Implementação de um método de coprodução para melhorar a segurança do paciente: introdução da ferramenta de Consentimento para a Segurança do Paciente, um exemplo de solução local simples para enfrentar um desafio comum

Abdulelah Alhawsawi ; David Greenfield
Título original:
Implementing co-production to enhance patient safety: the introduction of the Patient Safety Consent tool, an example of a simple local solution to a common challenge
Resumo:

A meta de zero danos é uma prioridade à qual todos os sistemas de saúde aspiram. No entanto, mais de duas décadas após a publicação do relatório To Err is Human, muitos sistemas ainda têm dificuldade em identificar ou implementar estratégias para alcançar este importante objetivo. Uma estratégia muito eficaz, porém subutilizada, para transformar a segurança do paciente e alcançar zero danos é a “coprodução” da saúde. Esta é definida como “o trabalho interdependente de usuários e profissionais que criam, projetam, produzem, executam e avaliam as relações e ações que contribuem para a saúde de pessoas e populações”. Em termos simples, a coprodução significa que os pacientes contribuem com os profissionais na prestação de serviços de saúde. Embora conheçamos a importância e o valor da coprodução, muitos sistemas de saúde subutilizam esta abordagem. As ações para implementar e sustentar mudanças na prestação de serviços de modo a utilizar a coprodução são difíceis de definir. Para realizar melhorias, um requisito-chave para os profissionais de saúde consiste em responder à pergunta: como podemos implementar e sustentar a coprodução de maneiras eficientes e eficazes? Para lidar com este desafio e melhorar a segurança do paciente, com a meta de alcançar zero danos, elaboramos a ferramenta de “Consentimento para a Segurança do Paciente” (CSP), uma ferramenta simples de coprodução que visa empoderar pacientes e famílias para que se tornem membros mais ativos em seu próprio cuidado de saúde. Para implementar a coprodução do cuidado, é necessária uma mudança nas atitudes e dinâmicas de poder tradicionais que existem entre profissionais de saúde e pacientes. Os profissionais precisam compartilhar explicitamente informações sobre serviços, avaliações diagnósticas, opções terapêuticas e tomadas de decisão e envolver os pacientes e suas famílias na escolha da direção e das ações para seu cuidado; por outro lado, os pacientes e familiares devem assumir um papel ativo para participar de discussões, da escolha de possíveis trajetórias de cuidado e de decisões contínuas sobre seu tratamento. Por isso, a ferramenta CSP constitui uma estratégia direta, envolvente, abrangente e, quando usada de forma eficaz, muito poderosa para modificar as dinâmicas e resultados do cuidado. O processo de coprodução usando a ferramenta CSP requer o envolvimento de pacientes e familiares na discussão e registro do perfil de risco do paciente. Para isto, é preciso abordar os riscos clínicos que podem existir durante o processo de cuidado, tais como: tromboembolismo venoso, quedas, infecções adquiridas no hospital (IAHs), efeitos colaterais ou erros de medicação e eventos adversos ligados mais especificamente ao paciente e ao seu plano de tratamento. O perfil de risco do paciente também é uma ferramenta que permite à equipe de saúde avaliar e entender a capacidade de autocuidado de um paciente, sua capacidade de compreender as informações médicas e as direções, decisões e objetivos do tratamento, bem como sua resiliência emocional e psicológica. Uma vez que o perfil de risco do paciente foi identificado e registrado, o processo de coprodução procura determinar as responsabilidades do paciente, dos seus familiares e dos diferentes profissionais de saúde para monitorar, prevenir e, quando necessário, responder aos riscos e mitigá-los. A ferramenta CSP reconhece que os pensamentos, emoções, expectativas, necessidades e a resiliência de um paciente mudam ao longo do processo de cuidado; por isso, trata-se de um documento em constante evolução, atualizado regularmente. A ferramenta CSP integra e personaliza as responsabilidades dos pacientes/familiares e profissionais da saúde nas três fases da jornada do paciente: (1) fase pré-internação; (2) fase de internação hospitalar; (3) fase pós-alta. Durante a fase pré-internação, o paciente e seus familiares, juntamente com os profissionais da saúde, avaliam o perfil de risco do paciente com base em sua história médica e plano de tratamento, registrando os detalhes no formulário de Consentimento para a Segurança do Paciente. Na fase de internação, quando o paciente chega à enfermaria, a equipe de saúde e o paciente revisam o formulário de Consentimento para a Segurança do Paciente para confirmar os detalhes e assegurar a sua implementação. Essas tarefas podem envolver, quando necessário, (re)avaliar os riscos potenciais, as responsabilidades de cada pessoa e como e quando será revista a abordagem CSP. Durante a fase de alta, a equipe de saúde discute e documenta, com o paciente/familiares, os resultados, as ações terapêuticas em curso, as necessidades médicas futuras e os possíveis riscos e ações corretivas. A implementação eficaz de uma estratégia de coprodução ou de ferramentas que questionam e modificam a prática, como a ferramenta CSP, requer um projeto para fomentar um “sistema de saúde que aprende”. Para que a coprodução se torne uma filosofia e um comportamento consistente, usado como método-padrão nas práticas de saúde, é necessário: forte apoio organizacional, incluindo o apoio e adoção pelos administradores; educação e treinamento dos profissionais da saúde para mudar as interações práticas; planejamento e integração nos processos de cuidado, disposições de supervisão e sistemas de informação; evolução das culturas organizacionais e dos serviços; investigação das experiências dos profissionais e pacientes; e revisão e avaliação contínuas do projeto. Existem importantes estudos sobre sistemas de saúde que promoveram tais mudanças, incluindo um trabalho colaborativo e comparativo realizado na Suécia e na Inglaterra. Em conclusão, sabemos que a coprodução na área da saúde tem um impacto positivo na segurança do paciente, nas experiências e no bem-estar dos profissionais. Ao reunir pacientes e profissionais e colocar o paciente no centro do processo de cuidado, a coprodução cria um sistema de saúde mais colaborativo e transparente. O desenvolvimento e a tradução de estratégias de coprodução para ferramentas específicas, como a CSP, padronizam e institucionalizam novas expectativas, comportamentos e culturas para melhorar o cuidado e os resultados para os pacientes.
 

Resumo Original:

Zero harm is one of the priorities that all healthcare systems are aspiring for. However, more than two decades after 'To Err is Human' report, many systems are struggling to identify or implement strategies to achieve this important goal [1]. One of the very powerful, yet underutilized strategies towards transforming patient safety and achieving Zero Harm is 'co-production' [2]. Co-production of health is defined as 'the interdependent work of users and professionals who are creating, designing, producing, delivering, assessing, and evaluating the relationships and actions that contribute to the health of individuals and populations' [2]. Simply put, co-production means that patients contribute alongside professionals to the provision of health services [3]. While we know the importance and potential value of co-production, many health systems are underutilizing the approach. Actions to effectively implement and sustain changes to service provision to use co-production are elusive [4]. To realize improvements, a key requirement for health professionals is addressing the question: how can we implement and sustain co-production in efficient, effective ways? To address this challenge, and thereby improve patient safety and work towards zero harm, we introduce the 'Patient Safety Consent' (PSC) tool, a simple co-production tool to empower patients and families to become more active members in their own healthcare. Implementing the co-production of care, requires a shift in the traditional attitudes and power dynamics between healthcare professionals and patients [2]. Professionals explicitly share service information, diagnosis assessments, treatment options, decision-making and involve patients and their families in determining the direction and actions for their care; conversely, patients and families take on an active role in engaging in discussions, potential care pathways, and ongoing decisions about their treatment and care. Hence, the PSC tool is a direct, engaging, comprehensive and, where used effectively, a powerful strategy for changing the dynamics and outcomes of care. The co-production process using the PSC tool involves engaging the patient/family in discussing and recording the patient risk profile. This means addressing potential clinical risks that could take place during the care process such as: venous thromboembolism; patient falls; hospital acquired infections (HAIs); medication side effects or errors; and, adverse events that are specific to the patient and their treatment plan. The patient risk profile is also a tool for the care team to assess and understand an individual patient's self-care ability, capacity for comprehending medical information, treatment directions and decisions, their goals from treatment and, emotional and psychological resilience. Once the patient risk profile is identified and recorded, the co-production process continues by determining the responsibilities of the patient/families and different healthcare professionals on how to monitor, prevent and, where necessary, respond and alleviate them. The PSC tool recognizes that a patient's thoughts, emotions, expectations, needs and resilience changes during the care process; hence is it an evolving document that is updated regularly across the care process. The PSC tool integrates and personalizes the responsibilities of patients/families and healthcare professionals across the three phases of the patient journey: 1. Pre-admission phase; 2. Admission (hospital) Phase; 3. Post-discharge phase. 1.Pre-admission phase: during this phase, together the healthcare professionals and patient/family assess the patient risk profile, based on their medical history and treatment plan, recording the details on the Patient Safety Consent form. 2. Admission phase: on admission to the ward the care team and patient review the Patient Safety Consent form to confirm the details and ensure its implementation. These tasks can involve, as necessary, (re)assessing potential risks, the responsibilities of each person, and how and when the PSC approach will be reviewed. 3. Post-discharge phase: during the discharge phase, the care team discuss and document with the patient/family outcomes, ongoing care actions, future medical requirements and potential risks and remedy actions. Successful implementation of a co-production strategy or tools that challenge and change practice, such as the PSC tool, requires a project to create a 'learning health system' [2]. Making co-production a consistent, standard philosophy and behavior in care practice necessitates: strong organizational endorsement support, including support and adoption by managers; education and training of healthcare personnel to change practice interactions; planning and integration into care processes, supervision arrangements and information systems; evolution of organizational and services cultures; investigation of staff and patient experiences; and, ongoing review and evaluation of the project. There are important research studies into health systems driving such changes: see the collaborative, comparative work in Sweden and England [4]. In conclusion, we know that co-production in healthcare has a positive impact on patient safety, and experience, and staff wellbeing [2]. By bringing patients and professionals together and placing the patient at the center of the care process, co-production creates a more collaborative, and transparent healthcare system. Developing and translating co-production strategies into specific tools, such as PSC tool, standardizes and institutionalizes new expectations, behaviors and cultures to improve patient care and outcomes.
 

Fonte:
International Journal for Quality in Health Care : Journal of the International Society for Quality in Health Care / ISQua. ; 36; 2024. DOI: 10.1093/intqhc/mzad115..