas. A higienização das mãos foi considerada necessária independentemente do uso ou troca de luvas. Preparamos um formulário que incluía todas essas situações. A adesão ao protocolo de higienização das mãos foi definida como a lavagem das mãos com água e sabão ou o uso de uma solução de álcool-gel. Ao longo de 175 horas de observação, documentamos 826 oportunidades de higienização das mãos. Dentre essas observações, 245 envolveram médicos (29,6%), 407 envolveram enfermeiros (49,2%), 81 envolveram técnicos (9,8%) e 93 envolveram outros PSs (11,2%). Com relação ao método de controle de infecções, 61,41% dos PSs preferiram lavar as mãos com água e sabão, 21,2% preferiram usar luvas e 4,3% usaram mais de um método. A taxa média de adesão foi de 59,1% para todas as categorias. Nossa análise demonstrou pouca variação entre enfermeiros, técnicos e outros PSs; assim, esses grupos foram combinados, e a análise foi então realizada entre médicos e não-médicos. A taxa de adesão foi de 40,8% entre médicos e de 66,8% entre não-médicos. Os médicos apresentaram uma adesão significativamente mais baixa ao protocolo de higienização das mãos (p < 0,0001). A adesão após o exame do paciente foi de 58,3% entre os médicos e de 93,0% entre os não-médicos (p < 0,0001). A adesão antes do uso de luvas foi de 3% entre os médicos e de 14% entre os não-médicos, sem diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos. Observamos resultados semelhantes na adesão à higienização das mãos antes de procedimentos invasivos nos quais os PSs usaram luvas. Mesmo com uma alta porcentagem de uso de luvas (>75%), a higienização das mãos antes de calçar as luvas foi <5% nos dois grupos, sem diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p = 0,23). As luvas são uma barreira importante para a adesão à higienização das mãos.3 Em 198 episódios de uso de luvas, a adesão à higienização das mãos antes de sua colocação foi de 16,1% (14,1% por lavagem das mãos e 2,0% pelo uso de álcool-gel). Embora pareça existir a crença disseminada de que o uso de luvas é suficiente para o controle de infecções, é importante reconhecer que a higienização das mãos é necessária independentemente do uso ou troca de luvas. Os PSs lavam as mãos quando pensam que estão sujas; assim, a taxa de adesão foi mais alta após o contato com o sangue e líquidos corporais (96,3%). Lausten et al14 relataram um uso mais frequente de soluções à base de álcool após a execução de procedimentos clínicos que antes de tais procedimentos (69,3% vs 63,2%). Thompson et al5 revelaram que 27% dos PSs lavavam as mãos antes de calçar as luvas. Hannigan e Shields6 observaram que as luvas dentro de caixas são contaminadas por mãos não lavadas. Para minimizar este efeito, aconselharam a higienização das mãos antes do momento de calçar as luvas e a prática de manter as luvas estéreis em áreas críticas. Os autores relataram uma alta taxa de uso de luvas antes de procedimentos invasivos e do cuidado de feridas, tanto entre médicos como entre não-médicos (82,4% e 78,9%, respectivamente). O uso de luvas estimula os PSs a tocarem qualquer outra parte do ambiente com as luvas contaminadas. Girou et al7 verificaram uma adesão de 51,5% à higienização das mãos após a remoção das luvas. Os autores observaram que o uso inadequado de luvas durante atividades de cuidado clínico aumenta o potencial de transmissão cruzada de bactérias e o risco de infecções associadas ao cuidado de saúde em pacientes. Em nosso estudo, a taxa de adesão após a remoção das luvas foi de 80,0%. Esta taxa mais elevada pode estar ligada à sensação, por parte dos PSs, de terem as mãos sujas e desejarem eliminar o talco residual. Em conclusão, nosso estudo, além de determinar o nível atual de adesão à higienização das mãos, também definiu os pontos onde é possível fazer melhorias. A baixíssima taxa geral de adesão antes do uso de luvas também nos estimulou a enfocar nossos futuros programas de educação na higienização das mãos nessa área.

Data de publicação: 
2011
Fonte: 
Am J Infect Control; 39(1): 82-83, 2011.
Idioma do conteúdo: 
doi: 
10.1016/j.ajic.2010.06.025