Por Isis Breves | Publicado em 24/11/2016
No dia 20 de outubro aconteceu o 1º Encontro Científico do Choosing Wisely Brasil, como parte da programação do II Congresso Brasileiro de Médicos Hospitalistas. Choosing Wisely é uma iniciativa que destaca a relação entre a qualidade do cuidado, a variação injustificada na oferta de procedimentos e as iniciativas para a redução da sobreutilização desses procedimentos. É um movimento que acontece em diversos países e que teve início no Brasil em janeiro. Recentemente, o Portal Proqualis fez o lançamento da página Choosing Wilsey Brasil como canal de divulgação oficial da iniciativa no país.
O Proqualis entrevistou o médico hospitalista Paulo Fabricio Nogueira Paim, organizador do evento para falar sobre a proposta de apresentar a iniciativa Choosing Wisely Brasil no Congresso Brasileiro de Médicos Hospitalistas.“O maior legado para a sociedade médica e sociedade leiga foi o diálogo que trazia como foco central o paciente”, resume Paulo Paim que é Coordenador do Programa de Medicina Hospitalar e Diretor Clínico do Hospital da Cruz Vermelha Brasileira onde também é preceptor da residência de Clínica Médica, é também Coordenador do Serviço de Cuidados Paliativos e Controle de Sintomas do Hospital São Vicente FUNEF e atual presidente da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar. Confira:
Proqualis - No editorial da apresentação do 1º Encontro Científico do Choosing Wisely Brasil, você diz que “a velocidade do desenvolvimento contínuo dos sistemas de saúde, das tecnologias assistenciais e dos modelos operacionais no ambiente hospitalar, faz com que tenhamos que evoluir na mesma velocidade para aprimorarmos modelos que resultem em maior segurança para os pacientes e melhor qualidade assistencial, sempre unindo os conhecimentos médicos multidisciplinares que concentrem esta complexidade sem perder o foco principal que é o humanismo e a boa práxis, resultando em eficiência e eficácia” . Nesse sentido, como avalia a repercussão na prática médica desse evento?
Paulo Paim- Há dois anos atrás, quando nós, os médicos hospitalistas, começamos a organizar o evento, realmente não fazíamos ideia que seriamos anfitriões de movimentos tão importantes para a revisão de paradigmas do pensamento médico universal. Que iríamos colaborarnão apenas para as costumeiras atualizações cientificas, mas também e principalmente para os calorosos e reflexivos debates, discutindo a complexidade da medicina e suas interfaces, e desenhando estratégias para uma racionalidade mais madura e evoluída, com menos chances de erros evitáveis e maior atenção aos danos quaternários. Verificamos o engajamento e a presença maciça em sua maioria de médicos generalistas: Médicos de família e comunidade, médicos hospitalistas e médicos emergencistas, mas também havendo um número importante de outras especialidades, lideranças médicas e gestores vindos de todo o Brasil. Presenciamos lideranças mundiais como o médico protagonista do movimento Slow Medicine Italy Marco Bobbio, e o médico hospitalista co-fundador da Society of Hospital Medicine John Nelson, e personalidades de diversas universidades e instituições brasileiras voltadas para a segurança hospitalar em busca das melhores práticas assistenciais e da construção de um novo momento na medicina, foi incrível. Acho que este foi o grande saldo do evento. Foi transformador, pois despretensiosamente o evento encaminhou-se como marco ideológico para o pensamento médico em nosso meio.
Proqualis - Qual o balanço que você faz do evento, em termos de novas listas que serão elaboradas a partir do que foi discutido? O que podemos esperar de novidade para o CWB?
Paulo Paim - O lançamento oficial da iniciativa Choosing Wisely Brasil foi um sucesso. Seus líderes a nível nacional são os médicos Guilherme Brauner Bracellos, Luis Cláudio Correia e Gustavo Gusso. Os principais apoiadores, assim como a Proqualis da Fiocruz, mostraram-se bastante satisfeitos com o impacto. Muitas sociedades de especialidades enviaram seus membros para debaterem amplamente o tema e levarem as iniciativas para o seio de suas entidades, com a finalidade de deflagrar uma grande onda de reflexões em relação ao sobreuso de recursos diagnósticos e terapêuticos e seus impactos quaternários. O maior legado para a sociedade médica e sociedade leiga foi o diálogo que trazia no foco central o paciente. Até aquele momento havia apenas a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade com suas listas já publicadas. Atualmente, o CWB está recebendo semanalmente a adesão de novas entidades e sociedades médicas, como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e o Instituto Brasileiro para a Segurança do Paciente, como também recebendo relatórios de iniciativas independentes de hospitais que debaterão e publicarão suas listas internas envolvendo todas as especialidades e serviços. Nos próximos meses com certeza o CWB terá um grande volume de adesões. Sendo assim, ainda vislumbro bastante trabalho pela frente de toda sociedade organizada. E as grandes novidades que esperamos são então as listas que estão ainda por vir, que com certeza beneficiarão a todos nós.
Proqualis - De que maneira você vê a iniciativa CWB ser incorporada no SUS? Há alguma aproximação com o Ministério da Saúde em seus programas?
Vejo o CWB assim como os movimentos CW internacionais mostrando um posicionamento totalmente isento em relação a questões políticas, autárquicas, regulatórias ou a quaisquer grupos ideológicos ou agremiações que não estejam representando a melhor prática assistencial e a medicina baseada em evidências como substrato de racionalidade. E por representar uma provocação ao pensamento autômato, vejo também aberto a contraposições e críticas. Sendo assim, acredito que pacientes, familiares, sociedade organizada e inclusive governos de forma indireta podem beneficiar-se de escolhas sábias em saúde, desde que estas sejam advindas e formalizadas após o extenso debate entre as equipes assistenciais, especialistas e entidades representativas. A simples e indispensável presença de médicos generalistas, , chamados médicos hospitalistas, em nível ambulatorial, e o cuidado de pacientes hospitalizados por esses profissionais também são escolhas sábias do sistema que reduzem o dano quaternário e otimizam os resultados institucionais. As escolhas sábias estão em todos os lugares quando analisamos os cenários a nossa volta. Talvez por isso a aproximação natural de médicos de família e médicos hospitalistas à iniciativa CWB e a outros movimentos reflexivos como o Slow Medicine. Todos foram aglutinados por uma logos ligada a revisão do pensamento e dos processos, e a uma maior aplicação da racionalidade médica e da comunicação com foco único e exclusivo no paciente. Um momento de revisar o comportamento autômato que impregna as relações das pessoas, afetando pacientes, familiares, equipes assistenciais, médicos e gestores. Respondendo definitivamente à pergunta: Todos incorporaremos as reflexões trazidas pela iniciativa CWB em nossas decisões em saúde, do SUS a saúde suplementar, dos médicos aos não médicos. Pois o que é pensado e repensado acumula menor chance de erro humano. E o que é o CW, além de um inteligente, poderoso e simples instrumento de metacognição destinado a desarmar heurísticas em prestadores e tomadores de serviços e produtos em saúde, devido aos riscos mostrarem-se maiores que os benefícios, ou mesmo fúteis. Termino ressaltando que somente após o amplo debate dentro das sociedades de especialidades, das escolas médicas, das escolas de profissionais assistenciais e em suas sociedades de classe, das associações de pacientes e cidadãos, e da sociedade organizada como um todo é que estas culturas serão percebidas em resultados quantitativos e qualitativos no meio social.
Choosing Wisely é uma iniciativa que destaca a relação entre a qualidade do cuidado, a variação injustificada na oferta de procedimentos e as iniciativas para a redução da sobreutilização desses procedimentos. É um movimento que acontece de diversos países e que está dando início no Brasil. O Portal Proqualis fez o lançamento recentemente da página Choosing Wilsey Brasil como canal de divulgação oficial da iniciativa no país.