Perda de informações durante a transferência de pacientes com traumatismos críticos: um estudo de métodos mistos
Contexto: Durante a transferência de pacientes com traumatismos críticos do serviço de emergência (SE) para a unidade de terapia intensiva (UTI) pode ocorrer a perda de informações clínicas. O objetivo deste estudo foi investigar as causas e a frequência das discrepâncias de informação nas passagens de casos e explorar soluções para melhorar a transferência de informações.
Métodos: Utilizamos uma abordagem de métodos mistos em nosso centro de trauma de nível I. As discrepâncias entre as informações do SE e da UTI foram medidas através de auditorias nos prontuários. Aplicamos estatísticas descritivas, paramétricas e não paramétricas, conforme apropriado. Realizamos seis grupos focais com 46 enfermeiros do SE e da UTI e nove entrevistas individuais com líderes de equipes de trauma para explorar soluções destinadas a melhorar a transferência de informações usando a análise temática.
Resultados: As auditorias nos prontuários demonstraram que informações sobre lesões deixaram de ser transmitidas em 24% dos pacientes. Ocorreram discrepâncias nas informações clínicas de 48% dos pacientes. Nos pacientes com essas discrepâncias foi mais comum haver uma história clínica desconhecida (p<0,001), exigindo o resgate de informações (p <0,005). Em aproximadamente um de cada três pacientes cujas informações foram resgatadas o gerenciamento clínico foi modificado (p<0,01). Os participantes identificaram dificuldades de acordo com suas disciplinas, com algumas sobreposições. Os médicos, ao contrário dos enfermeiros, foram vistos como menos cientes do estresse interdisciplinar e de seu papel na variabilidade da passagem de casos. As soluções propostas incluíram a padronização da passagem de casos, um melhor treinamento não técnico dos médicos e a compreensão das culturas das unidades, com os enfermeiros como promotores da cultura de segurança.
Conclusão: As informações sobre pacientes traumatizados se perderam durante a transferência do SE para a UTI por várias razões. Foi proposta uma abordagem interprofissional para melhorar a passagem de casos baseada na familiarização mútua entre unidades e no uso de ferramentas de comunicação. Considerou-se que é importante ir além das fronteiras geográficas e temporais tradicionais para melhorar a segurança do paciente durante a transferência do SE para a UTI.
Background: Clinical information may be lost during the transfer of critically injured trauma patients from the emergency department (ED) to the intensive care unit (ICU). The aim of this study was to investigate the causes and frequency of information discrepancies with handover and to explore solutions to improving information transfer.
Methods: A mixed-methods research approach was used at our level I trauma centre. Information discrepancies between the ED and the ICU were measured using chart audits. Descriptive, parametric and non-parametric statistics were applied, as appropriate. Six focus groups of 46 ED and ICU nurses and nine individual interviews of trauma team leaders were conducted to explore solutions to improve information transfer using thematic analysis.
Results: Chart audits demonstrated that injuries were missed in 24% of patients. Clinical information discrepancies occurred in 48% of patients. Patients with these discrepancies were more likely to have unknown medical histories (p<0.001) requiring information rescue (p<0.005). Close to one in three patients with information rescue had a change in clinical management (p<0.01). Participants identified challenges according to their disciplines, with some overlap. Physicians, in contrast to nurses, were perceived as less aware of interdisciplinary stress and their role regarding variability in handover. Standardising handover, increasing non-technical physician training and understanding unit cultures were proposed as solutions, with nurses as drivers of a culture of safety.
Conclusion: Trauma patient information was lost during handover from the ED to the ICU for multiple reasons. An interprofessional approach was proposed to improve handover through cross-unit familiarisation and use of communication tools is proposed. Going beyond traditional geographical and temporal boundaries was deemed important for improving patient safety during the ED to ICU handover.