Uma jornada narrativa para as fronteiras da segurança do paciente: rumo a um conceito expandido e relacional da segurança
A “segurança do paciente” é rotineiramente definida nos serviços de saúde de todo o mundo como “a segurança dos pacientes contra os danos e riscos de lesões no cuidado de saúde”. (Danish Board of Quality in Health Care, 2022, p. 28). Esta é uma definição padronizada, ampla e geral daquilo que conta como segurança. Neste artigo, defendo um conceito expandido e relacional de segurança do paciente, centrado na forma como a segurança é vivenciada pelos pacientes. Reconhecendo a segurança como um elemento vital para todos os grupos de pacientes, sigo uma abordagem dialógica e crítico-reflexiva para considerar a segurança em um ambiente hospitalar somático na Dinamarca, segundo a forma como é vivenciada por pessoas com experiências pessoais de sofrimento mental. Nesse contexto, a segurança muitas vezes fica comprometida, contribuindo para as iniquidades em saúde entre pessoas com sofrimento mental. Apresento e analiso as narrativas de dois especialistas, com base em suas experiências com uma internação hospitalar somática. Como abordagem analítica, recorro à análise narrativa dialógica de Frank, juntamente com elementos da teoria do diálogo de Bakhtin e da teoria do poder/saber de Foucault. Dando destaque às vozes de pessoas que raramente são consultadas ou ouvidas, a análise narrativa dialógica oferece uma visão de como a “segurança do paciente” ganha corpo por meio de negociações situadas no significado das narrativas de pessoas com experiências vividas. Os narradores estão continuamente lutando para se encaixar e serem vistos como seres humanos, tentando resistir às narrativas públicas sobre o sofrimento mental, que ameaçam limitar o seu escopo de ação e aquilo que eles podem se tornar. A discussão destaca como os danos emocionais e psicossociais não intencionais limitam os benefícios da segurança do paciente para certos grupos sociais. Em particular, a vergonha, a responsabilidade individualizada e a inferioridade internalizada impedem a equidade em saúde. Com base nesta análise, sugiro uma abordagem colaborativa e participativa para a coprodução de mais conhecimentos por meio de análises conjuntas com pessoas com experiências vividas e enfermeiros de enfermarias hospitalares somáticas.
"Patient safety" is routinely defined in health services globally as "safety for patients against harm and risk of injury in health care." (Danish Board of Quality in Health Care, 2022, p. 28; translated by the author). This is a standardized, broad, and general definition of what counts as safety. In this article, I argue for an expanded, relational concept of patient safety revolving around experienced patient safety. Recognizing safety as vital for all groups of patients, I follow a dialogical, critical-reflexive approach to focus on safety in a somatic hospital setting in Denmark as it is experienced by people with lived experience of mental distress. Safety in this context is often compromised, contributing to inequity in health for people with mental distress. I present and analyze the narratives of two experts by experience about their somatic hospital stay. As an analytical approach, I draw on Frank's dialogical narrative analysis together with elements from Bakhtin's theory of dialogue and Foucault's theory of power/knowledge. Forefronting voices of those rarely asked and seldom heard, dialogical narrative analysis provides insight into how "patient safety" is enacted through situated negotiations of meaning in the narratives of people with lived experience. The storytellers are continuously struggling to fit in and to be seen as human beings, trying to resist public narratives on mental distress that threaten to limit their scope of action and who they can become. The discussion highlights how unintended emotional and psychosocial harm limit the benefits of patient safety for certain groups in society. In particular, shame, individualized responsibility, and internalized inferiority hinder equity in health. Building on my analysis, I suggest a collaborative, participatory approach for coproducing further knowledge through joint analysis with people with lived experience and nurses from somatic hospital wards.