Enfermeira do Sabará Hospital Infantil ganha prêmio internacional

Autor pessoal: 
Annalu Pinto da Silva;
Resumo: 

A ganhadora deste ano do prêmio ‘Erin’s Campaign for Kids (ECK) Nursing Award’ na categoria ‘enfermeira internacional’ foi Gisely Schrot, enfermeira da Qualidade Assistencial do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo. A premiação, promovida pela instituição Sepsis Alliance, reconhece profissionais de saúde que demostram excelência em seu trabalho e um compromisso de melhorar os resultados entre pacientes com sepse, que é uma inflamação generalizada do próprio organismo em resposta a uma infecção que pode estar em qualquer órgão.

Gisely Schrot foi escolhida por causa de seu trabalho na implementação do protocolo de sepse no hospital em 2018. Esse protocolo preconiza a realização, em até uma hora, do ‘kit sepse’, que inclui administração de volume, coleta de exames e administração de antibiótico. “Ficamos impressionados com o seu trabalho de implementação do protocolo de sepse no Sabará Hospital Infantil, seu compromisso de melhorar o atendimento ao paciente e a dedicação para disseminar a conscientização sobre a sepse”, disse o texto da premiação.

A enfermeira é pós-graduada em Gestão da Qualidade, com MBA em Gestão de Negócios. Tem experiência de 6 anos na área de qualidade, atuando com padrões de acreditação hospitalar, implantação e gerenciamento de protocolos clínicos, melhoria de processos assistenciais, auditorias internas, gestão de indicadores de qualidade e segurança e gerenciamento de risco proativo e reativo.

“Estou orgulhosa de receber esse reconhecimento pelo trabalho desenvolvido para a qualidade e segurança dos pacientes. Agradeço à equipe do Sabará pela parceria neste projeto. No futuro, espero que a população esteja melhor preparada para o reconhecimento precoce da sepse”, disse Gisely em matéria publicada no portal do hospital.

Nesta entrevista, Gisely Schrot fala sobre a identificação da sepse e o protocolo implementado no Sabará Hospital Infantil.

Proqualis: Como foi o passo a passo para a implementação do protocolo de sepse no hospital?

Gisely Schrot: Para a implantação de novos protocolos, nos baseamos na metodologia de gestão de projetos, com cronograma de execução, definição de estrutura necessária e elaboração do protocolo com base nas melhores práticas descritas na literatura. Além disso, elaboramos o check list de apoio à decisão clínica, definimos a priorização do paciente na triagem do pronto-socorro e, a partir da identificação de um caso de sepse na Unidade de Internação (utilização do código amarelo), realizamos reuniões de alinhamento com setores envolvidos (farmácia, para liberação do antibiótico rapidamente; e laboratório de análises clínicas, para priorização da coleta e liberação do resultado), definimos indicadores de processo e resultado para gerenciamento do protocolo, realizamos treinamento a distância contendo base teórica para discussão presencial de casos junto à equipe multiprofissional (enfermeiro, médico, fisioterapeuta e farmacêutico) e realizamos projeto-piloto durante três meses para adequação dos processos necessários, antes do início efetivo do gerenciamento do protocolo.

A partir deste momento, todos os pacientes incluídos no protocolo foram acompanhados, para identificarmos se o diagnóstico e o tratamento estavam sendo feitos conforme o preconizado pelo protocolo. Recentemente, implantamos o feedback individual direcionado aos médicos e enfermeiros responsáveis pelo cuidado ao paciente com sepse. Essa estratégia visa educar os profissionais e dar um retorno a respeito da adesão ao pacote de primeira hora de tratamento e da completude do check list de apoio à decisão clínica – fator crítico de sucesso para coleta de dados do protocolo.
 
Além da implementação do protocolo, realizamos campanha de divulgação para o público leigo, principalmente na semana do dia 13 de setembro, em que é comemorado o Dia Mundial da Sepse – cujo objetivo é conscientizar a população em geral e estimular a utilização de protocolos dentro das instituições.

Proqualis:  O que é o kit sepse?
Gisely Schrot: O kit sepse corresponde ao pacote de primeira hora para o tratamento da sepse. Esse pacote engloba: administração de volume, coleta de um kit padronizado de exames laboratoriais (incluindo hemocultura) e administração do antibiótico de acordo com o foco e a origem da infecção. Como o reconhecimento e o tratamento precoce da sepse é primordial para a redução da mortalidade, faz-se necessária a coordenação de diversas equipes do hospital para que se priorize esse diagnóstico e o tratamento (enfermagem, corpo clínico, laboratório de análises clínicas e farmácia).

Proqualis: Como a sepse pode ser identificada?
Gisely Schrot: A sepse é uma inflamação generalizada do próprio organismo em resposta a uma infecção que pode estar em qualquer órgão. As causas mais comuns são quadros graves de pneumonia, infecções urinárias e abdominais. As definições de sepse variam de acordo com a gravidade: sepse, sepse grave e choque séptico.

A sepse se caracteriza pela presença de dois ou mais sinais de SIRS (síndrome da resposta inflamatória sistêmica): hipertermia ou hipotermia, alteração de frequência cardíaca ou respiratória ou alteração de leucócitos, concomitantemente à presença de quadro infeccioso confirmado ou suspeito. Em crianças, o desafio está em categorizar os sinais de SIRS de acordo com a faixa etária. A sepse deve ser suspeitada em todos os pacientes com quadro infeccioso e tratada com antibióticos adequados ao quadro.

Já a sepse grave caracteriza-se pela presença de sepse e disfunção cardiovascular ou respiratória ou duas ou mais disfunções orgânicas entre as demais (neurológica, hepática, renal ou hematológica). Ou seja, em caso de infecção, fique atento ao aparecimento de: falta de ar, tontura, pressão baixa, diminuição da urina, sonolência, confusão ou agitação. Estes são alguns sinais de disfunção orgânica – sinais visíveis de que o organismo está combatendo a infecção. Nesse momento, é importante reconhecer a disfunção orgânica o quanto antes e iniciar o pacote de primeira hora, de modo a reduzir a probabilidade de evolução desfavorável e, consequentemente, choque séptico.

O choque séptico apresenta-se quando, na reavaliação da resposta do organismo após o pacote de primeira hora, a disfunção cardiovascular se mantém – sendo necessária a utilização de drogas vasoativas.

Em pediatra, ainda após o choque séptico, há o choque resistente a catecolaminas, podendo ser consideradas outras patologias (como investigação de derrame pericárdico ou pneumotórax) ou a necessidade de ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea).
 
Vale ressaltar que, quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento da sepse, menores são as taxas de mortalidade. Por esse motivo, é extremamente importante a conscientização da população a respeito dessa situação, por meio de campanhas de divulgação para o público leigo.
 

Idioma do conteúdo: 
Cidade de publicação: 
Rio de Janeiro
País de publicação: 
Brasil
Data de publicação: 
2018