Avaliação da cultura e das práticas laboratoriais relacionadas à segurança do paciente

O papel desempenhado pelos laboratórios clínicos para a obtenção de resultados desejados nos cuidados de saúde, por meio de produção de informações que permitem definir diagnósticos, tratamentos, intervir preventivamente no cuidado à saúde e gerenciar doenças, tem merecido amplo reconhecimento. Mas erros laboratoriais podem ocorrer em qualquer das etapas do processo laboratorial e afetar a segurança do paciente. Alguns fatores podem comprometer ainda mais a garantia de segurança ao paciente em laboratórios clínicos, tais como a inexistência de cultura de qualidade, falhas nos processos e lideranças de saúde pouco engajadas. A avaliação da cultura de segurança do paciente possibilita obter informações sobre percepções e comportamentos, identificando áreas mais problemáticas e possibilitando o planejamento de intervenções dirigidas à fragilidades existentes. O objetivo desse estudo foi avaliar a cultura e as práticas relacionadas à segurança do paciente em laboratórios clínicos brasileiros. Para avaliação da cultura, utilizou-se como base o questionário da AHRQ, versão 1.0, adaptado transculturalmente para o português brasileiro com adaptações para aplicação no setor laboratorial. Para avaliação das práticas laboratoriais relacionadas à segurança do paciente utilizou-se questionário baseado em diferentes fontes bibliográficas. Os questionários foram validados por painel de especialistas e um pré-teste aplicado a profissionais de laboratórios clínicos confirmou a clareza das questões, compreensão verbal e adequação da terminologia utilizada. Foram utilizados critérios da AHRQ para definir fortalezas e fraquezas relacionadas à segurança do paciente. A amostra foi composta de 1414 profissionais de 51 diferentes laboratórios clínicos brasileiros. A nota geral de segurança do paciente nos laboratórios foi considerada Excelente (35,22%); Muito boa (53,14%); Regular (10,11%); Ruim (0,92%) e Muito ruim (0,61%). A única dimensão da cultura com positividade abaixo de 50% foi respostas não punitivas aos erros (30,74%). Em 5 dimensões, de um total de 12 consideradas para avaliar a cultura de segurança do paciente, foram apurados resultados de respostas positivas acima de 75% considerados como fortalezas As dimensões sobre práticas laboratoriais relacionadas à segurança do paciente revelaram positividade acima de 60%, sendo a dimensão analítica (76,47%) a maior. Não foi identificada fraqueza e oportunidade de melhoria em nenhuma das 3 demais dimensões propostas. A avaliação psicométrica do instrumento de medição proposto confirmou a sua confiabilidade e validade. As 12 dimensões propostas no instrumento original da AHRQ se mostraram aplicáveis, para o bloco de questões de avaliação da cultura de segurança do paciente. Para o bloco de questões que avaliaram as práticas laboratoriais relacionadas à segurança do paciente, os resultados do estudo indicaram a possibilidade de outros agrupamentos diversos do dimensionamento proposto, com 4 ou 5 dimensões. O questionário proposto se mostrou apropriado e aplicável a laboratórios de diferentes portes e características, possibilitando traçar um quadro inicial em uma amostra limitada de diferentes naturezas e tipos de laboratórios clínicos brasileiros. Embora os resultados do atual estudo tenham possibilitado a avaliação simultânea da cultura e das práticas laboratoriais relacionadas à segurança do paciente, ainda não descrita anteriormente, outros estudos realizados em uma amostra maior e mais diversificada de laboratórios clínicos de diferentes características são necessários, para confirmar os resultados obtidos, dadas as limitações apresentadas e as diferenças existentes entre laboratórios clínicos brasileiros.