O silêncio que pode ser perigoso: um estudo baseado em narrativas clínicas para avaliar a probabilidade de os profissionais de saúde manifestarem suas preocupações sobre segurança
Objetivo: Investigar a probabilidade de os profissionais de saúde manifestarem suas preocupações sobre a segurança do paciente em oncologia e esclarecer os efeitos dos fatores contextuais clínicos e situacionais sobre essa probabilidade.
Pacientes e métodos: Utilizando um inquérito fatorial autoadministrado (taxa de resposta, 65%), 1013 enfermeiros e médicos de serviços de oncologia avaliaram quatro narrativas clínicas que descreviam erros e violação de regras de colegas de trabalho. Usou-se análise de regressão múltipla para modelar a probabilidade de o profissional de saúde manifestar suas preocupações segundo as características da narrativa, o modo como o profissional avaliou a situação e suas características pessoais.
Resultados: Os participantes demonstraram uma alta probabilidade de manifestar suas preocupações sobre a segurança do paciente, mas houve uma variação considerável dentro de cada tipo de erro ou violação e entre diferentes erros ou violações. Os profissionais sem função administrativa demonstraram níveis significativamente mais altos de dificuldade em tomar decisões e de desconforto em se manifestar. Com base nas informações apresentadas nas narrativas, 74 a 96% dos profissionais se manifestariam caso um supervisor deixasse de verificar uma prescrição, 45 a 81% o fariam se um colega de trabalho não higienizasse as mãos, 82 a 94% o fariam se um enfermeiro violasse uma regra de segurança no preparo de medicamentos e 59 a 92% questionariam um médico caso este violasse uma regra de segurança numa punção lombar. Diversas características das narrativas previram a probabilidade de um profissional de saúde se manifestar. As percepções sobre o potencial de danos, o desconforto previsto e a dificuldade em tomar uma decisão foram preditores significativos da probabilidade de manifestação deste profissional.
Conclusões: A disposição dos profissionais de saúde para manifestar suas preocupações em relação à segurança do paciente é afetada consideravelmente por fatores contextuais. Os médicos e enfermeiros sem função administrativa demonstram um desconforto considerável em manifestar suas preocupações. Os departamentos de oncologia devem dar orientações claras aos seus profissionais, oferecendo-lhes treinamento sobre quando e como expressar as suas preocupações sobre segurança.
Purpose: To investigate the likelihood of speaking up about patient safety in oncology and to clarify the effect of clinical and situational context factors on the likelihood of voicing concerns.
Patients and methods: 1013 nurses and doctors in oncology rated four clinical vignettes describing coworkers' errors and rule violations in a self-administered factorial survey (65% response rate). Multiple regression analysis was used to model the likelihood of speaking up as outcome of vignette attributes, responder's evaluations of the situation and personal characteristics.
Results: Respondents reported a high likelihood of speaking up about patient safety but the variation between and within types of errors and rule violations was substantial. Staff without managerial function provided significantly higher levels of decision difficulty and discomfort to speak up. Based on the information presented in the vignettes, 74%-96% would speak up towards a supervisor failing to check a prescription, 45%-81% would point a coworker to a missed hand disinfection, 82%-94% would speak up towards nurses who violate a safety rule in medication preparation, and 59%-92% would question a doctor violating a safety rule in lumbar puncture. Several vignette attributes predicted the likelihood of speaking up. Perceived potential harm, anticipated discomfort, and decision difficulty were significant predictors of the likelihood of speaking up.
Conclusions: Clinicians' willingness to speak up about patient safety is considerably affected by contextual factors. Physicians and nurses without managerial function report substantial discomfort with speaking up. Oncology departments should provide staff with clear guidance and trainings on when and how to voice safety concerns.