Avaliação da passagem de casos clínicos no contexto de um referencial de comunicação

HASAN, H. ; ALI, F. ; BARKER, P. ; TREAT, R. ; PESCHMAN, J. ; MOHOREK, M. ; REDLICH, P.
Título original:
Evaluating handoffs in the context of a communication framework
Resumo:

Contexto: A implementação de restrições obrigatórias nos horários de trabalho de médicos residentes tem levado a um aumento no número de passagens de casos e, consequentemente, a maiores oportunidades para a ocorrência de erros durante as transições no cuidado de saúde. Boa parte da literatura atual sobre a passagem de casos é empírica, e os especialistas recomendam o estudo da passagem de casos a partir de um referencial estabelecido.

Métodos: Realizamos um estudo prospectivo numa única instituição para avaliar o processo de passagem de casos de pacientes cirúrgicos no contexto de um referencial de comunicação publicado. Desenvolvemos ferramentas de avaliação para a fonte, para o receptor e para o observador a fim de identificar fatores que afetam o processo de passagem de casos, avaliando as correlações interavaliadores. A análise dos dados foi feita através de correlações de Pearson/Spearman e regressões lineares multivariadas. A consistência dos avaliadores foi analisada por meio de correlações intraclasse.

Resultados: Observamos um total de 126 passagens de casos. As avaliações foram preenchidas por 1 observador (N=126), 2 observadores (N=23), 2 receptores (N=39), 1 receptor (N=82) e 1 fonte (N=78). Uma passagem de casos média (± desvio padrão) incluiu 9,2 (± 4,6) pacientes, durou 9,1 (± 5,4) minutos e teve 4,7 (± 3,4) distrações registradas pelo observador. A(s) fonte(s) e o(s) receptor(es) reconheceram distrações em mais de 67% das passagens de casos; as distrações internas e externas mais comuns, respectivamente, foram a fadiga (60% das passagens de casos) e a entrada/saída de profissionais externos na sala (31%). As equipes com mais pacientes gastaram menos tempo por passagem de caso individual (r=-0,298; p=0,001). As correlações intraclasse estatisticamente significativas (p≤0,05) foram moderadas entre os observadores (r≥0,4), mas não entre os receptores (r<0,4). Os valores de correlação intraclasse entre os diferentes tipos de avaliadores foram inconsistentes (p>0,05). A qualidade do processo de passagem de casos foi afetada negativamente pela presença de dispositivos eletrônicos ativos (beta=-0,565; p=0,005), pelo número de discussões educativas (beta=-0,417; p=0,048) e por um senso de hierarquia entre a fonte e o receptor (beta=-0,309; p=0,002).

Conclusão: O estudo do processo de passagem de casos a partir de um referencial estabelecido destaca fatores que prejudicam a comunicação. As distrações internas e externas são comuns durante as passagens de casos e, juntamente com a relação de trabalho entre a fonte e o receptor, afetam a qualidade do processo de passagem de casos. Estas informações podem ser usadas em estudos futuros e em intervenções específicas para melhorar a eficácia geral e a segurança do paciente durante as passagens de casos.

Resumo Original:

Background: The implementation of mandated restrictions in resident duty hours has led to increased handoffs for patient care and thus more opportunities for errors during transitions of care. Much of the current handoff literature is empiric, with experts recommending the study of handoffs within an established framework.

Methods: A prospective, single-institution study was conducted evaluating the process of handoffs for the care of surgical patients in the context of a published communication framework. Evaluation tools for the source, receiver, and observer were developed to identify factors impacting the handoff process, and inter-rater correlations were assessed. Data analysis was generated with Pearson/Spearman correlations and multivariate linear regressions. Rater consistency was assessed with intraclass correlations.

Results: A total of 126 handoffs were observed. Evaluations were completed by 1 observer (N = 126), 2 observers (N = 23), 2 receivers (N = 39), 1 receiver (N = 82), and 1 source (N = 78). An average (±standard deviation) service handoff included 9.2 (±4.6) patients, lasted 9.1 (±5.4) minutes, and had 4.7 (±3.4) distractions recorded by the observer. The source and receiver(s) recognized distractions in >67% of handoffs, with the most common internal and external distractions being fatigue (60% of handoffs) and extraneous staff entering/exiting the room (31%), respectively. Teams with more patients spent less time per individual patient handoff (r = -0.298; P = .001). Statistically significant intraclass correlations (P ≤ .05) were moderate between observers (r ≥ 0.4) but not receivers (r < 0.4). Intraclass correlation values between different types of raters were inconsistent (P > .05). The quality of the handoff process was affected negatively by presence of active electronic devices (β = -0.565; P = .005), number of teaching discussions (β = -0.417; P = .048), and a sense of hierarchy between source and receiver (β = -0.309; P = .002).

Conclusion: Studying the handoff process within an established framework highlights factors that impair communication. Internal and external distractions are common during handoffs and along with the working relationship between the source and receiver impact the quality of the handoff process. This information allows further study and targeted interventions of the handoff process to improve overall effectiveness and patient safety of the handoff.

Fonte:
Surgery ; 161(3): 861-868; 2017. DOI: 10.1016/j.surg.2016.09.003.