Entrevista com o médico geriatra José Carlos Aquino de Campos Velho, um dos coordenadores da iniciativa Slow Medicine no Brasil

Resumo: 

Consultas rápidas, profissionais apressados, muitas vezes médicos desconhecidos frente a pacientes anônimos, uma realidade que não favorece a prática médica de qualidade, pautada na segurança do paciente. A Medicina sem Pressa, tradução livre para o português da iniciativa internacional Slow Medicine, têm como objetivo trazer a melhor proposta para o paciente em sua singularidade, compartilhada com ele, respeitando seus valores para a decisão terapêutica. “Trata-se de uma filosofia de trabalho que resgata da ciência e da arte de cuidar, com a valorização da relação médico-paciente, uso cuidadoso da tecnologia para a tomada de decisões, uso racional de medicamentos, um cuidado centrado na pessoa”, explica o médico geriatra José Carlos Aquino de Campos Velho, um dos coordenadores da iniciativa Slow Medicine no Brasil. 

José Carlos fala que o tempo para ouvir o paciente é parte essencial da abordagem médica e enfatiza a escuta cuidadosa e respeitosa. “Estabelecer um sólido relacionamento com os pacientes, e uma vivência em comum envolvendo o paciente, o profissional de saúde, a família e sua comunidade, uma relação que se prolongue ao longo do tempo, permitindo a criação de laços estreitos e duradouros. Essa aliança terapêutica traz um resultado melhor para o paciente”, afirma.

O primeiro contato com a iniciativa Slow Medicine por José Carlos aconteceu em um congresso internacional de geriatria nos EUA em uma mesa redonda sobre Humanidades Médicas em Geriatria, onde conheceu Dennis McCullough, autor do livro My Mother Your Mother, uma obra essencial da Medicina sem Pressa. .Após essa apresentação, o geriatra participou de outros eventos e finalmente iniciou a divulgação dessa filosofia no Brasil. “A geriatria é uma das especialidades médicas onde a reflexão sobre o risco e o benefício de investigações diagnósticas e terapias invasivas é mais premente. Nesse sentido, o cuidado com o idoso, pode significar fazer menos, pois estamos visando principalmente a qualidade de vida. A Slow Medicine vem de encontro com essa perspectiva, de oferecer alívio aos pacientes em algumas situações clínicas, mais do que uma luta obstinada pela cura. A busca essencial é o cuidado, a melhora, o alívio e o suporte”, fala. 

Entretanto, a filosofia da Medicina sem pressa não é especificamente para a especialidade da geriatria. “Embora meu envolvimento com o movimento tenha iniciado na geriatria, não é específica exclusivamente a essa especialidade, é uma filosofia de trabalho podendo se aplicar a todas especialidades. Isso porque tem como pilar a valorização do tempo como instrumento da prática médica, da relação médico–paciente, e tomada de decisão centrada e compartilhada com o paciente. Posso citar alguns exemplos, na pediatria na tomada de decisão do uso de antibióticos como primeira escolha de terapêutica em infecções não complicadas de vias aéreas superiores, na obstetrícia pela escolha do parto normal sempre que seguro e viável – o que corresponde a grande maioria dos casos, dentre outras. Importante também dizer que, esse movimento não se restringe ao consultório e /ou ambulatório médico, podendo ser incentivado no domicílio, em instituições de longa permanência, no ambiente hospitalar, e mesmo na unidade de terapia intensiva. Outro exemplo é a oncologia, na avaliação cautelosa, junto ao paciente, em relação às escolhas de investigações diagnósticas e no tratamento, particularmente naqueles pacientes em estágio avançado da doença, onde a ponderação e a cautela devem ser a tônica”, finaliza. 
 

Saiba mais: http://slowmedicine.com.br

Data de publicação: 
2016