Transfusão de Hemácias: diretrizes internacionais da AABB, 2023

Jeffrey L Carson ; Simon J Stanworth ; Gordon Guyatt ; Stacey Valentine ; Jane Dennis ; Sara Bakhtary ; Claudia S Cohn
Título original:
Red Blood Cell Transfusion 2023 AABB International Guidelines
Resumo:

Resumo
Importância. A transfusão de hemácias é uma intervenção médica comum, que pode trazer benefícios e causar danos.
Objetivo. Apresentar recomendações para o uso da transfusão de hemácias em adultos e crianças.
Revisão de Evidências. Seguimos padrões para diretrizes confiáveis, incluindo o uso do método GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation), gestão de conflitos de interesse e explicitação de valores e preferências. Também analisamos as evidências de revisões sistemáticas de estudos clínicos randomizados.
Resultados. Em adultos, 45 estudos clínicos randomizados com 20.599 participantes compararam limiares restritivos para a transfusão baseados na hemoglobina, tipicamente de 7 a 8 g/dL, com limiares de transfusão liberais de 9 a 10 g/dL. Em pacientes pediátricos, 7 estudos clínicos randomizados com 2.730 participantes compararam uma série de limiares de transfusão restritivos e liberais. Na maioria das populações de pacientes, os resultados geraram evidências de qualidade moderada de que limiares mais restritivos para a transfusão não afetam adversamente os resultados de saúde relevantes para o paciente. Recomendação 1: Em pacientes adultos hospitalizados hemodinamicamente estáveis, o painel internacional recomenda uma estratégia de transfusão restritiva, considerando a transfusão quando a concentração de hemoglobina for inferior a 7 g/dL (recomendação forte, evidências de certeza moderada). De acordo com o limiar da estratégia restritiva usado na maioria dos estudos, os profissionais clínicos podem escolher um limiar de 7,5 g/dL para pacientes submetidos a cirurgia cardíaca e 8 g/dL para os que passaram por cirurgia ortopédica ou que possuem doença cardiovascular preexistente. Recomendação 2: Em pacientes adultos hospitalizados com distúrbios hematológicos ou oncológicos, o painel sugere uma estratégia de transfusão restritiva, considerando a transfusão quando a concentração de hemoglobina for inferior a 7 g/dL (recomendações condicionais, evidências de baixa certeza). Recomendação 3: Em crianças criticamente doentes ou com risco de doença crítica que estão hemodinamicamente estáveis e sem hemoglobinopatia, doença cardíaca cianótica ou hipoxemia grave, o painel internacional recomenda uma estratégia de transfusão restritiva, considerando a transfusão quando a concentração de hemoglobina for inferior a 7 g/dL (recomendação forte, evidências de certeza moderada). Recomendação 4: Em crianças hemodinamicamente estáveis com doença cardíaca congênita, o painel internacional sugere um limiar de transfusão baseado na anormalidade cardíaca e no estágio de reparo cirúrgico: 7 g/dL (reparo biventricular), 9 g/dL (reparo paliativo para ventrículo único) ou 7 a 9 g/dL (doença cardíaca congênita não corrigida) (recomendação condicional, evidências de baixa certeza).
Conclusões e relevância:  É uma boa prática considerar o contexto clínico geral e terapias alternativas à transfusão ao tomar decisões sobre a transfusão em um paciente individual.
 

Resumo Original:

Abstract
Importance  Red blood cell transfusion is a common medical intervention with benefits and harms.
Objective  To provide recommendations for use of red blood cell transfusion in adults and children.
Evidence Review  Standards for trustworthy guidelines were followed, including using Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation methods, managing conflicts of interest, and making values and preferences explicit. Evidence from systematic reviews of randomized controlled trials was reviewed.
Findings  For adults, 45 randomized controlled trials with 20 599 participants compared restrictive hemoglobin-based transfusion thresholds, typically 7 to 8 g/dL, with liberal transfusion thresholds of 9 to 10 g/dL. For pediatric patients, 7 randomized controlled trials with 2730 participants compared a variety of restrictive and liberal transfusion thresholds. For most patient populations, results provided moderate quality evidence that restrictive transfusion thresholds did not adversely affect patient-important outcomes. Recommendation 1: for hospitalized adult patients who are hemodynamically stable, the international panel recommends a restrictive transfusion strategy considering transfusion when the hemoglobin concentration is less than 7 g/dL (strong recommendation, moderate certainty evidence). In accordance with the restrictive strategy threshold used in most trials, clinicians may choose a threshold of 7.5 g/dL for patients undergoing cardiac surgery and 8 g/dL for those undergoing orthopedic surgery or those with preexisting cardiovascular disease. Recommendation 2: for hospitalized adult patients with hematologic and oncologic disorders, the panel suggests a restrictive transfusion strategy considering transfusion when the hemoglobin concentration is less than 7 g/dL (conditional recommendations, low certainty evidence). Recommendation 3: for critically ill children and those at risk of critical illness who are hemodynamically stable and without a hemoglobinopathy, cyanotic cardiac condition, or severe hypoxemia, the international panel recommends a restrictive transfusion strategy considering transfusion when the hemoglobin concentration is less than 7 g/dL (strong recommendation, moderate certainty evidence). Recommendation 4: for hemodynamically stable children with congenital heart disease, the international panel suggests a transfusion threshold that is based on the cardiac abnormality and stage of surgical repair: 7 g/dL (biventricular repair), 9 g/dL (single-ventricle palliation), or 7 to 9 g/dL (uncorrected congenital heart disease) (conditional recommendation, low certainty evidence).
Conclusions and Relevance  It is good practice to consider overall clinical context and alternative therapies to transfusion when making transfusion decisions about an individual patient.
 

Fonte:
JAMA ; 19(330): 1892-1902; 2024. DOI: 10.1001/jama.2023.12914.