Implementação da Lista de Verificação para Partos Seguros da OMS: impacto sobre a prescrição de sulfato de magnésio, avaliada num estudo longitudinal com duração de um ano
CONTEXTO: A pré-eclâmpsia é uma condição relativamente frequente durante a gravidez e o parto. A administração de sulfato de magnésio como medida profilática e terapêutica para a eclâmpsia é uma prática baseada em evidências; entretanto, não é usada de forma consistente, o que compromete a saúde de mulheres grávidas. Este estudo procurou avaliar a adesão às recomendações da International Society for the Study of Hypertension in Pregnancy (ISSHP) sobre o uso de MgSO4 em gestantes com pré-eclâmpsia, antes e depois da implementação da Lista de Verificação para Partos Seguros (LVPS) da Organização Mundial da Saúde. MÉTODOS: Este estudo quase-experimental foi realizado entre julho de 2015 e julho de 2016 em uma maternidade de nível terciário no nordeste do Brasil, onde a LVPS foi implementada. A adesão (sub e sobreutilização de MgSO4) foi avaliada em amostras bissemanais de 30 partos, avaliados 6 meses antes e 6 meses depois da implementação da LVPS, usando indicadores baseados em diretrizes internacionais. Ao todo, 720 partos foram avaliados durante 1 ano usando um aplicativo ad hoc para a revisão de prontuários. Estimamos o uso adequado agregado durante o período do estudo e comparamos as medições nas séries temporais com um gráfico de controle para avaliar as mudanças. RESULTADOS: A incidência de pré-eclâmpsia foi de 39,9% (287/720). Entre estes casos, 64,8% (186/287) apresentaram sinais ou sintomas graves e precisaram de MgSO4. A subutilização (ausência de prescrição quando necessário) de MgSO4 foi observada em 74,7% (139/186) das mulheres que precisavam do medicamento. Considerando todas as mulheres, a falta de adesão ao protocolo de prescrição (sub e sobreutilização) foi de 20,0% (144/720). Após a introdução da LVPS, o uso de MgSO4 em mulheres com pré-eclâmpsia com características graves aumentou de 19,1 para 34,2% (p=0,025). A análise longitudinal mostrou uma curva ascendente significativa (p<0,05) para o uso adequado de MgSO4 após a implementação da LVPS. CONCLUSÕES: A adesão às recomendações para o uso de MgSO4 na pré-eclâmpsia foi baixa, mas melhorou após a implementação da LVPS. Intervenções para melhorar a adesão com base em lembretes para o diagnóstico e o tratamento podem ajudar na implementação desta boa prática.
BACKGROUND: Preeclampsia is a relatively frequent condition during pregnancy and childbirth. The administration of magnesium sulphate as a prophylactic and treatment measure is an evidence-based practice for eclampsia; however, it is not consistently used, compromising the health of pregnant women. This study aimed to assess compliance with recommendations of the International Society for the Study of Hypertension in Pregnancy (ISSHP) for the use of MgSO4 in pregnant women with preeclampsia, before and after the implementation of the World Health Organization Safe Childbirth Checklist (SCC). METHODS: This quasi-experimental study was conducted between July 2015 and July 2016 at a third-level maternity hospital in northeastern Brazil, where the SCC was implemented. Compliance (underuse and overuse of MgSO4) was assessed in biweekly samples of 30 deliveries assessed 6 months before and 6 months after SCC implementation, using indicators based on international guidelines. A total of 720 deliveries were assessed over 1 year using an ad hoc application for reviewing medical records. Aggregated adequate use was estimated for the study period, and the time series measurements were compared to a control chart to assess change. RESULTS: The incidence of preeclampsia was 39.9% (287/720). Among these, 64.8% (186/287) had severe signs or symptoms and needed MgSO4. Underuse (no prescription when needed) of MgSO4 was observed in 74.7% (139/186) of women who needed the drug. Considering all women, non-compliance with the prescription protocol (underuse and overuse) was 20.0% (144/720). After introducing the SCC, the use of MgSO4 in women with preeclampsia with severe features increased from 19.1 to 34.2% (p = 0.025). Longitudinal analysis showed a significant (p < 0.05) ascending curve of adequate use of MgSO4 after the SCC was implemented. CONCLUSIONS: Compliance with recommendations for the use of MgSO4 in preeclampsia was low, but improved after implementation of the SCC. Interventions to improve compliance based on diagnosis and treatment reminders may help in the implementation of this good practice.