A formação dos médicos acarreta um excesso de confiança que prejudica a abertura de informação diante da ocorrência de erros?
Objetivo: Embora a transparência seja fundamental para reduzir os erros no cuidado de saúde, os médicos não se sentem à vontade para informar a ocorrência de erros. Procuramos avaliar se o excesso de confiança está relacionado à relutância dos médicos em admitir que um erro pode ter sido cometido.
Métodos: Apresentamos a médicos e estudantes de Medicina de 3 centros médicos universitários um caso clínico que apresentava uma menina com infecção urinária e alergia à penicilina, pedindo-lhes que avaliassem seu nível de confiança em cada etapa do diagnóstico e do tratamento. Quando a paciente apresentou anafilaxia após a administração de cefalosporina, perguntamos aos entrevistados sobre sua disposição para admitir que um erro poderia ter sido cometido e sobre o seu nível de desconforto em fazê-lo. Analisamos os níveis de confiança, precisão, disposição para admitir o erro e desconforto.
Resultados: Os entrevistados relataram altos níveis de confiança em suas respostas às perguntas sobre diagnóstico e tratamento, mesmo quando estavam errados — o que indica uma percepção inadequada sobre sua confiança e precisão. Comparados aos estudantes, os médicos apresentaram níveis significativamente mais altos de confiança, menor precisão e uma menor disposição para admitir os erros. Embora a maioria dos entrevistados tenha concordado que, em princípio, a ocorrência de erros deve ser revelada, no caso apresentado um número significativamente menor concordou em admitir que um erro pode ter ocorrido ou em dizê-lo explicitamente à família. Encontramos uma associação entre o excesso de confiança e o desconforto com a abertura de informações sobre a ocorrência de erros.
Conclusões: Nosso estudo mostra que o excesso de confiança está associado à formação médica e à relutância em admitir erros, o que pode contribuir para a dificuldade em utilizar os eventos de segurança para a melhoria da qualidade. A formação de médicos para que tenham não só conhecimentos, mas também um nível adequado de autoquestionamento é um desafio educacional.
Purpose: Although transparency is critical for reducing medical errors, physicians feel discomfort with disclosure. We explored whether overconfidence relates to physician's reluctance to admit that an error may have occurred.
Method: At 3 university medical centers, a survey presented a clinical vignette of a girl with urinary infection and penicillin allergy to medical students and physicians, asking them to rate their level of confidence for each step of the diagnosis and management. After anaphylaxis develops after cephalosporin administration, respondents were asked about their willingness to admit that an error might have occurred and to rate their level of discomfort in doing so. We analyzed levels of confidence, accuracy, willingness to admit mistake, and discomfort.
Results: Respondents reported high levels of confidence for their answers to the questions of diagnosis and management, even when wrong-indicating miscalibration of confidence and accuracy. Compared with students, physicians had significantly higher levels of confidence, lower accuracy, and lower willingness to admit mistake. Although most respondents agreed in principle that errors should be disclosed, in the presented case, significantly less agreed to admit that a mistake might have occurred or to say so explicitly to the family. An association was found between overconfidence and discomfort with disclosure.
Conclusions: Our study shows overconfidence associated with clinician's training and with reluctance to admit mistake, suggesting a contributing role to the difficulty in leveraging safety events into quality improvement. Training physicians to have both knowledge and adequate self-doubt is an educational challenge.
Online First