Infecções e rituais de interação numa organização: relatos de profissionais clínicos sobre o conflito entre se manifestar ou permanecer calados diante de ameaças à segurança do paciente

SZYMCZAK, J. E.
Título original:
Infections and interaction rituals in the organisation: Clinician accounts of speaking up or remaining silent in the face of threats to patient safety
Resumo:

O silêncio dos profissionais clínicos diante de ameaças conhecidas à segurança do paciente é uma crescente fonte de preocupações. As explicações atuais para as dificuldades que estes profissionais encontram em se manifestar são conceitualizadas ao nível individual ou organizacional, sendo dedicada pouca atenção ao espaço entre os dois níveis — o contexto da interação. Baseando-se em 103 entrevistas com profissionais clínicos de um hospital nos Estados Unidos, este artigo examina o que estes profissionais têm a dizer sobre o conflito entre se manifestar ou permanecer calados diante de violações às técnicas de prevenção de infecções. Utilizamos um enfoque microssociológico para analisar os relatos como histórias de interação, nas quais os participantes recorrem às realidades situacionais e organizacionais do trabalho clínico que servem para justificar o ato de se manifestar ou de permanecer calados. A análise desses relatos revela três influências sobre a decisão de se manifestar, moldadas pelo contexto da organização: foco de atenção mútuo, dependência da trajetória interacional e presença de uma plateia. Estes resultados sugerem que a decisão de se manifestar num ambiente clínico é dinâmica, altamente dependente do contexto, inserida nos rituais de interação que permeiam o trabalho cotidiano e restringida pela dinâmica organizacional. Este artigo desenvolve uma compreensão mais sofisticada e distintamente sociológica das razões pelas quais os profissionais clínicos têm tanta dificuldade em se manifestar no cuidado de saúde.

Resumo Original:

Clinician silence in the face of known threats to patient safety is a source of growing concern. Current explanations for the difficulties clinicians have of speaking up are conceptualised at the individual or organisational level, with little attention paid to the space between - the interaction context. Drawing on 103 interviews with clinicians at one hospital in the United States this article examines how clinicians talk about speaking up or not in the face of breaches in infection prevention technique. Accounts are analysed using a microsociological lens as stories of interaction, through which respondents appeal to situational and organisational realities of medical work that serve to justify speaking up or remaining silent. Analysis of these accounts reveals three influences on the decision to speak up, shaped by background conditions in the organisation; mutual focus of attention, interactional path dependence and the presence of an audience. These findings suggest that the decision to speak up in a clinical setting is dynamic, highly context-dependent, embedded in the interaction rituals that suffuse everyday work and constrained by organisational dynamics. This article develops a more sophisticated and distinctly sociological understanding of the reasons why speaking up in healthcare is so difficult.

Fonte:
Sociology of health & illness ; 38(2): 325-339; 2016. DOI: 10.1111/1467-9566.12371.
DECS:
atitude do pessoal de saúde, comunicação, infecção hospitalar, controle de infecções, entrevistas como assunto, cultura organizacional, sociologia médica