O habito do ‘resgate’ e seu significado na implementação de sistemas de resposta rápida no cuidado de pacientes agudos

MACKINTOSH, N. ; HUMPHREY, C. ; SANDALL, J.
Título original:
The habitus of 'rescue' and its significance for implementation of rapid response systems in acute health care
Resumo:

A necessidade de estudar a segurança do paciente e de melhorar a qualidade e a consistência do cuidado de saúde em ambientes hospitalares de cuidado agudo tem sido destacada por muitos relatórios britânicos e internacionais. Quando os pacientes de uma enfermaria hospitalar se tornam agudamente doentes, os profissionais, pacientes e familiares muitas vezes têm uma janela de oportunidade para contribuir com o processo de “resgate”, interferindo na trajetória da deterioração clínica. Este artigo explora os processos sociais e institucionais associados à prática do resgate e suas implicações para a implementação e a efetividade dos sistemas de resposta rápida (SRRs) no cuidado de pacientes agudos. Realizamos um estudo de caso etnográfico em dois hospitais britânicos no ano 2009 (centrado nos diretores médicos de cada organização). A coleta de dados envolveu 180 horas de observação, 35 entrevistas com profissionais (médicos, enfermeiros, profissionais de saúde auxiliares e administradores) e a revisão de documentos. A análise baseou-se na lógica de Bordieu sobre a prática e em seu conceito relacional sobre o "campo" da enfermaria clínica geral. Três temas ilustraram a natureza do trabalho de resgate dentro do campo e regras coletivas que guiam suas práticas de distinção ocupacional: (1) o "trabalho sujo" de registro dos sinais vitais e sua diferenciação do trabalho diagnóstico interpretativo (de ordem mais alta); (2) a ordem moral de legitimidade nos pedidos de ajuda adicional; (3) a deferência profissional e o controle administrativo seletivo sobre o trabalho de resgate. O discurso do resgate serviu como um meio de exercer maior controle sobre a incerteza clínica. A aquisição do "capital de resgate" permitiu o posicionamento social dos profissionais de saúde auxiliares, dos enfermeiros e dos médicos e moldou o uso dos SRRs nas enfermarias. O trabalho de demarcação de fronteiras, a legitimação profissional e as reivindicações de jurisdição definiram a prática social do resgate, pois os profissionais clínicos tiveram que equilibrar as preocupações profissionais, organizacionais e de segurança no interior do campo. Este artigo apresenta uma compreensão matizada da segurança do paciente na linha de frente do cuidado de saúde, questionando noções sobre as "soluções rápidas" para a segurança.

Resumo Original:

The need to focus on patient safety and improve the quality and consistency of medical care in acute hospital settings has been highlighted in a number of UK and international reports. When patients on a hospital ward become acutely unwell there is often a window of opportunity for staff, patients and relatives to contribute to the 'rescue' process by intervening in the trajectory of clinical deterioration. This paper explores the social and institutional processes associated with the practice of rescue, and implications for the implementation and effectiveness of rapid response systems (RRSs) within acute health care. An ethnographic case study was conducted in 2009 in two UK hospitals (focussing on the medical directorates in each organisation). Data collection involved 180 h of observation, 35 staff interviews (doctors, nurses, health care assistants and managers) and documentary review. Analysis was informed by Bourdieu's logic of practice and his relational concept of the 'field' of the general medical ward. Three themes illustrated the nature of rescue work within the field and collective rules which guided associated occupational distinction practices: (1) the 'dirty work' of vital sign recording and its distinction from diagnostic (higher order) interpretive work; (2) the moral order of legitimacy claims for additional help; and (3) professional deference and the selective managerial control of rescue work. The discourse of rescue provided a means of exercising greater control over clinical uncertainty. The acquisition of 'rescue capital' enabled the social positioning of health care assistants, nurses and doctors, and shaped use of the RRS on the wards. Boundary work, professional legitimation and jurisdictional claims defined the social practice of rescue, as clinical staff had to balance safety, professional and organisational concerns within the field. This paper offers a nuanced understanding of patient safety on the front-line, challenging notions of the 'quick fix' safety solution.

Fonte:
Social Science & Medicine ; 120: 233–242; 2014. DOI: 10.1016/j.socscimed.2014.09.033.
DECS:
comportamento cooperativo, serviços médicos de emergência, equipe de respostas rápidas de hospitais, hospitalização, entrevistas como assunto, observação, pesquisa qualitativa, qualidade da assistência à saúde