Experiências psicossociais de mulheres no período pós-parto durante a pandemia de COVID-19. Um estudo nacional realizado no Reino Unido sobre as taxas de prevalência e fatores de risco para depressão e ansiedade clinicamente relevantes

Fallon, V. ; Davies, S.M. ; Silverio, S.A. ; Jackson, L. ; De Pascalis, L. ; Harrold, J.A.
Título original:
Psychosocial experiences of postnatal women during the COVID-19 pandemic. A UK-wide study of prevalence rates and risk factors for clinically relevant depression and anxiety
Resumo:

Contexto: Quando as vulnerabilidades do período pós-parto são combinadas com o impacto da pandemia de COVID-19, é provável que os resultados psicossociais sejam afetados. Especificamente, nosso objetivo foi: a) explorar as experiências psicossociais das mulheres no período pós-natal precoce, b) descrever as taxas de prevalência de ansiedade e depressão maternas clinicamente relevantes e c) explorar se as mudanças psicossociais ocorridas como resultado da COVID-19 são preditivas de ansiedade e depressão maternas clinicamente relevantes. Métodos: Recrutamos uma amostra de mães britânicas (N=614) com bebês com idade entre zero e doze semanas através de amostragem de conveniência. Utilizamos um desenho de pesquisa transversal que incluiu dados demográficos, perguntas específicas sobre COVID-19 e uma série de medidas psicossociais validadas, incluindo as escalas EPDS e STAI-S, usadas respectivamente para verificar as taxas de prevalência de depressão e ansiedade clinicamente relevantes. A coleta de dados coincidiu com as medidas de confinamento e distanciamento social introduzidas pelo governo do Reino Unido em 2020. Resultados: Os resultados descritivos da amostra geral indicam que uma alta porcentagem de mães relatou mudanças psicológicas e sociais como resultado da introdução das medidas de distanciamento social. Essas mudanças psicossociais foram recebidas negativamente pelas mulheres que as relataram. Enquanto 70 mulheres (11,4%) relataram um diagnóstico clínico atual de depressão, 264 (43%) apresentaram uma pontuação ≥13 na escala EPDS, indicando depressão clinicamente relevante. Enquanto 113 mulheres (18,4%) relataram um diagnóstico clínico atual de ansiedade, 363 (61%) apresentaram uma pontuação ≥40 na escala STAI-S, indicando ansiedade clinicamente relevante. Depois de considerar os diagnósticos clínicos atuais de depressão ou ansiedade, bem como fatores demográficos conhecidos por influenciarem a saúde mental, a percepção de mudanças psicológicas ocorridas como resultado da introdução das medidas de distanciamento social previu uma variação específica para o risco de depressão (30%) e ansiedade (33%) materna clinicamente relevante. Interpretação: Até onde sabemos, este é o primeiro estudo nacional que examinou as experiências psicossociais de mulheres no período pós-natal durante a pandemia de COVID-19 no Reino Unido. As taxas de prevalência de depressão e ansiedade materna clinicamente relevante foram extremamente altas quando comparadas com os diagnósticos atuais autorrelatados de depressão e ansiedade e com os estudos de prevalência anteriores à pandemia. A percepção de mudanças psicológicas ocorridas como resultado da introdução das medidas de distanciamento social previu uma variação específica no risco de depressão e ansiedade materna clinicamente relevante. Este estudo apresenta informações vitais para profissionais clínicos, agências de financiamento, responsáveis pela elaboração de políticas e pesquisadores, ajudando a fundamentar os próximos passos no cuidado, nas políticas e na pesquisa sobre o período perinatal durante a pandemia de COVID-19 e em futuras crises de saúde. 
 

Resumo Original:

Background: When the vulnerabilities of the postnatal period are combined with the impact of the COVID-19 pandemic, psychosocial outcomes are likely to be affected. Specifically, we aim to: a) explore the psychosocial experiences of women in the early postnatal period; b) describe prevalence rates of clinically relevant maternal anxiety and depression; and c) explore whether psychosocial change occurring as a result of COVID-19 is predictive of clinically relevant maternal anxiety and depression. Methods: A sample of UK mothers (N = 614) with infants aged between birth and twelve weeks were recruited via convenience sampling. A cross-sectional survey design was utilised which comprised demographics, COVID-19 specific questions, and a battery of validated psychosocial measures, including the EPDS and STAI-S which were used to collect prevalence rates of clinically relevant depression and anxiety respectively. Data collection coincided with the UK government's initial mandated “lockdown” restrictions and the introduction of social distancing measures in 2020. Findings: Descriptive findings from the overall sample indicate that a high percentage of mothers self-reported psychological and social changes as a result of the introduction of social distancing measures. For women who reported the presence of psychosocial change, these changes were perceived negatively. Whilst seventy women (11.4%) reported a current clinical diagnosis of depression, two hundred and sixty-four women (43%) reported a score of ≥13 on the EPDS, indicating clinically relevant depression. Whilst one hundred and thirteen women (18.4%) reported a current clinical diagnosis of anxiety, three hundred and seventy-three women (61%) reported a score of ≥40 on STAI-S, indicating clinically relevant anxiety. After accounting for current clinical diagnoses of depression or anxiety, and demographic factors known to influence mental health, only perceived psychological change occurring as a result of the introduction of social distancing measures predicted unique variance in the risk of clinically relevant maternal depression (30%) and anxiety (33%). Interpretation: To our knowledge, this is the first national study to examine the psychosocial experiences of postnatal women during the COVID-19 pandemic in the UK. Prevalence rates of clinically relevant maternal depression and anxiety were extremely high when compared to both self-reported current diagnoses of depression and anxiety, and pre-pandemic prevalence studies. Perceived psychological changes occurring as a result of the introduction of social distancing measures predicted unique variance in the risk for clinically relevant maternal depression and anxiety. This study provides vital information for clinicians, funders, policy makers, and researchers to inform the immediate next steps in perinatal care, policy, and research during COVID-19 and future health crises. 
 

Fonte:
Journal of Psychiatric Research ; 136: 157-166; 2021. DOI: 10.1016/j.jpsychires.2021.01.048.