O que significa o “cuidado seguro” no contexto dos serviços de saúde mental na comunidade? Uma exploração qualitativa das perspectivas dos usuários dos serviços, cuidadores e profissionais da saúde na Inglaterra

Phoebe Averill
Bryher Bowness
Claire Henderson
Nick Sevdalis
Título original
What does 'safe care' mean in the context of community-based mental health services? A qualitative exploration of the perspectives of service users, carers, and healthcare providers in England
Resumo

CONTEXTO: Tradicionalmente, as questões ligadas à segurança do paciente em saúde mental receberam pouca atenção na pesquisa empírica e nas agendas de melhoria da segurança, mas estão cada vez mais presentes nos discursos de melhoria da qualidade em saúde. As abordagens dominantes para a segurança derivam de perspectivas estreitas sobre a gestão de riscos clínicos, mas as evidências existentes destacam as limitações dessa caracterização. Embora os cuidados de saúde mental sejam cada vez mais oferecidos em ambientes comunitários, as narrativas sobre a segurança dizem respeito principalmente à saúde mental em hospitais. Por isso, realizamos um estudo baseado em entrevistas qualitativas exploratórias e um grupo focal para examinar como os usuários dos serviços, cuidadores e profissionais da saúde conceptualizam a “segurança do paciente” em saúde mental na comunidade.
MÉTODOS: Realizamos entrevistas semiestruturadas e um único grupo focal com usuários adultos de serviços de saúde mental na comunidade no Reino Unido (n=13), seus cuidadores (n=12) e profissionais (n=18), que apresentaram uma diversidade de características e experiências. Os dados do estudo foram analisados seguindo uma abordagem reflexiva de análise temática.
RESULTADOS: Desenvolvemos quatro temas principais, refletindo conceitos contrastantes sobre a segurança nesse contexto de atenção; observamos que a forma de pensar dos participantes evoluiu ao longo das discussões. O conceito de “Inércia sistêmica: ameaças à segurança” caracteriza os desafios sistêmicos arraigados, que tornam os participantes impotentes para defender o cuidado seguro ou para prestá-lo. O conceito de “Gerir os riscos apresentados pelos usuários dos serviços” equipara o “cuidado seguro” à mitigação dos riscos que os usuários podem representar para si mesmos ou para outros quando estão doentes, ou os riscos às pessoas ao seu redor. O conceito de “Não se limitar a responder aos riscos: todos têm um papel na criação da segurança” reconhece a capacidade dos profissionais de causar ou prevenir proativamente os danos aos pacientes. Por fim, o conceito de “Objetivos da segurança: o destino final ainda não está claro” posiciona a segurança como um trabalho em curso, que exige agendas de segurança ambiciosas, priorizando objetivos que melhorem significativamente a vida dos usuários dos serviços.
CONCLUSÕES: Nossos resultados têm implicações para a compreensão e melhoria da segurança do paciente em ambientes de saúde mental na comunidade, deixando claro que os objetivos da melhoria não devem se limitar a gerir os riscos e a prevenir a deterioração — devem também abordar as preocupações centradas nos pacientes e seus cuidadores, incluindo as práticas que provocam a sensação de insegurança nas pessoas.
 

Resumo original

BACKGROUND: Having traditionally received limited attention in empirical research and safety improvement agendas, issues of patient safety in mental healthcare increasingly feature in healthcare quality improvement discourses. Dominant approaches to safety stem from narrow clinical risk management perspectives, yet existing evidence points to the limitations of this characterisation. Although mental healthcare is increasingly delivered in community-based settings, narratives of safety pertain primarily to hospital-based mental healthcare. Therefore, through exploratory qualitative interviews and one focus group, we aimed to examine how service users, carers, and healthcare providers conceptualise 'patient safety' in community-based mental healthcare. METHODS: Semi-structured interviews and a single focus group were conducted with users of UK community-based mental healthcare provision for adults (n = 13), their carers (n = 12), and providers (n = 18), who were diverse in characteristics and experiences. Study data were analysed in accordance with a reflexive approach to thematic analysis. FINDINGS: Four key themes were developed, reflecting contrasting conceptualisations of safety in this care context, where participant thinking evolved throughout discussions. 'Systemic inertia: threats to safety' characterises the entrenched, systemic challenges which rendered participants powerless to advocate for or deliver safe care. 'Managing the risks service users present' equates 'safe care' to the mitigation of risks service users may pose to themselves or others when unwell, or risks from those around them. 'More than responding to risks: everyone plays a role in creating safety' recognises providers' agency in causing or proactively preventing patient harm. Finally, 'The goals of 'safety': our destination is not yet in sight' positions safety as a work in progress, calling for ambitious safety agendas, giving primacy to goals which meaningfully improve service users' lives. CONCLUSIONS: Our findings have implications for the understanding and improvement of patient safety in community-based mental healthcare settings, where improvement objectives should transcend beyond management of risks and preventing deterioration to address patient and carer-centred concerns, including practices that make people feel unsafe.
 

Revista
BMC Health Services Research
Data de publicação
Volume
24
Fascículo
1
doi
10.1186/s12913-024-11473-3