Políticas de segurança do paciente devem incorporar avaliação e prevenção do risco de incêndio em hospitais

Autor pessoal
GIACOMINI, PAULO

Há cerca de dois anos, uma secadora gerou um princípio de incêndio na lavanderia do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo. Rapidamente, um funcionário do setor pegou o extintor de incêndio apropriado e debelou o fogo. Não foi o que aconteceu no AMRI Hospital, em Calcutá, na Índia, há cerca de dois meses, onde automóveis e cilindros inflamáveis dividiam o subsolo. Foi lá que começou um incêndio que levou a óbito 89 pessoas, entre funcionários e pacientes.

“No HCor, se houver um princípio de incêndio no estacionamento, ele ficará restrito àquele local”, afirma o coordenador de segurança e meio-ambiente do hospital, Demóstenes Augustos Lopes de Freitas, de 50 anos, 15 deles trabalhando na instituição. Questionado se o simples fato de automóveis dividirem espaço com cilindros ou produtos inflamáveis não seria uma probabilidade de tal ocorrência, Freitas discorda.

“É preciso saber por que houve acúmulo de inflamáveis no local e por que estavam desprotegidos”, avalia Freitas, engenheiro mecânico pós-graduado em engenharia de segurança do trabalho. No HCor, os inflamáveis são guardados em armários com portas à prova de fogo. Além disso, há inspeções rotineiras do Corpo de Bombeiros. Outro dificultador de propagação de incêndios são os chuveiros automáticos (sprinklers), dispostos em todos os pavimentos do hospital. Os sprinklers são acionados automaticamente após detectarem calor, fumaça ou um princípio de incêndio.

Além dos chuveiros automáticos, das constantes inspeções do Corpo de Bombeiros, uma legislação severa regula os procedimentos de segurança contra incêndios nos hospitais brasileiros. Essa legislação obriga os hospitais a terem uma brigada contra incêndio treinada periodicamente, além de brigadistas em cada pavimento. Fazem parte do treinamento, realizado a cada seis meses, simulações de abandono do prédio e de remoção de pacientes. Segundo Freitas, essas simulações são filmadas e os procedimentos filmados são avaliados: os erros são corrigidos e os acertos são aprimorados.

Afora isso, o HCor adotou um protocolo com quatro passos para a segurança contra esses eventos em caso de suspeita: 1) chamar o grupo de segurança do trabalho por telefone (em número disponível 24 horas por dia); 2) não correr antes de soar o alarme; soar o alarme; 3) combater o fogo (nos treinamentos, brigadistas ensinam aos demais funcionários como usar o arsenal contra incêndio), e 4) usar a saída de emergência.

Freitas considera extremamente importante o respeito à legislação. “Também somos acreditados pela Joint Commission International (JCI) e levamos a sério todos os procedimentos, além de obedecermos a regra de seguir a norma mais rigorosa.”

Segundo informações divulgadas à época, o hospital indiano já havia sido alertado do risco de incêndio. Após o evento, administradores e diretores do hospital foram detidos e indiciados. “A responsabilidade técnica pela segurança é dos engenheiros e abrange até o mais alto nível da instituição”, diz Freitas, afirmando que antes de se preocupar em prestar contas de um evento como o ocorrido na Índia, preocupa-se com a prevenção de incêndios.

Por Paulo Giacomini, de São Paulo