Um estudo qualitativo sobre a manifestação de preocupações de segurança do paciente em unidades de terapia intensiva

TARRANT, C. ; LESLIE, M. ; BION, J. ; DIXON-WOODS, M.
Título original:
A qualitative study of speaking out about patient safety concerns in intensive care units
Resumo:

Tem sido dada muita atenção, na elaboração de políticas, ao papel dos “denunciantes” que manifestam preocupações sobre a qualidade e a segurança do cuidado em ambientes de saúde. No entanto, a maioria das oportunidades para que os profissionais identifiquem e ajam em relação a essas preocupações provavelmente ocorrem num nível muito mais básico, nas interações triviais do trabalho cotidiano. Usando dados qualitativos de mais de 900 horas de observação etnográfica e 98 entrevistas em 19 unidades de terapia intensiva (UTIs) da Inglaterra, estudamos como os profissionais manifestam as suas preocupações sobre a segurança do paciente ou a má prática clínica. Observamos que ocorre um grande controle social de baixo nível como parte do funcionamento diário das unidades; os questionamentos e sanções são usados rotineiramente para tentar prevenir ou resolver os erros e as violações das normas. Medidas preventivas foram utilizadas para intervir quando os pacientes estavam em risco imediato, incluindo estratégias como lembretes delicados, uso de humor e palavras ríspidas. As intervenções corretivas incluíram argumentos baseados na educação e em evidências, e as sanções aplicadas nos casos em que parecia haver uma violação da segurança incluíram conversas privadas, gozações, exposição ou humilhação pública, repreensões e advertências brutais. Estas formas de controle social foram geralmente efetivas na manutenção de uma prática segura. Porém, não foram consistentemente efetivas, e às vezes tenderam a reforçar normas e comportamentos idiossincráticos que não estavam necessariamente alinhados com os objetivos de segurança do paciente e com a manutenção de um cuidado de saúde de alta qualidade. Além disso, os questionamentos que transpunham as fronteiras profissionais ou as hierarquias foram por vezes problemáticos. Os nossos resultados sugerem que a ênfase na notificação formal ou no treinamento para a comunicação como solução para a manifestação das preocupações de segurança é simplista; é necessária uma compreensão mais sofisticada das formas de controle social.

Resumo Original:

Much policy focus has been afforded to the role of "whistleblowers" in raising concerns about quality and safety of patient care in healthcare settings. However, most opportunities for personnel to identify and act on these concerns are likely to occur much further upstream, in the day-to-day mundane interactions of everyday work. Using qualitative data from over 900 h of ethnographic observation and 98 interviews across 19 English intensive care units (ICUs), we studied how personnel gave voice to concerns about patient safety or poor practice. We observed much low-level social control occurring as part of day-to-day functioning on the wards, with challenges and sanctions routinely used in an effort to prevent or address mistakes and norm violations. Pre-emptions were used to intervene when patients were at immediate risk, and included strategies such as gentle reminders, use of humour, and sharp words. Corrective interventions included education and evidence-based arguments, while sanctions that were applied when it appeared that a breach of safety had occurred included "quiet words", bantering, public exposure or humiliation, scoldings and brutal reprimands. These forms of social control generally functioned effectively to maintain safe practice. But they were not consistently effective, and sometimes risked reinforcing norms and idiosyncratic behaviours that were not necessarily aligned with goals of patient safety and high-quality healthcare.Further, making challenges across professional boundaries or hierarchies was sometimes problematic. Our findings suggest that an emphasis on formal reporting or communication training as the solution to giving voice to safety concerns is simplistic; a more sophisticated understanding of social control is needed.

Fonte:
Social Science & Medicine ; 193: 8-15; 2017. DOI: 10.1016/j.socscimed.2017.09.036.