Resultados de uma iniciativa nacional de melhoria da qualidade, implementada em todo o sistema de saúde, para a utilização de práticas de prevenção de infecções baseadas em evidências em hospitais brasileiros
CONTEXTO: O uso de métodos de melhoria da qualidade (MQ) é recomendado para lidar com o problema das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRASs) em hospitais. Porém, embora iniciativas internas tenham sido bastante estudadas, há poucas evidências sobre a aplicação e o efeito de uma abordagem de MQ a partir da perspectiva externa de todo o sistema de saúde. OBJETIVO: Analisar o efeito de uma iniciativa nacional de MQ, implementada em todo o sistema de saúde, com o objetivo de promover a prevenção das IRASs através de intervenções regulatórias no Brasil. MÉTODOS: A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) implementou uma abordagem cíclica de MQ, com um desenho quase-experimental do tipo pré/pós-intervenção, envolvendo 1869 hospitais. Foram reunidos, compartilhados e avaliados 11 indicadores de qualidade baseados em evidências relacionadas à prevenção de IRASs, bem como uma medida composta; a intervenção de melhoria foi então baseada em ações regulatórias participativas e multifacetadas. As melhorias absolutas e relativas foram estimadas após a intervenção. RESULTADOS: Ao todo, 563 hospitais (taxa de resposta de 30,1%), totalizando 86.837 leitos, participaram da avaliação na linha de base, e 681 hospitais (taxa de resposta de 36,4%), totalizando 101.231 leitos, participaram da segunda avaliação. Dez dos 11 critérios melhoraram (p<0,05), assim como o indicador composto (p=0,001) em todas as regiões do país, particularmente no grupo de hospitais que participou da linha de base. A “infraestrutura de higienização das mãos (HM)” atingiu 100% (linha de base: 97,9; p=0,001); o “protocolo de HM” atingiu 96,9% (linha de base: 92,9; p=0,001); o “monitoramento da HM” atingiu 70% (linha de base: 60,7; p<0,001); e a “existência de um protocolo para a prescrição de antimicrobianos” atingiu 80,7% (linha de base: 73,2; p<0,001), entre outros. As taxas de IRASs nos hospitais participantes diminuíram após a intervenção (p<0,05). CONCLUSÃO: A abordagem cíclica de MQ foi útil para orientar a implementação de intervenções de segurança do paciente em todo o sistema de saúde. A regulamentação externa foi viável e efetiva na promoção da prevenção interna das IRASs em todo o país.
BACKGROUND: Quality improvement (QI) methods are recommended to address healthcare-associated infections (HCAIs) in hospitals, but whereas internal initiatives have been widely studied, there is little evidence on the application and effect of a QI approach from an external system-wide perspective. AIM: To analyse the effect of a national system-wide QI initiative aimed at promoting HCAI prevention via regulatory interventions in Brazil. METHODS: A QI cycle approach designed and assessed with a before-and-after quasi-experimental design was implemented by the Brazilian Health Regulatory Agency (ANVISA), targeting 1869 hospitals. Eleven evidence-based quality indicators related to HCAI prevention and a composite measure were assembled, shared, and assessed; the intervention to improve was then based on participatory multifaceted regulatory actions. Absolute and relative improvements were estimated after the intervention. FINDINGS: In all, 563 hospitals (30.1% response) totalling 86,837 beds participated in the baseline assessment, and 681 hospitals (36.4% response) totalling 101,231 beds in the second. Ten of the 11 criteria improved (P < 0.05), as well as the composite indicator (P = 0.001) in all the regions of the country, particularly in the group of hospitals participating at baseline. 'Hand hygiene (HH) infrastructure' reached 100% (baseline: 97.9; P = 0.001), 'HH protocol' 96.9% (baseline: 92.9; P = 0.001), 'HH monitoring' 70% (baseline: 60.7; P < 0.001) and 'existence of antimicrobial prescription protocol' 80.7% (baseline: 73.2; P < 0.001), among others. The HCAI rates of the participating hospitals decreased after the intervention (P < 0.05). CONCLUSION: The QI cycle approach was useful in guiding system-wide interventions for patient safety. External regulation was feasible and effective in promoting internal HCAI prevention nationwide.
