Quando bons médicos vão mal: um problema do sistema

LEAPE, L.
Título original:
When Good Doctors Go Bad: A Systems Problem
Resumo:

Apresentação do Dr. Lucian Leape no Fórum da Associação Americana de Cirurgia sobre as situações problemáticas às quais os médicos são susceptíveis e que impactam no seu desempenho e na segurança do paciente.Após alguns exemplos de circunstâncias problemáticas, ele afirma que essa é uma realidade inegável e um grave problema.Inicialmente, ele faz um paralelo de situações descritas na população em geral que podem ser aplicadas a comunidade médica. Levanta a questão dos médicos claramente psicopatas, que são raros, mas que existem e daqueles com problemas de uso de álcool (cerca de 10%) abuso de drogas (drogas legais usadas ilegalmente - 5% a 15%), com problemas mentais (16% com pelo menos um episódio de depressão, casos de suicídio) e físicos (10% têm interrompido suas atividades por algum tempo). Também se refere ao declínio da competência profissional, difícil de mensurar, mas reporta-se ao fato de 5 a 10 % dos médicos que falham nos exames de certificação e re-certificação.

Quanto aos problemas de comportamento, que levam ao abuso de colegas ou pacientes, para os quais são escassos os estudos, estima-se que cerca de 5% dos médicos apresentem tais problemas. Relata, ainda, que, a julgar pelos dados e pela experiência, cerca de 1 a 2% dos médicos em um determinado hospital necessitam de ajuda para alguma das questões apontadas, mas enfrentam uma relutância devido ao fato de que existe um relacionamento interpessoal e também pela não aceitação por parte dos médicos.

Segundo o autor, o grande desafio é como prevenir que os médicos se tornem maus e que as pessoas sejam lesadas por outras. Para tanto é necessário um sistema que seja objetivo - baseado em dados e não em opiniões, em informação e não em sentimentos, em padrões de desempenho. O sistema deve ser escrupuloso e justo na avaliação do desempenho dos profissionais. Além disso, deve responder prontamente quando um problema for detectado. A meta deve ser capacitar o médico para que continue a atuar, mas de forma segura. Sua hipótese é de que é possível identificar problemas no desempenho do médico antes que cause um problema ao paciente, com isso reduzindo os danos e ajudando aos médicos.O autor menciona uma avaliação realizada no Canadá, que parece promissora. Trata-se do PAR - Phisician Achievement Review, que é uma avaliação de 360 graus, em que cada médico é avaliado por si mesmo, por seus pares, pelos enfermeiros e por seus pacientes através de um questionário.

Por fim, o autor aborda a necessidade de envolver as instituições: hospitais e outras organizações com responsabilidades quanto à qualidade do desempenho do médico, para que se comprometam a custear as avaliações e treinamento dos médicos. Encerra dizendo que o que importa é desejarmos enfrentar o problema, pois os meios estão à disposição.

Fonte:
Annals of Surgery ; 244(5): 649-652; 2006. DOI: 10.1097/01.sla.0000243602.60353.b1.
DECS:
competência clínica, erros médicos, médicos, procedimentos cirúrgicos operatorios