A cultura de segurança é atualmente considerada um indicador estrutural básico para promover iniciativas que visam a redução dos riscos e da ocorrência de eventos adversos, particularmente em hospitais.
A tradução para o português e validação do questionário HSOPSC para uso no Brasil foi objeto de tese de doutorado de Cláudia Tartaglia Reis, A cultura de segurança do paciente: validação de um instrumento de mensuração para o contexto hospitalar brasileiro, realizada na ENSP/Fiocruz. O estudo foi financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Esse questionário, criado pela Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) dos Estados Unidos em 2004 , foi delineado com o objetivo de avaliar múltiplas dimensões da cultura de segurança do paciente e questiona a opinião de seus respondentes sobre pontos-chave relacionados à segurança – valores, crenças e normas da organização, notificação de eventos adversos, comunicação, liderança e gestão, e toma cerca de 10 minutos para ser preenchido. A versão do instrumento original pode ser encontrado em www.arhq.com.
O HSOPSC possibilita avaliar a cultura de segurança a nível individual, por unidade/setor hospitalar e do hospital como um todo. São elegíveis a responder o questionário os profissionais que têm contato direto ou indireto com os pacientes, e que despendem a maior parte de suas horas de trabalho no hospital (no mínimo 20 horas), não se restringindo exclusivamente aos profissionais de saúde. Ele oportuniza diversos usos: (i) identificar áreas cuja cultura necessita melhorias; (ii) avaliar a efetividade de ações implementadas para melhoria da segurança ao longo do tempo; (iii) possibilitar benchmarking interno e externo, auxiliando a organização a identificar como sua cultura de segurança difere da cultura de outras organizações e (iv) priorizar esforços de fortalecimento da cultura, identificando suas fragilidades. Ele é considerado um instrumento válido, confiável, eficiente e um dos instrumentos mais utilizados mundialmente para mensurar cultura de segurança do paciente.
As definições de cada uma das dimensões mensuráveis pelo HSOPSC, descritas a seguir, auxiliam a uma melhor compreensão da avaliação da cultura de segurança do paciente:
• Expectativas e ações de promoção de segurança dos supervisores/gerentes: avalia se os supervisores e gerentes consideram as sugestões dos funcionários para melhorar a segurança do paciente; reconhece a participação dos funcionários para procedimentos de melhoria da segurança do paciente.
• Aprendizado organizacional e melhoria contínua: avalia a existência do aprendizado a partir dos erros que levam a mudanças positivas e a avalia a efetividade das mudanças ocorridas.
• Trabalho em equipe dentro das unidades: define se os funcionários apoiam uns aos outros, tratam uns aos outros com respeito e trabalham juntos como uma equipe.
• Abertura da comunicação: avalia se os funcionários do hospital conversam livremente sobre os erros que podem afetar o paciente e se eles se sentem livres para questionar os funcionários com maior autoridade.
• Retorno das informações e da comunicação sobre erro: avalia a percepção dos funcionários no hospital se eles notificam os erros que ocorrem, se implementam mudanças e discutem estratégias para evitar erros no futuro.
• Respostas não punitivas aos erros: avalia como os funcionários se sentem com relação aos seus erros, se eles pensam que os erros cometidos por eles possam ser usados contra eles e mantidos em suas fichas funcionais.
• Adequação de profissionais: avalia se os funcionários são capazes de lidar com sua carga de trabalho e se as horas de trabalho são adequadas para oferecer o melhor atendimento aos pacientes.
• Apoio da gestão hospitalar para segurança do paciente: avalia se a administração e gestão do hospital propiciam um clima de trabalho que promove a segurança do paciente e demonstra que a segurança do paciente é prioritária.
• Trabalho em equipe entre as unidades: avalia se as unidades do hospital cooperam e coordenam-se entre si para prover um cuidado de alta qualidade para os pacientes.
• Passagens de plantão/turno e transferências internas: avalia se informações importantes sobre o cuidado aos pacientes é transferida através das unidades do hospital e durante as mudanças de plantão ou de turno.
• Percepção geral da segurança do paciente: avalia os sistemas e procedimentos existentes na organização de saúde para evitar a ocorrência de erros e a ausência de problemas de segurança do paciente nos hospitais.
• Frequência de eventos notificados: relaciona-se com o relato de possíveis problemas de segurança do paciente e de eventos identificados ou erros percebidos e corrigidos antes que esses afetassem o paciente.
A cultura de segurança, através da aplicação do HSOPSC, é avaliada através do percentual de respostas positivas obtido nos itens e em cada dimensão. A AHRQ disponibiliza um manual para o usuário do questionário, orientando sobre a sua utilização: http://www.ahrq.gov/sites/default/files/wysiwyg/professionals/quality-patient-safety/patientsafetyculture/hospital/userguide/hospcult.pdf
Acesse também os artigos Adaptação transcultural da versão brasileira do Hospital Survey on Patient Safety Culture: etapa inicial, de Claudia Tartaglia Reis, Josué Laguardia e Mônica Martins, e Confiabilidade e validade da versão brasileira da Pesquisa sobre Cultura de Segurança do Paciente em Hospitais (HSOPSC): um estudo piloto, de Cláudia Tartaglia Reis, Josué Laguardia, Ana Glória Godoi Vasconcelos e Mônica Martins, publicado em novembro 2016 nos Cadernos de Saúde Pública, e que deve ser citado por quem utilizar a versão do questionário traduzida.