Sobrecarga das infecções endêmicas associadas ao cuidado de saúde em países em desenvolvimento: revisão sistemática e meta-análise
Contexto: As infecções associadas ao cuidado de saúde são o resultado mais comum do cuidado inseguro em todo o mundo, mas há poucos dados relativos ao problema no mundo em desenvolvimento. Nosso objetivo foi avaliar a epidemiologia das infecções endêmicas associadas ao cuidado de saúde nos países em desenvolvimento.
Métodos: Fizemos buscas em bancos de dados eletrônicos e listas de referência de artigos relevantes, procurando artigos publicados entre 1995 e 2008. Selecionamos estudos que continham dados integrais ou parciais, obtidos em países em desenvolvimento, sobre a prevalência ou incidência de infecções - incluindo as taxas gerais de infecções associadas ao cuidado de saúde e os principais sítios de infecção, além de sua causa microbiológica. Os estudos foram classificados como de baixa ou alta qualidade segundo critérios predefinidos. Os dados foram agrupados para a análise.
Resultados: Dos 271 artigos selecionados, 220 foram incluídos na análise final. Algumas regiões geraram dados limitados, e muitos países não foram representados. Cento e dezoito (54%) estudos foram de baixa qualidade. De modo geral, as frequências de infecção relatadas em estudos de alta qualidade foram mais elevadas que nos estudos de baixa qualidade. A prevalência de infecções associadas ao cuidado de saúde (prevalência agrupada em estudos de alta qualidade, 15,5 por 100 pacientes [IC 95%, 12,6 a 18,9]) foi muito mais elevada que as prevalências verificadas na Europa e nos EUA. A densidade geral agrupada de infecções associadas ao cuidado de saúde em unidades de terapia intensiva de adultos foi de 47,9 por 1000 pacientes-dia (IC 95%, 36,7 a 59,1), um valor no mínimo três vezes maior que as densidades verificadas nos EUA. A infecção de sítio cirúrgico foi a principal infecção em hospitais (incidência cumulativa agrupada, 5,6 por 100 procedimentos cirúrgicos), um valor marcadamente mais alto que os verificados em países desenvolvidos. Os bacilos Gram-negativos representaram os isolados nosocomiais mais comuns. Além da resistência à meticilina, observada em 158 dos 290 (54%) isolados de Staphylococcus aureus (em oito estudos), muito poucos artigos registraram resistência antibiótica.
Interpretação: A sobrecarga das infecções associadas ao cuidado de saúde em países em desenvolvimento é alta. Nossos resultados indicam a necessidade de aprimorar as práticas de vigilância e controle de infecções.
Background: Health-care-associated infection is the most frequent result of unsafe patient care worldwide, but few data are available from the developing world. We aimed to assess the epidemiology of endemic health-care-associated infection in developing countries.
Methods: We searched electronic databases and reference lists of relevant papers for articles published 1995-2008. Studies containing full or partial data from developing countries related to infection prevalence or incidence - including overall health-care-associated infection and major infection sites, and their microbiological cause - were selected. We classified studies as low-quality or high-quality according to predefined criteria. Data were pooled for analysis.
Findings: Of 271 selected articles, 220 were included in the final analysis. Limited data were retrieved from some regions and many countries were not represented. 118 (54%) studies were low quality. In general, infection frequencies reported in high-quality studies were greater than those from low-quality studies. Prevalence of health-care-associated infection (pooled prevalence in high-quality studies, 15-5 per 100 patients [95% CI 12.6-18.9]) was much higher than proportions reported from Europe and the USA. Pooled overall health-care-associated infection density in adult intensive-care units was 47.9 per 1000 patient-days (95% CI 36.7-59.1), at least three times as high as densities reported from the USA. Surgical-site infection was the leading infection in hospitals (pooled cumulative incidence 5.6 per 100 surgical procedures), strikingly higher than proportions recorded in developed countries. Gram-negative bacilli represented the most common nosocomial isolates. Apart from meticillin resistance, noted in 158 of 290 (54%) Staphylococcus aureus isolates (in eight studies), very few articles reported antimicrobial resistance.
Interpretation: The burden of health-care-associated infection in developing countries is high. Our findings indicate a need to improve surveillance and infection-control practices.