Uso de um aplicativo móvel para reduzir a prescrição de medicamentos potencialmente inadequados para pacientes idosos brasileiros na atenção primária: um ensaio clínico randomizado triplo-cego

Welma Wildes Amorim
Luiz Carlos Passos
Romana Santos Gama
Renato Morais Souza
Pablo Moura Santos
Jéssica Caline Macedo
Hévila Maciel Queiroga
Larissa Gusmão Nunes
Lavínia Mendonça Fraga
Brunna Santos Oliveira
Lucas Teixeira Graia
Marcio Galvão Oliveira
Título original
Using a mobile application to reduce potentially inappropriate prescribing for older Brazilian adults in primary care: a triple-blind randomised clinical trial
Resumo

Uso de um aplicativo móvel para reduzir a prescrição de medicamentos potencialmente inadequados para pacientes idosos brasileiros na atenção primária: um ensaio clínico randomizado triplo-cego
Contexto: A prescrição de medicamentos potencialmente inadequados (MPI) tem sido avaliada em vários países, sendo desenvolvidas várias estratégias para a desprescrição de medicamentos em idosos. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia de um aplicativo móvel para reduzir a prescrição de MPI a pacientes idosos em unidades de atenção primária no Brasil.
Métodos: Este estudo randomizado triplo-cego com grupos paralelos foi conduzido em 22 instalações públicas de atenção primária no Brasil. Durante a fase de intervenção, os médicos de atenção primária foram alocados aleatoriamente ao grupo de intervenção (usando o aplicativo MPI Brasil, que apresenta informações sobre MPI, alternativas terapêuticas e desprescrição) ou ao grupo-controle (usando o aplicativo MedSUS, que apresenta informações gerais sobre medicamentos). Todos os médicos receberam treinamento no Processo de Tomada de Decisões Clínicas e sobre como acessar um site de saúde baseado em evidências. Os médicos receberam um tablet Android com um aplicativo instalado segundo o grupo ao qual foram alocados, que usaram ao atender pacientes idosos durante pelo menos 3 meses. Ao final desse período, entrevistamos uma amostra de pacientes idosos com idade ≥60 anos que aguardavam consulta médica pelos médicos participantes, e analisamos suas prescrições. O desfecho primário foi a frequência de prescrição de MPI nos dois grupos e entre eles.
Resultados: Entre os 53 médicos que responderam ao inquérito inicial, 14 foram incluídos no estudo clínico. Na linha de base, foram analisadas 146 prescrições: a prescrição geral de MPI foi de 37,7% (55/146), sendo de 40,6% (28/69) no grupo de intervenção e de 35,1% (27/77) no grupo-controle. Após a intervenção foram analisadas 284 prescrições: a prescrição geral de MPI foi de 31,7% (90/284), sendo de 32,2% (46/143) no grupo de intervenção e de 31,2% (44/141) no grupo-controle (RR: 1,16; IC 95%, 0,76-1,76). Na análise intragrupo, a prescrição de MPI diminuiu após a intervenção em ambos os grupos, mas mais significativamente no grupo de intervenção do que no grupo-controle (p<0,001). Na análise estratificada da frequência de prescrição de MPI pelos médicos, houve uma redução de 86% (6/7) do risco relativo entre os médicos do grupo de intervenção em comparação com 71% (5/7) no grupo-controle.
Conclusão: Constatamos que o aplicativo MPI Brasil foi eficaz em reduzir a prescrição de MPIs; portanto, pode ser útil incorporar essa ferramenta na prática clínica.
Registro do estudo: O estudo foi registrado em ClinicalTrials.gov (NCT02918643). Primeiro registro em 22/09/2016.
 

Resumo original

Backgound: Potentially inappropriate prescribing (PIP) has been evaluated in several countries, and several strategies have been devised for deprescribing drugs in older adults. The aim of this study was to evaluate the efficacy of a mobile application in reducing PIP for older adults in primary care facilities in Brazil.
Methods: This randomised, triple-blind, parallel-group trial was conducted in 22 public primary care facilities in Brazil. During the intervention phase, the general practitioners (GPs) were randomly allocated to the intervention (MPI Brasil app provides information about PIP, therapeutic alternatives and deprescribing) or control (MedSUS app provides general information about medications) group. All GPs were trained on the Clinical Decision-Making Process and how to access an Evidence-Based Health website. The GPs received an Android tablet with an installed mobile application depending on their allocated group, which they used when caring for older patients over at least 3 months. At the end of this period, a sample of older patients aged ≥ 60 years who had been awaiting medical consultation by the participating GPs were interviewed and their prescriptions analysed. The primary outcome was the frequency of PIP in and between the groups.
Results: Among 53 GPs who were administered the baseline survey, 14 were included in the clinical trial. At baseline, 146 prescriptions were analysed: the PIP overall was 37.7% (55/146), in the intervention group was 40.6% (28/69), and in the control group was 35.1% (27/77). After the intervention, 284 prescriptions were analysed: the PIP overall was 31.7% (90/284), in the intervention group was 32.2% (46/143), and in the control group was 31.2% (44/141) (RR: 1.16; 95% CI, 0.76-1.76). In the within-group analysis, the PIP reduced from before to after the intervention in both groups-more significantly in the intervention than in the control group (p < 0.001). In the stratified analysis of PIP frequency by GPs, there was a relative risk reduction in 86% (6/7) of GPs in the intervention group compared to 71% (5/7) in the control group.
Conclusion: We found that the MPI Brasil app effectively reduced PIP, suggesting that it may be useful to incorporate this tool into clinical practice.
Trial registration: The study was registered at ClinicalTrials.gov (NCT02918643). First registration on 22/09/2016.
 

Revista
Randomized Controlled Trial
Data de publicação
Volume
24
Fascículo
1
doi
10.1186/s12877-023-04645-z.