Eventos adversos em pacientes idosos internados: um estudo prospectivo
Objetivos: Determinar a frequência de eventos adversos decorrentes do cuidado de saúde, em pacientes idosos internados numa unidade geriátrica de cuidado agudo, os preditores de sua ocorrência e a correlação entre as taxas de eventos adversos e de mortalidade hospitalar.
Métodos: Este estudo prospectivo incluiu 171 internações de pacientes com idade maior ou igual a 60 anos na unidade geriátrica de cuidado agudo de um hospital de ensino brasileiro entre 2007 e 2008. As seguintes variáveis foram avaliadas no momento da internação: idade, gênero, número de medicamentos prescritos, síndromes geriátricas (p.ex., imobilidade, instabilidade postural, demência, depressão, delírio ou incontinência), comorbidades, estado funcional (avaliado pelo Katz Index of Independence in Activities of Daily Living) e gravidade da doença (avaliada pelo Simplified Acute Physiology Score II). Avaliamos a incidência de delírio, infecção, morte e prescrição de medicamentos potencialmente inadequados (com base nos critérios de Beers) durante a internação. Um observador que não estava envolvido no cuidado do paciente notificou os eventos adversos.
Resultados: A idade média da amostra foi de 78,12 anos. Foi observado um total de 187 eventos adversos em 94 internações (55%). Os preditores de eventos adversos não foram determinados. Quando comparados aos pacientes que não sofreram eventos adversos, os pacientes com eventos adversos tiveram um tempo de internação significativamente mais longo (21,41 ± 15,08 dias vs. 10,91 ± 7,21 dias) e uma taxa de mortalidade mais elevada (39 mortes [41,5%] vs. 17 mortes [22,1%]). A mortalidade foi prevista significativamente pelo Simplified Acute Physiology Score II (odds ratio [OR] = 1,13, intervalo de confiança [IC] de 95%, 1,07 a 1,20), pelo índice de Katz (OR = 1,47, IC 95%, 1,18 a 1,83) e pela ocorrência de eventos adversos decorrentes do cuidado de saúde (OR = 3,59, IC 95%, 1,55 a 8,30).
Conclusão: É preciso monitorar a ocorrência de eventos adversos em todos os pacientes idosos internados, pois não existe um perfil de risco para pacientes suscetíveis, e as consequências dos eventos adversos são sérias, podendo levar a um maior tempo de internação ou até mesmo à morte.
Objectives: To determine the frequency of medical adverse events in elderly patients admitted to an acute care geriatric unit, the predictive factors of occurrence, and the correlation between adverse events and hospital mortality rates.
Methods: This prospective study included 171 admissions of patients aged 60 years and older in the acute care geriatric unit in a teaching hospital in Brazil between 2007 and 2008. The following variables were assessed at admission: the patient age, gender, number of prescription drugs, geriatric syndromes (e.g., immobility, postural instability, dementia, depression, delirium, and incontinence), comorbidities, functional status (evaluated with the Katz Index of Independence in Activities of Daily Living), and severity of illness (evaluated with the Simplified Acute Physiology Score Il). The incidence of delirium, infection, mortality, and the prescription of potentially inappropriate medications (based on the Beers criteria) were assessed during hospitalization. An observer who was uninvolved in patient care reported the adverse events.
Results: The mean age of the sample was 78.12 years. A total of 187 medical adverse events occurred in 94 admissions (55%). The predictors of medical adverse events were undetermined. Compared with the patients with no adverse events, the patients with medical adverse events had a significantly longer hospital stay (21.41 ± 15.08 days versus 10.91 ± 7.21 days) and a higher mortality rate (39 deaths [41.5%] versus 17 deaths [22.1%]). Mortality was significantly predicted by the Simplified Acute Physiology Score II score (odds ratio [OR] = 1.13, confidence interval [CI] 95%, 1.07 to 1.20), the Katz score (OR=1.47, CI 95%, 1.18 to 1.83), and medical adverse events (OR = 3.59, CI 95%, 1.55 to 8.30). <br />Conclusion: Medical adverse events should be monitored in every elderly hospitalized patient because there is no risk profile for susceptible patients, and the consequences of adverse events are serious, sometimes leading to longer hospital stays or even death.