Manifestações clínicas, fatores de risco e resultados maternos e perinatais da doença do coronavírus de 2019 na gravidez: revisão sistemática viva e metanálise

John Allotey, ; Elena Stallings, ; Mercedes Bonet, ; Magnus Yap, ; Shaunak Chatterjee, ; Tania Kew, ; Luke Debenham,
Título original:
Clinical manifestations, risk factors, and maternal and perinatal outcomes of coronavirus disease 2019 in pregnancy: living systematic review and meta-analysis
Resumo:

Resumo
Objetivo: Determinar as manifestações clínicas, os fatores de risco e os resultados maternos e perinatais em mulheres grávidas e recentemente grávidas com doença do coronavírus de 2019 (COVID-19) suspeita ou confirmada.
Desenho: Revisão sistemática viva e metanálise.
Fontes de dados: Fizemos pesquisas nas bases de dados Medline, Embase, Cochrane, WHO COVID-19, China National Knowledge Infrastructure (CNKI) e Wanfang de 1 de dezembro de 2019 a 6 de outubro de 2020, juntamente com servidores pré-impressão, redes sociais e listas de referências.
Seleção de estudos: Incluímos estudos de coorte que relatassem as taxas, as manifestações clínicas (sintomas, achados laboratoriais e radiológicos), os fatores de risco e os resultados maternos e perinatais em mulheres grávidas e recentemente grávidas com COVID-19 suspeita ou confirmada.
Extração de dados: Pelo menos dois pesquisadores extraíram os dados e avaliaram a qualidade dos estudos de forma independente. Foi realizada uma metanálise de efeitos aleatórios, com estimativas agrupadas na forma de odds ratios e proporções com intervalos de confiança de 95%. Todas as análises serão atualizadas regularmente.
Resultados: Incluímos um total de 192 estudos. No total, 10% (intervalo de confiança de 95%, 7% a 12%; 73 estudos, 67.271 mulheres) das mulheres grávidas e recentemente grávidas que visitaram ou foram internadas no hospital por qualquer motivo foram diagnosticadas com COVID-19 suspeita ou confirmada. As manifestações clínicas mais comuns da COVID-19 na gravidez foram febre (40%) e tosse (41%). Em comparação com mulheres não grávidas em idade reprodutiva, as mulheres grávidas e recentemente grávidas com COVID-19 tiveram menor probabilidade de apresentar sintomas (odds ratio [OR], 0,28, intervalo de confiança de 95%, 0,13 a 0,62; I2=42,9%) ou relatar sintomas de febre (0,49, 0,38 a 0,63; I2=40,8%), dispneia (0,76, 0,67 a 0,85; I2=4,4%) e mialgia (0,53, 0,36 a 0,78; I2=59,4%). A probabilidade de internação em uma unidade de terapia intensiva (OR, 2,13, 1,53 a 2,95; I2=71,2%), a necessidade de ventilação invasiva (2,59, 2,28 a 2,94; I2=0%) e a necessidade de oxigenação por membrana extracorpórea (2,02, 1,22 a 3,34; I2=0%) foram maiores em mulheres grávidas e recentemente grávidas do que em mulheres não grávidas em idade reprodutiva. Ao todo, 339 mulheres grávidas (0,02%, 59 estudos, 41.664 mulheres) com COVID-19 confirmada morreram por qualquer causa. Maior idade materna (OR 1,83, 1,27 a 2,63; I2=43,4%), índice de massa corporal elevado (2,37, 1,83 a 3,07; I2=0%), qualquer comorbidade materna preexistente (1,81, 1,49 a 2.20; I2=0%), hipertensão crônica (2,0, 1,14 a 3,48; I2=0%), diabetes preexistente (2,12, 1,62 a 2,78; I2=0%), e pré-eclâmpsia (4,21, 1,27 a 14,0; I2=0%) estiveram associados à ocorrência de COVID-19 grave na gravidez. Em mulheres grávidas com COVID-19, maior idade materna, índice de massa corporal elevado, etnia não branca, qualquer comorbidade materna preexistente, incluindo hipertensão crônica e diabetes, e pré-eclâmpsia estiveram associados a complicações graves, tais como internação em unidade de terapia intensiva, ventilação invasiva e morte materna. Em comparação com mulheres grávidas sem COVID-19, aquelas com a doença tiveram maior probabilidade de morte materna (OR 2,85, 1,08 a 7,52; I2=0%), necessidade de internação em unidade de terapia intensiva (18,58, 7,53 a 45,82; I2=0%) e nascimento pré-termo (1,47, 1,14 a 1,91; I2=18,6%). A probabilidade de internação em unidade de terapia intensiva neonatal (4,89, 1,87 a 12,81, I2=96,2%) foi maior em bebês nascidos de mães com COVID-19 do que daquelas sem COVID-19.
Conclusão: Mulheres grávidas e recentemente grávidas com COVID-19 que visitam ou são internadas em hospitais por qualquer razão têm menor probabilidade de apresentar sintomas como febre, dispneia e mialgia e maior probabilidade de serem internadas em unidade de terapia intensiva ou de precisarem de ventilação invasiva do que mulheres não grávidas em idade reprodutiva. Comorbidades preexistentes, etnia não branca, hipertensão crônica, diabetes preexistente, maior idade materna e índice de massa corporal elevado são fatores de risco para COVID-19 grave na gravidez. Mulheres grávidas com COVID-19 têm maior probabilidade de parto prematuro do que mulheres sem a doença e podem apresentar um maior risco de morte materna e internação em unidade de terapia intensiva. Seus bebês apresentam maior probabilidade de serem internados em unidade neonatal.
Registro de revisão sistemática: PROSPERO CRD42020178076.
Nota aos leitores: Este artigo apresenta uma revisão sistemática viva que será atualizada para refletir as evidências emergentes. As atualizações podem ocorrer por até dois anos a partir da data de publicação original. Esta versão é a primeira atualização do artigo original publicado em 1 de setembro de 2020 (BMJ 2020;370:m3320); as atualizações anteriores podem ser encontradas como suplementos em https://www.bmj.com/content/370/bmj.m3320/related#datasupp. Ao citar este artigo, considere acrescentar o número da atualização e a data de acesso, para proporcionar maior clareza.

Resumo Original:

Abstract
Objective: To determine the clinical manifestations, risk factors, and maternal and perinatal outcomes in pregnant and recently pregnant women with suspected or confirmed coronavirus disease 2019 (covid-19).
Design: Living systematic review and meta-analysis.
Data sources: Medline, Embase, Cochrane database, WHO COVID-19 database, China National Knowledge Infrastructure (CNKI), and Wanfang databases from 1 December 2019 to 6 October 2020, along with preprint servers, social media, and reference lists.
Study selection: Cohort studies reporting the rates, clinical manifestations (symptoms, laboratory and radiological findings), risk factors, and maternal and perinatal outcomes in pregnant and recently pregnant women with suspected or confirmed covid-19.
Data extraction: At least two researchers independently extracted the data and assessed study quality. Random effects meta-analysis was performed, with estimates pooled as odds ratios and proportions with 95% confidence intervals. All analyses will be updated regularly.
Results: 192 studies were included. Overall, 10% (95% confidence interval 7% to 12%; 73 studies, 67 271 women) of pregnant and recently pregnant women attending or admitted to hospital for any reason were diagnosed as having suspected or confirmed covid-19. The most common clinical manifestations of covid-19 in pregnancy were fever (40%) and cough (41%). Compared with non-pregnant women of reproductive age, pregnant and recently pregnant women with covid-19 were less likely to have symptoms (odds ratio 0.28, 95% confidence interval 0.13 to 0.62; I2=42.9%) or report symptoms of fever (0.49, 0.38 to 0.63; I2=40.8%), dyspnoea (0.76, 0.67 to 0.85; I2=4.4%) and myalgia (0.53, 0.36 to 0.78; I2=59.4%). The odds of admission to an intensive care unit (odds ratio 2.13, 1.53 to 2.95; I2=71.2%), invasive ventilation (2.59, 2.28 to 2.94; I2=0%) and need for extra corporeal membrane oxygenation (2.02, 1.22 to 3.34; I2=0%) were higher in pregnant and recently pregnant than non-pregnant reproductive aged women. Overall, 339 pregnant women (0.02%, 59 studies, 41 664 women) with confirmed covid-19 died from any cause. Increased maternal age (odds ratio 1.83, 1.27 to 2.63; I2=43.4%), high body mass index (2.37, 1.83 to 3.07; I2=0%), any pre-existing maternal comorbidity (1.81, 1.49 to 2.20; I2=0%), chronic hypertension (2.0, 1.14 to 3.48; I2=0%), pre-existing diabetes (2.12, 1.62 to 2.78; I2=0%), and pre-eclampsia (4.21, 1.27 to 14.0; I2=0%) were associated with severe covid-19 in pregnancy. In pregnant women with covid-19, increased maternal age, high body mass index, non-white ethnicity, any pre-existing maternal comorbidity including chronic hypertension and diabetes, and pre-eclampsia were associated with serious complications such as admission to an intensive care unit, invasive ventilation and maternal death. Compared to pregnant women without covid-19, those with the disease had increased odds of maternal death (odds ratio 2.85, 1.08 to 7.52; I2=0%), of needing admission to the intensive care unit (18.58, 7.53 to 45.82; I2=0%), and of preterm birth (1.47, 1.14 to 1.91; I2=18.6%). The odds of admission to the neonatal intensive care unit (4.89, 1.87 to 12.81, I2=96.2%) were higher in babies born to mothers with covid-19 versus those without covid-19.
Conclusion: Pregnant and recently pregnant women with covid-19 attending or admitted to the hospitals for any reason are less likely to manifest symptoms such as fever, dyspnoea, and myalgia, and are more likely to be admitted to the intensive care unit or needing invasive ventilation than non-pregnant women of reproductive age. Pre-existing comorbidities, non-white ethnicity, chronic hypertension, pre-existing diabetes, high maternal age, and high body mass index are risk factors for severe covid-19 in pregnancy. Pregnant women with covid-19 versus without covid-19 are more likely to deliver preterm and could have an increased risk of maternal death and of being admitted to the intensive care unit. Their babies are more likely to be admitted to the neonatal unit.
Systematic review registration: PROSPERO CRD42020178076.
Readers' note: This article is a living systematic review that will be updated to reflect emerging evidence. Updates may occur for up to two years from the date of original publication. This version is update 1 of the original article published on 1 September 2020 (BMJ 2020;370:m3320), and previous updates can be found as data supplements (https://www.bmj.com/content/370/bmj.m3320/related#datasupp). When citing this paper please consider adding the update number and date of access for clarity.

 

Fonte:
BMJ Clinical Research ; 370; 2021. DOI: doi.org/10.1136/bmj.m3320.