O fenômeno da segunda vítima: a “cultura justa” é uma realidade? Uma revisão integrativa

White, R.M. ; Delacroix, R.
Título original:
Second victim phenomenon: Is ‘just culture’ a reality? An integrative review
Resumo:

Contexto: Embora tenham sido feitas muitas tentativas rigorosas de estabelecer uma cultura de segurança do paciente com o objetivo de diminuir a incidência de mortes de pacientes no sistema de saúde, as estimativas de mortalidade evitável por erros no cuidado variam amplamente, de 44.000 a 250.000 em ambientes hospitalares. Dada a magnitude destes erros, a segurança do paciente está no cerne das preocupações públicas, da pesquisa e da prática do cuidado de saúde. Além do possível impacto negativo sobre os pacientes e o sistema de saúde, esses erros geram respostas psicológicas intensas por parte dos prestadores do cuidado de saúde, que os ameaçam como pessoas e profissionais, prejudicando a sua capacidade de prestar um cuidado de alta qualidade aos pacientes. Há estudos que mostram que metade de todos os profissionais da saúde hospitalares vivenciará o fenômeno da segunda vítima pelo menos uma vez em sua carreira. As instituições de saúde iniciaram uma mudança de paradigma, passando de uma cultura de culpabilidade para uma cultura de integridade, denominada “cultura justa”. A “cultura justa” procura assegurar uma abordagem equilibrada e responsável tanto para os prestadores que cometem erros como para as organizações de saúde onde trabalham, mudando o enfoque para a melhoria dos sistemas no local de trabalho. Objetivos: O objetivo desta revisão foi identificar como os erros no cuidado de saúde afetam os profissionais como segundas vítimas e como as organizações de saúde podem tornar a “cultura justa” uma realidade. Desenho: Realizamos uma revisão integrativa utilizando uma pesquisa metódica em três etapas para avaliar as percepções e respostas das segundas vítimas, bem como o conceito de “cultura justa” nas instituições de saúde. Resultados: Identificamos um total de 42 estudos envolvendo profissionais da saúde: 10 estudos qualitativos, 8 estudos de métodos mistos e 24 estudos quantitativos. As percepções das segundas vítimas sobre a “cultura justa” na atualidade incluíram: 1) o medo de repercussões é uma barreira à notificação de erros no cuidado de saúde; 2) o apoio à segurança por parte das lideranças é fundamental para reduzir o receio de notificar erros; 3) é necessário promover uma melhor educação sobre a notificação de eventos adversos, fomentar o uso do feedback positivo ao serem notificados eventos adversos e desenvolver diretrizes para a resposta não punitiva aos erros; e 4) é preciso desenvolver procedimentos operacionais padrão para o apoio por pares nas instituições de saúde.  Conclusões: As percepções das segundas vítimas sobre o apoio organizacional e entre pares são parte da “cultura justa”. Um maior apoio às segundas vítimas pode melhorar a qualidade do cuidado de saúde, fortalecer o apoio emocional aos profissionais da saúde e estabelecer boas relações entre as instituições de saúde e os seus profissionais. Embora já existam alguns programas em instituições de saúde para apoiar a “cultura justa” e as segundas vítimas, é preciso estabelecer programas mais abrangentes. 
 

Resumo Original:

Background: Despite rigorous and multiple attempts to establish a culture of patient safety and a goal to decrease incidence of patient deaths in the health care, estimations of preventable mortality due to medical errors varied widely from 44,000 to 250,000 in hospital settings. This magnitude of medical errors establishes patient safety as being at the forefront of public concerns, healthcare practice and research. In addition to the potential negative impact on patients and the healthcare system, medical errors evoke intense psychological responses in health care providers' responses that threaten their personal and professional selves, and their ability to deliver high quality patient care. Studies show half of all hospital providers will suffer from second victim phenomena at least once in their careers. Health care institutions have begun a paradigm shift from blame to fairness, referred to as ‘just culture’. ‘Just culture’ better ensures that a balanced, responsible approach for both providers who err and healthcare organizations in which they practice, and shifts the focus to designing improved systems in the workplace. Objectives: The aim of this review was to identify: how medical errors affect health care professionals, as second victims; and how health care organizations can make ‘just culture’ a reality. Design: An integrative review was performed using a methodical three-step search on the concept of second victims' perceptions and responses, as well as ‘just culture’ of health care institutions. Results: A total of 42 research studies were identified involving health care professionals: 10 qualitative studies; eight mixed-method studies; and 24 quantitative studies. Second victims' perceptions of the current ‘just culture’ included: 1) fear of repercussions of reporting medical errors as a barrier; 2) supportive safety leadership is central to reducing fear of error reporting; 3) improved education on adverse event reporting, developing positive feedback when adverse events are reported, and the development of non-punitive error guidelines for health care professionals are needed; and 4) the need for development of standard operating procedures for health care facility peer-support teams. Conclusions: Second victims' perceptions of organizational and peer support are a part of ‘just culture’. Enhanced support for second victims may improve the quality of health care, strengthen the emotional support of the health care professionals, and build relationships between health care institutions and staff. Although some programs are in place in health care institutions to support ‘just culture’ and second victims, more comprehensive programs are needed. 
 

Fonte:
Applied Nursing Research ; 2020. DOI: 10.1016/j.apnr.2020.151319.