Segurança do paciente em terapia intensiva: caracterização de eventos adversos em pacientes críticos, avaliação de sua relação com mortalidade e identificação de fatores de risco para sua ocorrência.

Título acadêmico: 
Doutor
Resumo: 

Introdução: A segurança do paciente é tema de grande importância pois muitos pacientes hospitalizados são vítimas de eventos adversos (EAs). Evento adverso é um incidente que resulta em dano desnecessário ao paciente, de caráter não intencional, e que está associado à assistência prestada, e não com a evolução natural da doença do indivíduo. As unidades de terapia intensiva (UTIs) são ambientes propícios à ocorrência de EAs, porém não há dados abrangentes sobre EAs em UTIs no Brasil. Além disso é preciso verificar se a ocorrência de EAs é fator de risco para morte em UTI, e quais são os fatores de risco para sua ocorrência.

Objetivos: Identificar e caracterizar EAs em UTIs do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), avaliar se há relação entre ocorrência de EAs e morte em UTIs, e identificar quais os fatores de risco para a ocorrência de EAs nesses locais.

Métodos: Estudo observacional do tipo coorte que analisou admissões consecutivas em UTIs no HC-FMUSP entre Junho e Agosto de 2009. Os casos foram acompanhados até a saída da UTI, seja alta ou óbito. Foram coletados dados sobre aspectos clínicos, escores de gravidade (APACHE II, SAPS II, SOFA), carga de trabalho de enfermagem (NAS) e intervenções realizadas. EAs foram identificados através da revisão de prontuários e observação dos profissionais médicos e de enfermagem, sendo classificados quanto ao tipo e grau de dano conforme classificação da Organização Mundial da Saúde. Foi feita análise multivariada com regressão logística para analisar se EAs são fatores de risco independentes para morte em UTI. Foi feita uma segunda análise multivariada com regressão logística para verificar quais são os fatores de risco para ocorrência de EAs com alto grau de dano (AGD). Resultados: Ocorreram 1126 EAs em 81,7% das 202 admissões estudadas. Os EAs mais frequentes foram os das categorias processo clínico/procedimento (54% dos EAs), medicação (25,8%), nutrição (13,9%), e infecção (5,5%). Quanto ao dano, 74,4% foram EAs leves, 19,4% moderados, 4,1% graves e 2,1% associados a óbito. A ocorrência de 4 a 6 EAs na internação mostrou-se um fator de risco para óbito em UTI (OR:18,517; IC95%:1,043-328,808; P=0,047), assim como a ocorrência de >= 7 EAs (OR:32,084; IC95%:1,849-556,684; P=0,017). Quanto aos tipos, a ocorrência de EA do tipo processo clínico/procedimento mostrou-se fator de risco para óbito em UTI (OR:9,311; IC95%:1,283-67,556; P=0,027), bem como a ocorrência de EA com AGD (OR:38,964; IC95%:5,620-270,151; P < 0,001). Foram identificados os seguintes fatores de risco para ocorrência de EAs com AGD: NAS médio de 70,1% a 82,3% (OR:6,301; IC95%:1,164- 34,117; P=0,033), NAS médio >= 82,4% (OR:9,068; IC95%:1,729-47,541; P=0,009), SOFA médio entre 4,5 a 6,7 (OR:6,934; IC95%:1,239-38,819; P=0,028), e um SOFA médio >= 6,8 (OR:10,293; IC95%:1,752-60,474; P=0,010).

Conclusões: EAs acometeram muitas admissões das UTIs estudadas, sendo que mais da metade destes eventos foi do tipo processo clínico/procedimento. Cerca de 6% dos EAs foi considerado grave ou associado ao óbito do paciente. A ocorrência de EAs foi um fator de risco independente para óbito, principalmente EAs do tipo processo clínico/procedimento e EAs com AGD. Os fatores de risco para ocorrência de EAs com AGD foram a carga de trabalho de enfermagem e a gravidade do paciente.

Autor pessoal: 
ZAMBON, L. S.;
Orientador: 
Iolanda de Fátima Lopes Calvo Tibério
Instituição a qual se apresenta: 
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Data de publicação: 
2014
Nota geral: 
Créditos da imagem: @DarkoStojanovic_Pixabay
Páginas: 
246
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