Explicando o inexplicável – o impacto das atitudes dos médicos em relação aos processos judiciais sobre seu comportamento no momento de informar a ocorrência de um incidente
Justificativa e objetivos: Este estudo teve como objetivo examinar de forma aprofundada as emoções e os pensamentos dos médicos em relação aos processos judiciais por má prática médica e de que forma isto se relaciona com o seu comportamento no momento de informar a ocorrência de um incidente.
Métodos: Trinta e um médicos holandeses foram entrevistados e responderam a breves questionários sobre processos por má prática médica. Utilizamos a análise hierárquica de conglomerados para identificar conglomerados de médicos. Também analisamos dados qualitativos adicionais.
Resultados: Observamos uma grande variação nas atitudes dos médicos em relação aos processos judiciais; essas atitudes não se relacionam de forma direta com seu comportamento no momento de informar a ocorrência de um incidente. Com base nas respostas, podemos dividir os médicos em dois conglomerados: um grupo com atitude positiva e outro com atitude negativa. Muitos dos médicos com atitude negativa relutam em revelar a ocorrência de incidentes (embora 6 dentre 15 não relutem), enquanto a maioria dos médicos com atitude positiva (12 de 16) não demonstra tal relutância. A divulgação ou não de incidentes, o conteúdo da divulgação e a forma como é feita dependem de uma interação complexa entre as emoções e os pensamentos dos médicos sobre processos judiciais, e não apenas do medo que estes profissionais têm de serem processados, como pressupõem muitos estudos.
Conclusões: Devido à variabilidade nas atitudes dos médicos diante dos processos judiciais e em seu comportamento no momento de informar a ocorrência de um incidente, não será fácil atingirmos a "abertura", defendida por muitos, em relação aos incidentes no cuidado de saúde. Algumas das medidas que podem ser adotadas para reduzir a sensação de estresse e promover o comportamento de abertura de informação são: estabelecer um sistema de tutoria no qual os médicos possam compartilhar e discutir suas diferentes atitudes e princípios com relação à abertura de informação, ensinar os estudantes de medicina e médicos iniciantes sobre a abertura de informação e explicar como organizar um mecanismo de apoio emocional e jurídico em caso de processo judicial.
Rationale, Aims and Objectives: This study aims to provide in-depth insight into the emotions and thoughts of physicians towards malpractice litigation, and how these relate to their incident disclosure behaviour.
Methods: Thirty-one Dutch physicians were interviewed and completed short questionnaires regarding malpractice litigation. We used hierarchical cluster analysis to identify physician clusters. Additional qualitative data were analysed.
Results: Physicians vary largely in their attitude towards malpractice litigation, and their attitude is not straightforward related to their disclosure behaviour. Based on their responses physicians could be divided into two clusters: one with a positive and one with a negative attitude. Physicians with a negative attitude showed often, but also 6 out of 15 not, a reluctance to disclose, whereas the majority in the positive attitude cluster (12 out of 16) showed no reluctance. If, what and how physicians disclose incidents depends on a complex interplay of their emotions and thoughts regarding litigation, and not only on their fear of litigation as many studies assume.
Conclusions: Due to the variation among physicians in their litigation attitude and behaviour in terms of incident disclosure the oft-heard call for 'openness' about medical incidents will not be easy to achieve. A coaching system in which physicians can share and discuss their differing attitudes and disclosure principles, teaching medical students and junior physicians about disclosure, and explaining how to organize emotional and legal support for oneself in case of litigation could decrease stress feelings and support open disclosure behaviour.
