Estudos sobre a implementação do Guia Curricular Multiprofissional de Segurança do Paciente

O guia é bem aceito entre profissionais e estudantes de diferentes regiões do mundo

Por Carla Gouvea  (Médica, Colaboradora do Proqualis, Professora no IMS/UERJ) e Victor Grabois (Médico, docente na ENSP/Fiocruz)

Em 2011, a OMS lançou o Guia Curricular Multiprofissional de Segurança do Paciente, com o objetivo de auxiliar as instituições acadêmicas de saúde na formação de profissionais nessa área. O Guia foca nos principais riscos dos cuidados de saúde e em como gerenciá-los, mostra como reconhecer eventos adversos e perigos, como notifica-los e analisá-los. Também aborda a importância do trabalho em equipe e da comunicação efetiva em todos os níveis de cuidados de saúde e do engajamento com pacientes e cuidadores para construir e sustentar uma cultura de segurança do paciente. 

Este Guia Curricular poderá ser facilmente integrado aos currículos preexistentes de educação em saúde, e dessa forma preparar os futuros profissionais de saúde para oferecer um cuidado seguro. Ele adota uma abordagem flexível para atender às necessidades individuais e pode ser aplicado em diferentes culturas e contextos. Em 2015, dois estudos foram publicados com o intuito de avaliar a implementação do Guia Curricular Multiprofissional de Segurança do Paciente da OMS. 

No primeiro deles (Avaliação de tópicos do Currículo Multiprofissional de Segurança do Paciente da Organização Mundial da Saúde na educação da enfermagem: estudo do tipo pré-teste, pós-teste, não experimental) o objetivo foi avaliar o impacto do ensino de dois tópicos incluídos no Guia “O que é segurança do paciente?” e “Como compreendemos e aprendemos com os erros para prevenir danos”, no conhecimento e nas atitudes de estudantes de enfermagem.  Questionários foram enviados a 181 alunos de uma universidade da Inglaterra, antes deles participarem das sessões educativas, e a 141 alunos após essas sessões. Embora os estudantes de enfermagem participantes tenham elogiado muito o ensino sobre os tópicos relativos à segurança do paciente, as diferenças entre as respostas dos alunos antes e depois das sessões não foram estatisticamente significativas.

No segundo estudado publicado (Teste de campo do Guia para um Currículo Multiprofissional de Segurança do Paciente da Organização Mundial da Saúde), 12 escolas das seis regiões integrantes da OMS participaram da avaliação do Guia. Foi utilizado um desenho prospectivo/ retrospectivo para se obter informação de diretores e professores sobre as experiências de trabalho com o Guia, e de alunos sobre o impacto na sua formação. Diretores, coordenadores e professores consideraram o Guia altamente positivo, com conteúdo culturalmente apropriado aos seus países e que auxiliou a dar foco à segurança do paciente em suas escolas. Em relação aos alunos, observou-se que suas percepções e atitudes em relação a segurança do paciente melhoraram substancialmente e seu conhecimento dos tópicos abordados dobrou, passando de 10,7% respostas corretas para 20,8%. 

O compromisso com a qualidade dos cuidados de saúde inclui reconhecer a importância da educação dos profissionais de saúde desde a graduação sobre os princípios e conceitos de segurança do paciente. Em 2013, o lançamento do Programa Nacional de Segurança do Paciente (Portaria MS n° 529/2013) inclui como uma de suas estratégias de implementação, a articulação com o Ministério da Educação e com o Conselho Nacional de Educação, para inclusão do tema segurança do paciente nos currículos dos cursos de formação em saúde de nível técnico, superior e de pós-graduação.